O CENTRO ESPERANÇA DE DEUS NÃO DEVE MORRER

     Passava um pouco das cinco da tarde quando entrei na sede do Instituto Histórico e

Pe.Humberto Leeb

Geográfico de Sergipe, na rua Itabaianinha. A solenidade estava marcada para começar as três, mas um compromisso profissional terminou me atrasando.
     Encontrei os dois praticamente arrumando as gavetas. Estávamos em 17 de fevereiro deste ano, mas com todo o atraso do mundo consegui obter um exemplar do livro “A Força da Fé – Pe. Leeb: Uma Vida que faz História”, escrito pela professora  Geovana de Oliveira Lima, sobre a vida e a obra do padre austríaco Humberto Leeb.
   
Num canto da sala, contemplativo, ele observava os quadros na parede de vultos da vida sergipana. Cumprimentamo-nos e pedi-lhe também o autógrafo. Na dedicatória, eles expressaram o sentimento contido: “Para Lúcio, amigo querido e parceiro de eventos, um testemunho de solidariedade humana”.
   
Voltei no tempo e recordei os bons momentos em que repartimos sonhos e realizações. Uma apresentação exclusiva da Orquestra de Acordeon da Alemanha para os médicos cooperados da Unimed no Teatro Atheneu foi o clímax da parceria lembrada na dedicatória. O teatro com a casa cheia, um espetáculo primoroso  e uma ovação apoteótica. Depois veio o projeto do “SPA Corpo & Alma”, desenvolvido na chamada carinhosamente “Pousada do Padre”, pelo “Centro de Formação Pe. Leeb”, contando com uma equipe multidisciplinar integrada à proposta holística. 
    
Passamos a acompanhar a obra do Pe. Leeb a partir de 1988, onze anos após sua chegada de barco a Porto do Mato, numa região denominada Porto da Nangola, trazido do Rio de Janeiro por uma filha da terra sergipana, Joana Batista Costa. Quando eles chegaram à região, a miséria era extrema. Não existia acesso terrestre, os nativos viviam do pescado, as doenças grassavam, a mortalidade infantil beirava a níveis absurdos: de cada quatro crianças que nascia três morriam antes de completar um ano de vida. Esse sofrimento levou o missionário a escrever o livro “Isivaldo não deve morrer”, um pequeno da região, forte candidato a aumentar a taxa de mortalidade, mas que felizmente conseguiu sobreviver, graças aos esforços de Joana e do Pe. Leeb.
    
Com a força inabalável da fé e a vontade de cuidar do sofrido povo do local, ele edificou uma obra portentosa. Com a “cruz da reconciliação”, um símbolo esculpido em madeira  afirmando a presença do cristianismo, deu início a uma nova era na raquítica paisagem do sul sergipano. Fundou o Centro Esperança de Deus, um complexo que passou a abrigar o povo da região, abrigando-o em múltiplas tarefas profissionalizantes, culturais e cristãs, com respeito absoluto às tradições locais. Oficinas, escolas, posto de saúde, pousada, foram edificadas e prosperaram ao longo dos anos, transformando o local numa mini cidade, com quadra de esportes, restaurante, campo de futebol, entre outras.
    
Após 30 anos de dedicação plena e exclusiva à obra que edificou, Pe. Leeb despediu-se de seu povo para o merecido descanso, feliz pelo cumprimento de sua missão transformadora. O livro de Geovana, que partilhou desse trabalho com dedicação, deve chegar às mãos dos sergipanos para que todos possam ler e conhecer em profundidade  a vida desse missionário do século XX e promover meios para que não deixem sucumbir a obra construída com tanto amor e perseverança. A Diocese de Estância, que herdou o Centro em 2008, tem a obrigação de preservar  esse grande patrimônio do povo de Sergipe. Seria o melhor presente que o Padre Humberto Leeb poderia receber neste domingo, 20 de março, quando comemora 77 anos de vida, cercado pelo carinho e apreço de uma legião de amigos e admiradores.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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