Sergipe é rico de biografias de homens e mulheres que dedicaram as suas vidas ao serviço dos seus semelhantes, tomando profissões que realçaram a solidariedade. Médicos e professores foram, em grande número, aqueles que desbravaram o interior sergipano, deitando raízes que ainda hoje podem ser identificadas, saudosamente, como lembranças dos tempos idos. Não há quem guarde, de experiência própria, a gratidão e o afeto a tantos médicos e professores que marcaram a vida comunitária, tanto na Capital, como e principalmente no interior, onde a prestação de serviços essenciais é, ainda hoje, retardatária. Um terceiro agente desses contatos, o padre, também tem seu quinhão de reconhecimento e de aplauso, pela constante presença, como orientador espiritual. O sentimento da população,
frente a cada médico, cada professor e cada padre é, sempre, de gratidão.
José Machado de Souza, nascido em Aracaju há exatos 100 anos (nasceu em 22 de janeiro de 1912), é uma dessas referências que a população sergipana não esquece, mas, ao contrário, guarda no coração, como um tributo de agradecimento pela sua dedicação . As crianças sergipanas, notadamente as de Aracaju, tiveram um médico humanista, dedicado, que se tornou num exemplo e uma referência na história da Medicina em Sergipe. Machado de Souza tornou-se um símbolo, citado, procurado, como uma palavra confortadora nas horas angustiantes da doença. Grande médico, formado em 1934, dedicou-se pela vida inteira, a socorrer a infância desamparada, doente, carente de socorro e de amor. Seu nome correu a cidade, estava na boca das mães, como um alívio para o sofrimento humano. Voz forte, mão firme, dominando a ciência e atualizado os modos de curar, Machado de Souza foi, em vida, uma unanimidade, que permanece depois de sua morte (março de 1997), como um exemplo a ser seguido.
José Machado de Souza não viveu apenas como médico. Atuou com alguns dos seus colegas para viabilizar a criação da Faculdade de Medicina, concorrendo para a fundação da Universidade Federal de Sergipe, instalada no velho Hospital de Cirurgia, central de debates médicos, responsável pelas conquistas e vitórias que marcam a trajetória da obra de Augusto Leite e seus colaboradores. Machado de Souza estava atento ao esforço por conquistar uma mais atualizada ciência e dotar os equipamentos de saúde das condições adequadas à prestação dos serviços. No campo da Medicina, portanto, Machado de Souza cumpriu também com uma colaboração qualificada, que avoluma o seu currículo de médico e de mestre. Os profissionais da área da saúde têm, ainda hoje, 15 anos depois de sua morte, respeito e veneração pelo homem e pelo cidadão, pelo clínico e pelo articulador, como se viu na solenidade promovida pela Academia Sergipana de Medicina e outras entidades.
Em 1954, José Machado de Souza aceitou compor a chapa da União Democrática Nacional – UDN -, para o Governo do Estado. Ele foi o candidato a Vice-governador, e seu amigo e correligionário Leandro Maciel o candidato a Governador. Vitoriosos, unidos, quebraram a hegemonia da coligação PSD-PR, vitoriosa desde a redemocratização de 1946, sob a liderança de Francisco Leite Neto. José Machado de Souza desdobrou-se para não deixar de atender à clientela e sforçou-se para levar o Governo a promover melhoramentos na precária rede de atendimento médico. A experiência não pareceu convincente ao homem acostumado com o contato direto com as mães e os pais das crianças ao seu cuidado. Nunca mais ele compôs chapas e disputou eleições. Voltou-se, com toda ênfase, à clínica, construindo uma imagem imortal de competência e dedicação, como se fosse, como disse Manoel Cabral Machado, “um sacerdote da infância sergipana.”É esta, ainda hoje, a sensação deixada pela biografia de pediatra.
Quando seu amigo Augusto Franco chegou ao Governo do Estado, em 1979, José Machado de Souza foi convidado a ser o Secretário de Estado da Saúde. Simples como sempre foi, aceitou o convite e imprimiu no Governo um ritmo e inspirou uma disposição que mereceram aplausos de todos os sergipanos, independentemente da opção partidária. O que se viu foi o estilo firme, decidido, rápido, na montagem de uma estrutura melhor, capaz de cumprir com seus objetivos e suas obrigações. A presença de Machado de Souza no Governo foi um momento grandioso, que elevou a responsabilidade da SES, na ampliação da capacidade prestadora da máquina pública, à população desejosa e esperançosa de bons governantes. O nome de José Machado de Souza vai, com certeza, ecoar pelo tempo afora, como um símbolo sergipano de competência e responsabilidade. Um livreto, organizado por Lúcio Prado Dias, guardará para o futuro as demonstrações de apreço pela biografia de José Machado de Souza.