Olinda, 3 de fevereiro de 2008
Caros amigos de Sergipe:
Fugi da Bahia para me livrar de um flagrante, como é do conhecimento dos senhores. Na pressa, embarquei no avião errado e vim parar em Pernambuco.
Assim que cheguei, encontrei o Alceu Valença no Aeroporto que me encheu de salamaleques ao me confundir com o ministro da cultura de Portugal. Aproveitando a fama do meu anfitrião, dei uma coletiva em um hotel do centro. Na verdade, a coletiva foi com apenas duas garotas na “Pousada L’Amour”. Mas foi uma coisa coletiva.
O mega star da música pernambucana fez questão de me apresentar o carnaval da capital, recomendando que eu fosse a Olinda no dia seguinte, onde ele estaria à minha espera.
Ao nos dirigirmos para o bairro do Recife Antigo pela avenida Conde da Boa Vista, fomos parados por uma suposta blitz rodoviária. Eram homens usando perucas, roupas dos anos 60, com guitarras, radares e outros equipamentos eletrônicos.
Quando se aproximaram para reclamar que estávamos acima dos sessenta quilômetros, reconheci o líder da banda. Era o Antônio Samarone com alguns dos seus assessores na SMTT. O nome da fantasia deles era “Os Multantes”.
Chegando no Marco Zero, me perdi do Alceu e na falta de coisa melhor para fazer, acabei dando uma demonstração pública de insanidade. Peguei na bunda de um guarda municipal.
Só não fui encaminhado à Delegacia por causa do Ariano Suassuna que vinha passando na hora, me reconheceu e subornou o guarda com a coleção de DVDs da sua obra na tv. Na verdade eu confundi o membro da milícia pernambucana com o Araripe Coutinho e, sinceramente, achei que o poeta ia gostar do agrado.
Depois de muito ciscar com várias galinhas da madrugada, sem, no entanto, botar ovo em quintal nenhum, fui dormir pensando em embicar rumo à Olinda na manhã seguinte. De fato, embiquei.
Chegando lá, depois de tomar muita cerveja quente e correr atrás das mais diversas agremiações carnavalescas, fui parar na Rua do Beijo, artéria oficial da saliência olindense, pois é ali que as universitárias brincam de puta. É uma beleza!
No dito logradouro, atacou-me, pasmem os senhores, o espírito do Caboclo Beijador, uma entidade nativa equivalente ao deus Baco na mitologia grega. Rapaz, distribuí beijos na boca de mais de 200 mulheres comprovadamente do sexo feminino, fora as duvidosas. A mandíbula está que é um bagaço!
Só voltei a si desse verdadeiro transe momo-mediúnico, quando reconheci o beijo de uma velha prestadora de favores sexuais. Era uma mascarada um tanto obesa que ao se atracar com a minha carnavalesca pessoa, me tirou de tempo e arrancou-me um pivô.
Ao desmascará-la, quase não acreditei! Era Zenóbia, minha ex-patroa sexagenária ao lado de Sulamita, minha ex-secretária bilíngue e boazuda.
Naquele clima de permissividade, deixei que me apalpassem as partes pudentas e demonstrando mais uma vez a minha total insanidade, acabei descendo ladeira aos beijos atracado com as duas alfacinhas. Fiz tanto sucesso que dei até entrevista para a Vênus platinada, pasmem os senhores mais uma vez.
Sei que não é lá muito ético apelar para imagens grotescas visando apenas atrair a atenção da mídia, mas agora é tarde, amigos! Já assinei o contrato com a produção do Globo Rural!
Até semana que vem.
Um abraço do
Apolônio Lisboa