O Buzú do Goró

 

 Lisboa, 20 de julho de 2008

 

 

Caros amigos de Sergipe:

 

 

Certa vez, a mega star Dina Sfat, que Deus a tenha, interrompeu um cunillínguos que estava executando magistralmente em minha pessoa, para exclamar:

_A humanidade cresce com a crise, Apolônio!

Apesar de na hora não ter dado ouvidos à filosófica sentença, uma vez que estava com a cabeça noutro lugar, hoje percebo que é a épica frase da afamada atriz é a mais absoluta verdade.

Senão vejamos: bastou a chegada dos bafômetros às terras de João Muamba para que boa parte da inteligência sergipana esquecesse as diferenças e se unisse em torno de um objetivo comum: o combate aos temíveis alcagoetas eletrônicos.

Uma fonte fidedigna me colocou a par da mais engenhosa saída encontrada por um verdadeiro esquadrão de notívagos da cidade contra a abstinente medida governista. Trata-se do ‘Buzú do Goró’, um ônibus que circula a partir da meia noite recolhendo os biriteiros nos principais bares e restaurantes da barbosópolis. Quem experimentou, jura que não há fim de noite melhor.

E porque vos digo que a humanidade cresce com uma medida aparentemente tão simples? Ora, meus amigos, são nada mais nada menos que quarenta e dois viventes em cada coletivo economizando a gasolina dos seus veículos todas as noites, diminuindo, portanto, o impacto do efeito estufa sobre o planeta. Imaginem se em as grandes cidades do mundo adotassem tal medida? O preço do barril despencaria. E, pasmem os senhores, por ironia do destino o ônibus é movido a álcool; o que colabora ainda mais com a diminuição do consumo de petróleo e derivados. Sem sombra de dúvidas uma atitude ecologicamente correta!

Como se não bastasse a economia de combustível, há ainda a diminuição do risco de acidentes automobilísticos envolvendo grandes consumidores de álcool, que são justamente os que mais dão prejuízos à rede pública de saúde, uma vez que nesse tipo de paciente a anestesia nunca pega.

Entre esses verdadeiros patriotas da mesa de bar estão medalhões do jornalismo local como Gilvan Manoel, Adiberto Souza e Cleomar Brandi. Estão também grandes figuras das artes sergipanas como o apaixonado ator siciliano Antônio Leite e o pintor José Fernandes, também conhecido como ‘o serviço de auto-falantes do Camilo’. Há ainda as mestres cervejeiras Cynara e Cristina Almeida e os ecléticos Eduardo Lins, Pascoal Maynard e Murilo Smith, que vão da popular Sagatyba ao inacessível Romanèe Conti, o vinho de cinco mil reais que Duda Mendonça gosta de beber antes de ir a uma rinha de galos de briga.

Enfim, meus amigos, o que há de mais interessante nas mesas da capital dos cajueiros está nos bancos do já famoso ‘Buzú do Goró’. A Marinete do Forró decididamente é coisa do passado!

É claro que nem tudo é perfeito nessa moda nova que vem de Sergipe. Há a possibilidade de algum bebum anônimo vomitar ao lado, há a carona das travecas que já entram cantando o último sucesso do “Cavaleiros do Forró” ou a iminência de um furto de um moleque da noite. Mas, o maior receio dos intrépidos passageiros tem sido mesmo a presença de algumas mulheres com vestidos abaixo dos joelhos e indefectíveis sobrinhas prenunciando catástrofes sobre o fim dos tempos. São as crentes da revista Despertai que, como se não bastasse tocar a capainha aos domingos de manhã, agora querem atacar na madruga. Sinal dos tempos, só Jesus salva!

 

 

Até semana que vem.

 

Um abraço do

 

Apolônio Lisboa.

  

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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