Nossas relações internacionais comprometidas

Como alguns sabem, o cinema é um artefato, produto, que tenta trazer um diálogo entre culturas distintas. A técnica cinematográfica é sempre importada em países considerados pobres, tal como o nosso. É por conta disso que temos sempre que falar de filmes, séries, produtos audiovisuais dentro de uma esfera internacionalizada – mesmo quando tentamos falar de filmes chamados nacionais. Há várias razões para isso, além da técnica.

Na medida que conseguimos ter mais e mais filmes produzidos, é possível que uma ilusão momentânea de um desenvolvimento das estruturas empregatícias deste setor apareça. É assim que temos também, vez em quando na história, uma crença de que estamos, finalmente, produzindo nossas imagens fora do campo da publicidade.

Mesmo com essa premissa, nosso setor de produção cinematográfica ainda passa por uma das priores espécies de necessidade. Não apenas de quadros formados, estes que proporcionam mais ressonância em outros setores da sociedade. Mas, principalmente, de compreensões e consciências que façam relações com os acontecimentos que são comuns a nós e nossas questões – e com a recepção de questões de outros países.

Uma dessas questões que nos permitem afirmar isso é uma situação completamente distinta entre as regiões do Brasil, principalmente entre as regiões Sul-Sudeste e a Norte-Nordeste-Centroeste. São conjunturas culturais e econômicas – interpessoais. E completamente diferentes entre elas.

Se não existe uma compreensão da precariedade da produção geral, primeiro, e da pauperização programada das regiões mais ao norte do país, não saímos do patamar de debates que sempre estivemos. Este patamar resume-se a uma produção parca e com pouca ressonância social e internacional, e, principalmente, a uma falta de compreensão do poder que existe na criação de imagens locais fora da publicidade.

Pelo mundo, cinemas Iranianos, egípcios, nigerianos, até taiwaneses hoje, podem nos dar o exemplo de que, mesmo com a pauperização do setor e das técnicas de produção cinematográfica é possível existir um tipo de “cultura de produção”. É necessário dizer que não existe um “modelo de produção” em países pobres. Pelo contrário, existem modelos diferentes. Mas há cultura, há debates, há exibições, prêmios internacionais, venda desses produtos pelo mundo.

A nós, é preciso ao menos encarar esse problema: nossa possibilidade de diálogo com o mundo. Se não fazemos isso, perdemos a possibilidade da conversa (comercialização de produtos, de textos, exibição, debates, etc.) com outros países. É certo que existem pessoas, diretores, produtores, com certa renda no Brasil, que possibilitam aos mesmos uma facilidade maior de realização de filmes com este interesse. Mas a visão, ou melhor, o ponto de vista das realizações precisa vir de outros lugares da sociedade – não somente dos que têm renda.

Se o cinema, ou o audiovisual, não mostra a realidade mais profunda de nossas questões, não conseguimos um bom diálogo internacional sobre nosso lugar angustiante atual. Entre instituições, entre indivíduos, entre etnias, entre sociedades. O ponto de vista tem necessidade, também, de vir dos campos mais estranhos, menos considerados, mais afastados da compreensão oficial (oficialesca, oficializada) da cultura brasileira. Assim se entende tanto o próprio país, quanto a nossa possibilidade de diálogo entre pessoas.

Por fim: se não dialogamos com sinceridade sobre nossa realidade, nos fechamos. Nos tornamos um país retrógrado, muito mais distante das distintas realidades de outros países, pauperizado intelectualmente e culturalmente, tacanho em ideias, em opiniões. Atualmente, podemos dizer: existe esse perigo.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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