No Escurinho Com Zenóbia

 


Lisboa, 16 de março de 2008


Caros amigos de Sergipe


Esta semana fiz um programa que remonta aos meus tempos de namoro com Zenóbia, minha
patroa sexagenária. Bati uma sarapitola e fui ao cinema.
Quando a referida cachopa ainda não havia se transformado nesse verdadeiro poço de
obesidade, nutríamos o saudável hábito de freqüentar as salas de projeção à guisa de
apreciar a macheza de uma Gene Kelly ou o charme sensual de um Amacio Mazzaropi. Bons
tempos aqueles dos ânus, digo, anos de ouro do cinema.
Definitivamente, não se faz mais filmes como antigamente. O que vimos, pelo amor de Deus,
melhor assistir uma partida de xadrez entre Huguinho e Zoroastro.
Não sei se foi por causa do Lexotan que lhe pus diluído no Kombo ou pela monotonia do
filme dos irmãos Coen, o fato é que Zenóbia caiu num sono profundo no meio da projeção e,
de repente, começou a roncar.
Quando lhes falo em roncar, amigos, refiro-me a algo profissional. Lembram do Leão da
Metro? Ele perde feio.
O sono dela era tão pesado, que nem à bofetada a acordei. Comecei a ficar preocupado com
a minha integridade física, afinal com ela fora de si, só sobrava a mim para receber os
xingamentos que já começavam a ser dirigidos à minha cinéfila pessoa. Mais que depressa,
embrenhei-me por baixo da poltrona e, qual uma arraia mijona fugindo do predador, fui
parar muitas filas atrás onde afundei discretamente numa poltrona para todo o sempre.
Minha intenção era ficar ali pelo menos até o natal. Ocorre que com a enxurrada de
objetos que começaram a atirar na minha consorte, ela acabou acordando e chamando por
mim. À sua volta encontrei bolinhas de papel, chaveiros promocionais, isqueiros zipo e
até uma graviola, pasmem os senhores! (por que diabos uma pessoa levaria uma graviola
para uma sala de cinema? É o que vos pergunto).
Acontece que ao despertar Zenóbia deu por falta das suas sandálias. Acho que alguém com
raiva, as chutou para bem longe. Pronto, estava armada a confusão.
Zenóbia levantou-se a procurar as benditas chinelas de poltrona em poltrona criando ainda
mais alvoroço naquela já conturbada sessão de cinema.
Uns mostravam sapatos, outros diziam gracejos, outros ainda pediam para todos calarem a
boca. Imaginem a minha situação, meus amigos. Não podia ficar contra ela, afinal sou o
seu esposo, mas também defendê-la seria suicídio. Que dilema, meus amigos, que dilema.
Na confusão, atirei o extintor de incêndio na cabeça do lanterninha e no desmaio deste,
roubei a sua roupa de trabalho. Com meu novo uniforme e uns óculos escuros que achei no
chão, tentei botar ordem na casa.
-Todo mundo nu. Ninguém é de ninguém! Ordenei.
Nisso, chega a gerência e uma equipe de seguranças. Algazarra total. O pessoal aponta
para mim e pra Zenóbia, como sendo os causadores da balbúrdia.
Temendo uma detenção por perturbar a ordem pública fujo com a patroa sexagenária pela
saída de emergência e aciono os extintores pra criar uma nuvem de fumaça no ambiente.
Conseguimos sair ilesos. Zenóbia perdeu as sandálias, mas não a pose. Saiu do shopping no
salto. O Ivan Valença é que está certo, cinema ainda é a maior diversão.


Ate semana que vem.

Um abraço do

Apolônio Lisboa

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais