NO T”AI CHI DO TIO FLORÊNCIO

Cartas do Apolônio

 

 

Cascais, 25 de novembro de 2005

 

Caros amigos de Sergipe:

 

Estou encantado com as maravilhas curativas do T’ai Chi Chuan. A mais nobre das artes marciais curou completamente o Tio Florêncio, velho ancião da terceira idade, que todo mundo na nossa família julgava imprestável.

O tio sofria de bursite, artrite, tendinite e, praticamente, todas as doenças terminadas em ‘ite’. Depois que conheceu o grande mestre Ni Kou Lau – inacreditável! – ficou bom de tudo. Desde então tenho me interessado pelo assunto. Fui convidado para participar de uma aula e voltei empolgado.

Quem assiste a uma aula de T’ai Chi tem a falsa impressão de que se trata de um bando de exibidos ‘viajando’ no meio da rua. Nada mais equivocado. Eles são é malucos mesmo!

Conheci um que só se alimenta de água de arroz há 13 anos e quer chegar aos píncaros da glória espiritual se nutrindo de luz solar e praticando segundo ele ‘as maravilhas da urinoterapia’. Deve ser uma beleza!

Outro diz que mantém contato com o povo de um planeta distante localizado numa improvável galáxia a milhões de anos luz da terra. Jura que num desses contatos foi seduzido por Drusa, uma reboculosa alienígena que lhe iniciou nas artes do amor em seu planeta. Deste idílio intergaláctico (aliás põe intergaláctico nisso!) teria nascido uma linda menina. O cara teme ação de reconhecimento de paternidade na justiça interplanetária. Não dorme há meses.      

  Mas, exceto pelas esquisitices de cada um, o pessoal do T’ai Chi á agradável e muito receptivo. Alguns são casados, dirigem seus carros (mal, é verdade, mas dirigem) e outros –pasmem os senhores – até vão à praia como qualquer mortal.

Pois bem, chegando à aula, fomos levados a fazer a chamada ‘meditação sentada’ antes do aquecimento. É verdade que eu não consegui elevar o pensamento, pois a loura que estava na minha frente era sensacional. O que se elevou foi outra coisa.

Mesmo assim, procurei me esmerar no movimento de ‘reverenciar a humanidade’, um dos mais difíceis de se executar, posto que consiste em levar às mãos ao peito em semi-círculo. Uma dificuldade suprema!

Consegui fazer todos os movimentos, sobretudo o enigmático ‘levar o tigre à montanha’, ainda que continuasse com a idéia fixa de ‘levar a loura ao motel’. O fato é que após a aula senti-me profundamente relaxado e com uma agradável sensação de plenitude interior. Também pudera, meus amigos, o tratamento do Motel Nirvana é mesmo de primeira.

O lamentável apenas é que depois de me apresentar às maravilhas do T’ai Chi Chuan, o Tio Florêncio tenha me pedido para fotografá-lo praticando o T’ai Chi devidamente trajado com espada e paramentos em plena praça central de Cascais.        

Como a cena estava chamando muita atenção dos passantes, propus que fôssemos a um lugar mais discreto para fazermos as tais fotografias. 

Como em nossas casas não havia tranqüilidade para a concentração que os movimentos exigem, acabei levando também o velho tio ao Nirvana, onde aproveitamos a promoção da diária fracionada no almoço executivo.

Até hoje os funcionários me olham de lado, pensando tratar-se de dois velhos paneleiros com fantasias sexuais inspiradas no antigo Oriente.

Preciso restaurar a minha boa reputação. Urge voltar ao local do crime com a aquela loura fenomenal. Já sei! Vou convidá-la a conhecer os mistérios do maravilhoso ‘bundismo tibetano’.  

 

 

Até semana que vem

 

Um abraço do

Apolônio Lisboa.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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