Nem tudo a gente esquece

Costurando retalhos, Maria do Socorro Diniz, na sua obra de estreia no universo dos livros, constrói uma colcha multicolorida, recordando fatos marcantes da sua vida, numa escrita agradável, leve, boa de ler e se maravilhar. Literatura é remédio e é resistência, diz o historiador Leandro Karnal, na apresentação do livro A Literatura como Remédio, do professor Dante Gallian. E arremata: livros, quando não queimados por ditadores, incendeiam leitores.
Foi ótima a impressão que tive quando comecei a ler os originais de Nem Tudo a Gente Esquece. Li-os de um só folego. A dinâmica da narrativa e os acontecimentos que se sucedem, nos mínimos detalhes, demonstram que a escritora pouca coisa esqueceu ao longo da sua vida. Como Arquimedes, o gênio da Grécia Antiga, Maria do Socorro Diniz mantém sempre acesa a sua lanterna, não em busca de políticos honestos, tão poucos, mas na busca da verdade mais cristalina, clara, precisa.
Nada escapa à sua lembrança. O pé de serra do semiárido nordestino, na Paraíba, onde nasceu, passando pelas grandes dificuldades na infância pobre e na adolescência itinerante, cheia de medos, inquietações, insegurança e solidão, nada impediu o seu crescimento intelectual, ao contrário, desenvolveram nessa inquieta personagem um forte componente humanístico, adquirido pelas práticas da resistência ao ordinária e principalmente, ao arbítrio, isso já no Rio de Janeiro, no início da década de 70. Tempos difíceis e sombrios, que moldaram a sua solida formação intelectual e humana.
Proust dizia que a verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas terras, mas sim, procurar novas formas de enxergar as terras já existentes. Maria do Socorro conseguiu enxergar longe, a contemplação da serra, em Nova Friburgo, moldando atividades lúdicas, o retorno ao Rio de Janeiro, com novos desafios educacionais e, finalmente, a chegada, triunfante, a Aracaju.
A Sobrames Sergipe nos deu a possibilidade do encontro. Apresentado pela colega Déborah Pimentel, o médico psiquiatra e psicoterapeuta Paulo Solti passou a integrar o sodalício. Ele então nos trouxe de presente, a querida Maria do Socorro Diniz e o casal passou a ser presença constante nos nossos eventos culturais e artísticos. A dupla chegou a integrar a nossa comitiva (da Federação Brasileira de Academias de Medicina) que excursionou em 2017 pela Europa, na audiência com o Papa Francisco, no Vaticano, a visita protocolar à Academia Nacional de Medicina da França, em Paris e a histórica visita ao Hospital Karolinska, em Estocolmo, na Suécia. No maio do ano seguinte, estávamos novamente juntos no Sarau Espelho D’Água, que realizamos em Lisboa. A convivência e a proximidade nos fazem conhecer melhor as pessoas. Por isso, foi com um misto de orgulho e satisfação, que recebi o convite para estar presente no seu livro e entrar de cabeça na história dessa paraibana, carioca e sergipana.
Após sucessivos adiamentos em função da pandemia, finalmente a obra será lançada virtualmente, no dia 30 de abril de 2021, às 19 horas, pela plataforma ZOOM, com a coordenação da Sobrames. É essa vida guerreira, corajosa, dedicada e vitoriosa de Maria do Socorro Diniz, que encontramos em Nem tudo a Gente Esquece.
Por isso, vale muito a leitura.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais