Nós queremos a Copa

Repercute mal a informação divulgada pelo Ministério do Esporte de que o valor gasto para a construção dos 12 estádios da Copa do Mundo no Brasil é 66% maior que o previsto na Matriz de Responsabilidades assinada com a Fifa em 2010. Em valores absolutos, o orçamento subiu de R$ 5,3 bilhões para R$ 8,9 bilhões — incluindo os estádios privados bancados pelos clubes, mas financiados com dinheiro do BNDES, que já emprestou R$ 871,9 milhões aos donos dos times de futebol.
Isso levanta a suspeita de superfaturamento das obras, uma prática “cultural” muito brasileira inscrita no rol das coisas aparentemente incorrigíveis desse simpático país da corrupção e da impunidade. O Ministério do Esporte confirma os números mas não a conta, que incluiria outros gastos.

Como estamos num país onde é livre a manifestação do pensamento, o coordenador técnico da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira, atacou recentemente dizendo que houve grande descaso com o evento esportivo. Lembrando os aeroportos que só serão licitados agora, às vésperas da Copa do Mundo, citou obras que deveriam ser um legado após o mundial de futebol e que só ficarão prontas a partir de 2016. “Perdemos a oportunidade de dar conforto e mostrar um Brasil diferente", afirmou. “Vejo que vão licitar aeroporto como Galeão, Cumbica em março, a três meses da Copa. Isso é uma brincadeira, fomos indicados faz sete anos e vão licitar agora?”

O ex-jogador e deputado Romário engrossou o coro em um vídeo que se tornou viral na internet, no qual ataca a Fifa e alega que a Copa brasileira custará cerca de três vezes mais do que as anteriores — número contestado pelo Comitê Gestor da Copa do Mundo de 2014. "A África do Sul teve um gasto de R$ 7,7 bilhões, o Japão de R$ 10,1 bilhões, a Alemanha de R$ 10,7 bilhões e o Brasil já está em R$ 28 e alguma coisa (bilhões). Ou seja, desculpe a expressão, mas que sacanagem. É sacanagem com o dinheiro do povo. Falta de respeito e escrúpulos", disse o deputado, tetracampeão em 1994.
E o pentacampeão Rivaldo foi ainda mais dramático: "Nós já sabíamos que isso aconteceria", disse. "Falei outras vezes que o Brasil não tem condições de fazer a Copa do Mundo. Vai ser difícil, o Brasil vai passar vergonha".

A comparação entre países é complicada por uma série de razões, como explicou para a BBC Brasil Holger Preuss, professor de Economia do Esporte na Johannes Gutenberg-University, na Alemanha, que estudou o impacto econômico das duas últimas Copas. Para começar, nem sempre os governos realizadores dos eventos disponibilizam seus gastos. "E mesmo que o façam, a prestação de contas não é padronizada, o que dificulta a comparação", diz Preuss.

Recentemente, a Rússia anunciou que seus gastos para o evento de 2018 devem ficar em mais de R$ 45 bilhões, por exemplo – e no caso russo, a lista de projetos também inclui obras de infraestrutura básica e mobilidade urbana.
"É preciso ver quais obras foram incluídas nos gastos de outros países. No caso do Brasil, o valor ficou alto porque incluímos essas obras de infraestrutura e mobilidade urbana que iriam ser feitas com ou sem Copa e ficarão como um legado para a população", defende Luis Fernandes, secretário-executivo do Ministério do Esporte e integrante do CGCopa.
Megaeventos esportivos, como a Copa 2014 e as Olimpíadas do Rio em 2016, são catalisadores de aceleração dos investimentos em áreas cruciais que normalmente não ocorrem. A promoção de grandes eventos esportivos tem sido a estratégia de diversos países para atrair a atenção internacional e os benefícios econômicos desses eventos justificam o esforço e o gasto público para sediá-los. E depois de terminado um evento como a Copa, os investimentos em infraestrutura continuam beneficiando os brasileiros. Ou alguém vai contestar os benefícios advindos com a melhoria dos aeroportos, da infraestrutura urbana e até dos estádios?

Entre exemplos bem sucedidos na realização de grandes eventos destacam-se os Estados Unidos, com os Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles, e em Atlanta 1996, além da Espanha que sediou o evento em 1992. Ambos os países conseguiram ganhos econômicos como saldo da realização desses eventos esportivos. No caso da Copa do Mundo, a Alemanha em 2006, e novamente os Estados Unidos em 1994, são os melhores exemplos de sucesso.

Os Jogos Olímpicos de Los Angeles, nos EUA,  são considerados os mais bem sucedidos de toda a história da competição, com um lucro de aproximadamente US$ 250 milhões. Amplas parcerias com a iniciativa privada e um bom retorno com a comercialização dos direitos de transmissão pela TV, venda de ingressos e produtos relacionados ao evento estão entre os vários fatores apontados pelos especialistas.

Na Espanha em 1992, os jogos de Barcelona totalizaram um lucro de aproximadamente US$ 5 milhões segundo estimativas feitas após o evento. Uma cifra pequena, quando comparada aos bilhões investidos durante anos para viabilizar a estrutura necessária para receber os jogos. Mas o ganho para a população de Barcelona, com a recuperação de áreas degradadas da cidade, como a região portuária, melhoria do sistema de transportes e ganho de qualidade de vida, entram na categoria do chamado ganho intangível, aquele que é visto e sentido pelas pessoas, mas que é difícil de ser mensurado em retorno financeiro direto para o caixa da organização.

Além disso, o incremento com o turismo na cidade e nas regiões próximas continua movimentando até hoje a economia local, mesmo com a forte crise financeira que afeta a Espanha. Para o bem ou para o mal, a Copa do Mundo coincide com ano eleitoral no Brasil e os ânimos acirrados dificultam encarar a realidade na esportiva. Mais do que um desejo incontestável da maioria dos brasileiros, e apesar dos gastos e dos atrasos, a Copa do Mundo será uma chance para alavancar o Brasil, segundo os especialistas. O melhor exemplo talvez esteja na explosão da construção civil, com a construção e melhoria de hotéis, estádios, aeroportos e acessos criando empregos e, consequentemente,  gerando renda, consumo e melhora da economia do país.

Além desses pontos, o evento também promove o crescimento cultural, principalmente daqueles que passarão por treinamentos para trabalhar na Copa, e gera oportunidade de negócios para o Brasil, pois movimenta o turismo e impulsiona setores da iniciativa privada, como o comércio.

A presidenta Dilma Rousseff está certa quando diz que é uma visão pequena do Brasil não perceber a importância que a Copa do Mundo tem para o povo brasileiro. Principalmente pela importância que o futebol tem para o nosso povo.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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