Sexta feira passada fui fazer uma matéria com o artista plástico Leonardo Alencar. Sua
casa/atelier cheia de livros e quadros, fica na rua Arauá, no centro de Aracaju. O tema
era justamente a sua vivência no centro da cidade.
Na década de 50, quando tinha seis anos de idade, sua família veio morar em Aracaju e se
instalou na Praça Fausto Cardoso, na época um dos endereços mais cobiçados da capital.
Também pudera, era ali que tudo acontecia. Os hidroaviões amerissavam no Rio Sergipe e
os passageiros desembarcavam pela Ponte do Imperador. De lá, muitos rumavam para os dois
hotéis mais elegantes do centro, o Rubina e o Sul Americano. A casa de Leonardo ficava
entre os dois.
Na Fausto Cardoso aconteciam também as chamadas “retretas”, com as bandas de música
disputando a atenção das mocinhas da classe média, que depois de um sorvete na Yara iam
ver as vitrines das lojas da rua João Pessoa.
Leonardo tem saudade desse tempo. Tempo de pular no trampolim da Ponte do Imperador nas
águas limpas do rio Sergipe, de ouvir os poetas na casa de Freire Ribeiro, de ir pra
matinê do Rex (segundo Leonardo, o dono do cinema mudava o filme em cartaz quando bem
entendia, bastava assistir umas duas vezes e enjoar).
Mas Leonardo não é um saudosista ranzinza. Entende a frivolidade dos novos tempos,
entende (e até se diverte) com a superficialidade das novas gerações.
Mas defende o acesso dessas mesmas gerações às historias da nossa cidade e da nossa
gente, não como um sentimento xenófobo de auto-proteção ou conservadorismo, mas como
elemento legítimo de aprendizado cultural, de pertencimento a algo menos impessoal e
genérico que à raça humana.
Na casa de Leonardo a gente se sente um pouco assim, longe das senhas de acesso e
cercado de vizinhos e comadres. Livre da impessoalidade dos elevadores sociais e com
saudade de uma gentileza, hoje tão difícil de se ver, quanto esse bendito gol de
Romário.