Sem a existência de uma política agrária atuante, o que se verifica é o êxodo do homem do campo para as grandes metrópoles. Atualmente, nas metrópoles, as favelas proliferam-se, a condição sub-humana está presente numa grande parte da população urbana. Neste meio a fome é uma realidade. A educação é precária, quase inexistente. A família cresce sem planejamento. Pela subsistência o chefe da família, normalmente, trabalhando em local distante de onde mora, sai e retorna quando toda a família dorme. Sendo irrisório o seu salário, não existem recursos suficientes para alimentar, vestir e educar sua família. O que faz então sua mulher? Trabalha também. E as crianças? Estas crescem sozinhas… Famintas, maltrapilhas, às vezes doentes e sempre revoltadas. Sim revoltadas contra um mundo que, para elas, só traz tristezas. O resto do mundo vive bem, pensam elas ao ver perambulando a esmo. Restaurantes cheios, lojas superlotadas, carros… Quantos carros! E elas? Irmãos menores morrendo de fome, seus pais sempre ausentes. Então, o que lhes resta? Mendigar, roubar, drogar-se ou prostituir-se. É exagero? Assim pensa quem nunca presenciou estas cenas, almoçando num daqueles restaurantes situados no calçadão da Avenida Atlântica, em Copacabana, na Praia de Boa Viagem em Recife, na Praia de Atalaia em Aracaju; não estacionou seu carro no aterro da Baia Sul em Florianópolis, não andou pela Praia do Farol da Barra em Salvador, nem pela Praça da Sé em São Paulo. Sim, o quadro existe. De norte ao sul, de leste a oeste a resultante é cidades superpovoadas e campos desabitados. Há solução para mudar este quadro? A solução é criar no campo as condições de vida que se propaga existir nas grandes cidades. Dar aí, as oportunidades de emprego que se alardeia haver nos grandes centros. A pergunta que se faz em seguida é a seguinte? Existem recursos e condições para, de imediato, reverte este quadro? A resposta, obviamente, é não. O que fazer, então? Se algumas medidas forem, imediatamente, tomadas será possível, a curto prazo, minimizar os efeitos negativos hoje existentes e impedir que aumente os problemas dessa migração. Em primeiro lugar, o Estado tem que, nos grandes centros, tirar essas crianças das ruas e colocá-las nas salas de aula. Se possível em tempo integral. Há, também, que criar incentivos para evitar a migração para os grandes centros, através de uma política agrária atuante. Considerando não ser tão difícil resolver este problema, eu me questiono: Por que até hoje, praticamente nada se fez para evitar o abandono do campo em direção às grandes cidades brasileiras? Edmir Pelli é aposentado da Eletrosul e articulista desde 2000 edmir@infonet.com.br