O CENTENÁRIO DE BENEDICTO GUEDES

        A Academia Sergipana de Medicina celebra hoje, 24 de outubro, no auditório da Sociedade Médica de Sergipe, o centenário de nascimento do saudoso médico Benedicto Guedes, em sessão solene presidida pelo Dr. Fedro Portugal, presidente da “Casa de Gileno”. O acadêmico Marcelo Ribeiro fará a saudação ao  ilustre esculápio que teve atuação destacada na Medicina de Sergipe.

     Benedicto de Oliveira Guedes nasceu em 21 de abril de 1910 em São Fidélis, pequena cidade fluminense situada às margens do Rio Paraíba do Sul, rio que fez parte de sua infância e adolescência e, depois, de suas saudades e recordações. Sua irmã mais velha, Zely Guedes Ximenes e esposo Antônio Ximenes radicaram-se em Aracaju a convite da Casa Pratt, para fundar a primeira escola de datilografia de Aracaju, a Escola Remington, onde Zely ensinava também taquigrafia e português.  Zely manda buscar Benedicto, que contava à época com 15 anos de idade, para concluir seus estudos em Sergipe já que a família passava por dificuldades financeiras no Estado do Rio de Janeiro.

Em Aracaju, Benedicto estuda no Colégio Atheneu Sergipense e se torna amigo de Emílio Gentile, filho de imigrantes italianos que residia na cidade desde 1919. Através dele conhece Ledina, irmã de Emílio, filha de Antônio Federico Gentile e Maria Santa Franzesi Gentile e que vem a ser a sua esposa por toda a vida, casando-se em 1937. Dessa união nascem Maridélia, Mardna, Antonio (Tonico) e Marbene, todos médicos com exceção de Mardna.

            Ao terminar o curso científico, ele segue para Salvador para prestar vestibular na Faculdade de Medicina da Bahia. Aprovado, faz o curso com destaque e cola grau em dezembro de 1936, retornando logo depois a Aracaju, onde começa sua vida profissional, exercendo a medicina por toda a vida, com a mesma serenidade, prudência, caridade e humanismo.  

          Desde estudante, Benedicto gostava de escrever e fazer poesias. Ainda no Atheneu Sergipense, com 20 anos de idade, fundou um jornal que circulou em 1930 em Aracaju, denominado “O Estudante”, um espaço democrático onde os jovens podiam expor suas idéias e também protestar politicamente. Foi também colaborador da secção baiana do jornal “O Pirralho”, já na Faculdade de Medicina, produzindo polêmicas literárias com outros colegas, sempre assinando, com era de praxe na época, com o auxílio de pseudônimo.

         Participou ativamente dos movimentos estudantis da época, sendo preso em 1932, com vários colegas do curso, entre eles Lauro Porto, por protestar conta o Estado Novo.  Conta-se que o interventor Juracy Magalhães foi visitá-los na prisão e encontrou os estudantes, que foram presos de terno (indumentária usada na época nas aulas da faculdade), irreverentemente despidos, usando somente sapatos, meias e gravatas, como forma de protesto.

           Benedicto dedicou-se à clínica geral e das vias urinárias, sendo um dos pioneiros na especialidade em Sergipe. Nomeado para o IAPM – Instituto de Assistência e Previdência dos Marítimos, atuou no órgão até a aposentadoria. Teve passagem ainda pelo Instituto do Álcool e Açúcar e pelo IAPFES – Instituto de Aposentadoria dos Ferroviários de Sergipe, num posto de saúde da Barra dos Coqueiros, no Instituto Nacional do Sal, foi perito do INPS, depois INSS, até sua morte.

         Fez parte da equipe médica da Força Expedicionária para ir à Segunda Guerra Mundial, não chegando a embarcar para o exterior, retornando com os demais de Salvador, em função do término da guerra com a rendição dos nazistas.      

         Por uma única vez aventurou-se na política partidária, mas com espírito de estudante, candidatando-se a deputado estadual, obtendo uma votação expressiva mas insuficiente para ser diplomado por força de legenda. Sergipe perdeu  um deputado, mas a sua clientela agradeceu, porque permaneceu sendo atendida pelo mesmo médico humanitário.

Faleceu em sua residência na Atalaia, num domingo,  20 de outubro de 1974, com 64 anos, vitimado por um segundo infarto do miocárdio, extenso, sem chance de ser socorrido. Na manhã de sua morte havia elogiado os filhos, a esposa, a casa, cantarolou músicas de carnaval (As Pastorinhas), até ensaiou uns passinhos com Lale, sua querida esposa e foi ao encontro do Criador, deixando saudades, lembranças, muitas histórias e um exemplo de vida a ser seguido pelas novas gerações.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais