Sergipe tem, em sua galeria de gente ilustre, alguns nomes vinculados, profissionalmente, ao magistério e que cumpriram certas e determinadas funções, em vários Governos, contribuindo para um debate permanente em torno da educação. O médico Helvécio de Andrade, o professor José de Alencar Cardoso, o professor Abdias Bezerra, o professor e poeta Artur Fortes, o professor e advogado Carvalho Neto, o padre, professor e depois advogado José Augusto da Rocha Lima, o professor e magistrado Manoel Cândido Pereira, o professor Franco Freire, são alguns dos mais acreditados dirigentes do sistema de ensino sergipano. Quase todos tiveram a mesma responsabilidade de missões culturais e científicas em São Paulo, estabelecendo a conexão reformista da educação. Sergipe, como o Espírito Santo, o Rio Grande do Norte e alguns outros Estados sintonizava as suas preocupações pedagógicas com o Estado de São Paulo, tirando proveito das influências norte americana que predominavam, nas primeiras décadas do século XX, na capital paulista. Parte das transformações, como a criação dos Grupos Escolares, da Escola Modelo junto à Escola Normal, da instalação do curso de Comércio, decorre dos contatos feitos por tais professores, em nome do Governo. A eles se juntam, mais tarde, outros mestres, com escritos dedicados ao mesmo tema da educação, como José Calasans, Nunes Mendonça, Maria Thétis Nunes, para citar três dos mais influentes intérpretes do ensino em Sergipe, com obras fundadoras da bibliografia especializada. Três grandes professores, no Ateneu e na Escola Normal, comparáveis aos maiores que aquelas duas escolas tiveram, desde que foram criadas, ainda na década de 1870. José Calasans mudou para a Bahia, deixando aqui um pedaço bem vivido de sua existência, como agente de cultura, a serviço de causas que levou, pela vida afora, como um compromisso com Sergipe. Estudou Silvio Romero, Clodomir Silva, Costa Filho, os personagens da guerra de Canudos, a verve dos sergipanos, Aracaju, outros temas de Sergipe, produzindo textos específicos sobre educação. Na Bahia continuou glorificando sua biografia, ocupando a direção de órgãos culturais, tomando assento na Cadeira da Academia Baiana de Letras, ensinando na Universidade e produzindo obras que enriqueceram a bibliografia brasileira, especialmente aquelas dedicadas a Canudos e ao Conselheiro. Nunes Mendonça mesclou as suas atividades no magistério da Escola Normal com o jornalismo e a política, mas teve tempo de construir uma obra que, aos poucos, vai sendo redescoberta. Nunes Mendonça – um escolanovista sergipano, (Aracaju: Editora UFS/Fundação Oviêdo Teixeira, 2003), de autoria da professora, também nascida, como ele, em Itabaiana, aprofunda os estudos sobre essa controvertida figura da cultura sergipana. Ao mesmo tempo em que fez o lançamento do livro sobre Nunes Mendonça, a Universidade promoveu uma semana de História, dedicada ao exame da historiografia de Maria Thétis Nunes, o que corresponde a um reconhecimento explicitamente público, ainda em tempo de fazer justiça a uma mulher desassombrada, que soube enfrentar com coragem e altivez as dificuldades próprias do meio. O livro sobre Nunes Mendonça tem, também, o sentido de tributar homenagem a um mestre marcado pelos confrontos. A autora faz todo o esforço para não conotar a sua obra com a paixão do tempo, que ainda divide as opiniões. O que não há como negar é o preparo intelectual, a sensibilidade, a capacidade crítica, o engajamento de Nunes Mendonça, como um dos mais brilhantes intelectuais do seu tempo. A autora vai além ao vincular o nome do mestre ao movimento da Escola Nova, que pelos anos de 1920 em diante marcou a educação brasileira, revelando Anízio Teixeira, da Bahia, Fernando de Azevedo, de São Paulo, Lourenço Filho, do Ceará, Francisco Campos, de Minas Gerais, e outros líderes que transformaram o ensino brasileiro. Josefa Eliana Souza, que acumula a experiência de professora das redes estadual e municipal de ensino de Aracaju, tem já em seu favor trabalhos que revisitam administrações municipais, como a de José Conrado de Araújo e dos demais prefeitos que criaram as escolas públicas do município. Tais trabalhos estão em dois livros já lançados: A Cartilha do Barnabé: a educação pública municipal no Governo José Conrado de Araújo (1959-1963) e o Catálogo das Escolas Municipais de Aracaju, ambos com a professora Tereza Cristina Cerqueira da Graça, com quem escreveu, ainda, Sociedade e Cultura e Cultura Sergipana, parâmetros curriculares e textos. Levantando farta documentação, que inclui correspondências, fotografias, Josefa Eliana Souza revela por inteiro o professor e o intelectual Nunes Mendonça, desde sua origem, em Itabaiana, sua formação, atuação, obras, até sua morte, em Vila Velha, no Espírito Santo. É um painel rico de informações que cobrem a militância política, no Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, o cotidiano do jornal, principalmente O Nordeste, de Aracaju, sua passagem pela Assembléia Legislativa, como deputado estadual, e sua cátedra, onde se originaram alguns dos problemas enfrentados na Escola Normal, principalmente o processo de que foi vítima, após o movimento militar de março de 1964, na Comissão Geral de Investigações. A autora procurou evitar melindres, constrangimentos, centrando o seu texto na figura completa do professor e intelectual, sem deter-se nas particularidades da época. A posição de Josefa Eliane Souza não compromete, de modo algum, o resultado final do trabalho, que recupera, para a história, a biografia de um intelectual completo, versátil, que exerceu a crítica e através dela entendeu a poesia de José Sampaio, traduziu versos de Walt Hiltmam, com elegância e perfeição, divulgou a obra de Florentino Menezes, dentre outras manifestações de fulgurante inteligência. Com o livro sobre Nunes Mendonça a autora e a Universidade prestam enorme serviço, fazendo justiça a um intelectual que andava meio esquecido, como tantos outros que deram a Sergipe o melhor de suas inteligências. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”