O ANTÍDOTO

Quem acompanha as administrações estaduais e os diversos governos que se revezam no poder sabe muito bem que fevereiro, março e abril são meses propícios para duas coisas: a proliferação de mosquitos (a dengue que o diga) e o pipocar de greves de advertência por todo o estado.

 

É mais do que natural – e o governador Marcelo Déda como ativista que fora sabe muito bem disso – que, nesse período, categorias profissionais organizadas, a exemplo de professores, médicos, auditores fiscais e policiais, aproveitem a proximidade da data base dos servidores públicos, que é maio, para protestar, exigir melhores condições de trabalho e salários dignos. Não é de agora que isso acontece. A partir do segundo ano de governo acaba a chamada fase de namoro entre o governante de plantão e os servidores públicos. E, daí em diante, pode-se dizer que o caos no relacionamento se estabelece. Os governadores não têm mais paz.

 

Os servidores clamam por direitos adquiridos ao longo dos anos, cobram uma condição de trabalho que nunca existirá, exigem aumentos quase impossíveis. Os governadores, por sua vez, fazem de conta que são verdadeiros democratas, abrem mesas de negociação, estabelecem o diálogo com as categorias que chiam e quase nunca, é claro, acatam tais exigências. Até porque seria um desastre para a administração deles atender de uma só vez a todos os pedidos e clamores dos servidores públicos estaduais. Você consegue imaginar a quantidade de demandas dos 55 mil servidores hoje existentes no Estado de Sergipe?

 

O bom relacionamento de um gestor com servidores públicos, historicamente, é uma verdadeira utopia. Há situações em que ex-governadores massacraram os barnabés durante toda a gestão e somente no último ano de governo cederam às exigências para se candidatar a outro cargo público. Há casos daqueles que nunca conseguiram e nem fizeram o menor esforço para melhorar o nível de relacionamento entre as partes.

 

Parece simples, mas a questão é muito complexa e envolve uma série de variáveis. Os servidores públicos têm toda a razão de pressionar e exigir os seus direitos. Afinal, eles mantêm a máquina estatal paquidérmica em funcionamento. Merecem respeito. Mas, por outro lado, os gestores (prefeitos e governadores) alegam ter um compromisso maior com a população, que é a grande maioria, e, segundo eles, não poderiam ficar engessados por conta da folha de pagamento do Estado. Razão pela qual, os legisladores, em Brasília, correram para aprovar a desculpa perfeita: a conhecidíssima LRF ( Lei de Responsabilidade Fiscal), que  estabelece limites para os governantes não extrapolarem nas despesas, contratações e nos salários.

 

Esta semana, o governador Marcelo Déda terá a grande chance de mostrar o quanto aprendeu a lidar com o sindicalismo ao longo dos anos. Déda vai ter que, pela primeira vez neste governo, utilizar o antídoto certo para neutralizar o veneno que conhece bem, ao anunciar um aumento linear de até 6% para os servidores.  

 

 

 


O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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