Dércio Cardoso Reis
Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe. Membro do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET). Orientador: Dr. Dilton Cândido Santos Maynard. Participante dos projetos “Memórias da Segunda Guerra em Sergipe” (Pronem, FAPITEC/CNPq) e “Quando a Guerra chegou ao Brasil: a submarinos e memórias mares de Sergipe e Bahia (1942-1945)”, (Edital Universal 2014/CNPq).
Trabalho apoiado pelo projeto "Quando a Guerra chegou ao Brasil: Ataques submarinos e memórias nos mares de Sergipe e Bahia (1942-1945)", Edital Universal CNPq 2014.
O Cruzeiro do Sul foi um periódico produzido pelo Serviço Especial da Força Expedicionária Brasileira. Era uma publicação regular, editada duas vezes por semanas (inicialmente às quartas-feiras, depois passou para as quintas- feiras), tendo sido produzido de 03 de janeiro a 31 de maio de 1945, totalizando 34 edições. É importante salientar que o Cruzeiro do Sul não foi a única publicação de iniciativa dos combatentes. O próprio jornal na primeira edição traz uma pequena nota sobre o jornalzinho E a cobra fumou editado numa das unidades de infantaria. Outro Jornal que ganha uma pequena nota é So penas na quinta edição, número mimeografado que consegue unir notícias úteis e piadas. A principal diferença entre esses dois jornais e o Cruzeiro do Sul é manifestada no caráter oficial deste, enquanto os outros dois têm uma maior liberdade de criação.
O jornal possuía 04 páginas, a única exceção foi a edição especial que consta de 12 páginas. Seus principais colaboradores foram: os correspondentes de Guerra, brasileiros e estrangeiros, que acompanhava a FEB (seus artigos eram transcritos tal qual como eram enviados para o Brasil, depois de passar pela censura dos órgãos competentes) e dos integrantes do Quartel-General. Os principais correspondentes foram: Joel Silveira (Diários Associados), Rubem Braga (Diário Carioca), Egidio Squeff (O Globo), Raul Brandão (Correio da Manhã) e Francis Hallawell (BBC de Londres).
Nas páginas do Cruzeiro do Sul se encontram notícias do Brasil, no mundo, dos esportes, e principalmente do último ano da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e da nossa Força Expedicionária. A chefia da redação ficou com o cabo José Cesar Borba, que também assinava a coluna Cartas do Brasil. Suas 34 edições chegaram ao Brasil por causa do General Mascarenhas de Moraes, o comandante geral da FEB. Ele guardou as edições em uma encadernação de couro, e depois foi confiada ao seu neto, coronel Roberto Mascarenhas. O jornal circulou exclusivamente na Itália, era impresso em Florença e tinha uma tiragem estimada de 5.000 exemplares.
Na primeira edição o jornal traz como ideia de ser uma colaboração vivida. “O nosso jornal é o jornal dos soldados que lutam na primeira linha. Registrará todos os feitos dos homens que se distinguirem em ação” (Ano I n° 1, p.4). Em parte, isso é concretizado, mas principalmente pelos artigos dos correspondentes de guerra. Os combatentes pouco escrevem sobre os acontecimentos da guerra, exceto nas principais batalhas que a FEB é lembrada: Monte Castelo e Montese. No mais são relatados os problemas com o frio e a neve, e a impressionante adaptabilidade do soldado brasileiro.
Em suas páginas o Cruzeiro do Sul enaltece a coragem de nossos pracinhas, que saíram de um “país ensolarado” para lutarem na Itália com um “inverno rigoroso”. Essa coragem e “desprendimento” para lutar vêm principalmente do desejo de vingança, de destruir o inimigo que matou covardemente mulheres e crianças brasileiras. O periódico também afirma que nossos combatentes estavam imbuídos do desejo de liberdade, de livrar o mundo do nazismo e fascismo.