O desolo e o consolo.

Li de Talleyrand de Perigot o seguinte aforismo: “Quand je me regarde, je me désole. Quand je me compare, je me console”. Quando eu olho para mim, eu me entristeço, eu me desolo. Já quando eu me comparo, eu me consolo.

Désole e console, são boas rimas, no som, no gozo e no tom: jocoso.

Sem querer gracejar, desolação é aquilo que arrasa, e também arruína e devasta.

O desolo traz consigo uma tristeza infinita, um verdadeiro desamparo em solidão desértica e sem companhia, contemplação despovoada, em infortúnio e desgraça.

A desolação tudo arrasa, causando desgosto.

Quanto ao consolo, se não produz de todo aceitação, por conforto, traz consigo um lenitivo, uma compreensão, uma espécie de apoio de poltrona, por isso também chamado de console, algo semelhante à chupeta que se dá ao bebê, para outros enganos de mamas.

Mamar sempre consola, cala o choro, saneia a eventual carência do nenê por um agrado. Nesse sentido, é-lhe um logro afim, só para um bom grado, sem lhe ousar nutrir, suprir a falta e o alimentar.

Aquilo que não resolve, envolve, ou pode bem envolver,… coisa de consolação; porque o que não se consola, sempre resta consolado.

Um latino corolário posto por Shakespeare nos lábios do Doge de Veneza em Otelo, o mouro em prévias de letal ciume, na Cena III do Ato I, sem queixume: “O que não tem remédio, remediado está”

Mas, voltando ao Perigot Talleyrand, o sábio “diabo manco” acima citado, a frase me surge em previas eleitorais, aqui e lá fora, já que o ano vigente é 2022, ano de eleições presidenciais, aqui no outubro distante, e lá na França, em abril, proximidade do mês de Floreal, se quisermos relembrar o Calendário que Fabre d’Eglantine criara para a 1ª e mais famosa República Francesa, inspirado no desabrochar das flores de abril a maio, e sem pensar que em mês igual teria sua própria cabeça separada do pescoço via navalha revolucionária, por exigência daquela mesma República.

Sem traumas de navalhas e guilhotinas, mas em prévias eleitorais, já há no nosso Brasil um mote ensaiado em marcha de frevo e cuíca: “primeiro é vinte-e-dois, primeiro é vinte-e-dois, e o resto a gente vê depois”, a tonitruar raiva cerbérea de muitos.

Falo de hidrofobia cerbérea, só para lembrar daquele cão infernal de três cabeças, que continua a morder e infectar a mesma e velha gente, só porque o Mito resiste ao fogo da Amazônia, a poluição dos mares, a gastança dos artistas, o choro de tantos nativos e quilombolas desmamados, e os infindos especialistas destronados, sempre alistados e convocados para externar uma reclamação, que perdura, e vai continuar para o seu desconforto, deles somente, mas por felicidade geral das ruas, que bem os desejaria quebrando granito no maxilo, longe da fruição de cargos e comissões, e emolumentos incorporados, só por desbrio e desavio, do seu mal servir à nação.

E por essa mesma via em desação, na semana que passou, os novos heróis brotaram como erva daninha na Anvisa, a merecer poda e repoda necessárias, ou uma ação vermífuga de choque, afinal nesse país todos frente ao Presidente bem deveriam exibir maior respeito, sem o qual tudo falece e vira anarquia.

Não é assim que o noticiário se orgasma, por onanismo de pura anarquia, e inutilidade?

Quem não vê que o tema de ontem, com o de agora, restará pendido e falecido, igual ao falo que murchou sem fertilizar, e nem saudade deixou?

Ah!, mas agora foi um militar que enquadrou o Bolsonaro, cobrando-lhe retratação!

Que é a Anvisa, se o que de lá vem ousa resistir à autoridade pessoal do laudo emitido?

Por acaso uma nota coletiva vale mais do que um parecer pessoal que o assina e se responsabiliza, inclusive penalmente?

É errado cobrar o ônus de quem emite o laudo?

Ah!, mas a Anvisa é a Anvisa!

Ela está prevista em Lei. Tem funções, prerrogativas! Igual ao Supremo Tribunal, que na mesma lei já se outorgou e se extrapolou em Poder Moderador!

Essa coisa que o Estado cria para dar independência, e de repente, a depender do próprio arrojo, ela vira um Leviatã, ousando ser o que desejar, inclusive desafiar um Presidente da República, cobrando-lhe no “gogó”, a se “retratar” do que falou, insinuou ou desconfiou, ensejando uma desconfiança que persiste.

Ou não persiste?

Enquanto tudo resiste, sobretudo ao bom crédito do Mito, a hidrofobia cerbérea continua, agora com as vacinas de crianças sendo o tema igual no mundo inteiro.

Ah! A ciência!

Quantos afirmam ser a ciência o centro racional das supra certezas: absolutas!

E o que dizer, se na História dos Homens as correntes e versões nunca são vencidas nem vencedoras, por convencimento de seus partidários?

E o que dizer das lutas e ofensas insanáveis entre Isaac Newton e Robert Hooke, por exemplo, e seus seguidores por séculos, quando uma corrente científica nunca convenceu a outra para sempre, mesmo quando lhes rarearam seguidores?

O problema das vacinas em crianças em desconfianças iguais é assunto exposto por artigo de 10 de Janeiro de 2022 no Le Figaro do Dr Jean Leonetti, antigo Ministro Francês, enfatizando a desnecessidade da vacinação de crianças, sem falar das medidas tomadas sem base científica e sem eficácia provada e que são atentatórias à liberdade pública e penalizantes à vida econômica, familiar que não deveriam ser propostas.

“Tais medidas incoerentes e ineficazes exasperam e desacreditam a palavra pública , favorecendo um discurso “complotista” (de complot, palavra nova) que rejeita toda proposição sanitária, rejeitando até Montesquieu, que dizia: « Les lois inutiles affaiblissent les lois nécessaires », as leis inúteis enfraquecem as leis necessárias”.

Enfatiza o Dr Leonetti que neste longo período da Pandemia de Covid-19 se percebe que são os idosos os mais vulneráveis e os possuidores de comorbidades.

A mortalidade menor abaixo dos 50 anos aumenta progressivamente aos mais de 65 anos, representando 80% dos falecidos pela Covid.

“Se já se conhece – continua o cientista francês –  a eficácia da vacinação, sabe-se também que a imunidade adquirida pela vacinação ou após contaminação não é senão temporária”.

Ou seja temos que conviver com essa insegurança, por longo tempo!

A crise sanitária irá se prolongar favorecida cada vez mais pelas mutações que constituem a resposta habitual do vírus com as variantes geralmente mais contagiosas e menos perigosas.

Quanto à contaminação, alerta o Dr Leonetti, a contaminação ocorre quase exclusivamente em ambiente fechado e por “aerossol” e não pela projeção de gotículas infectadas ou por contato manual.

“Não devemos mais nos deixar levar pela ilusão de um objetivo “zero Covid”, que consistiria em erradicar rápida e definitivamente a doença por meio da imunidade coletiva adquirida por contaminação ou vacinação.

Provavelmente vamos conviver “com” o vírus e as medidas adotadas devem, portanto, ser aceitáveis ​​e “sustentáveis” a longo prazo para a população e nossa economia”.

“As medidas de barreira – continua-  não são suficientes para fazer face a variantes cada vez mais contagiosas, sendo impossível reverter com uma medida de contenção inaceitável em nível social e humano e cuja eficácia seria apenas temporária.

Não devemos continuar a propor medidas que não tenham base científica nem eficácia comprovada e que, além disso, sejam lesivas às liberdades e penalizem a vida económica, social e familiar.

Sabemos que a máscara em locais abertos têm pouca utilidade, e que o nível dos medidores para receber o público vem sendo estabelecidos arbitrariamente e sem estudos científicos e que não há diferença no risco de contaminação entre “tomar um café em pé ou sentado”.

Essas medidas inconsistentes e ineficazes exasperam e desacreditam o discurso público, promovendo um discurso conspiratório que rejeita qualquer proposta de saúde. “Leis inúteis enfraquecem as leis necessárias”, repete Montesquieu.

Finalmente, o passe de saúde, que provavelmente é útil temporariamente, não deve ser usado como estratégia disfarçada de vacinação obrigatória por meios discriminatórios associados a insultos quando precisamos do apoio das populações”.

Qualquer estratégia de saúde deve respeitar os dados científicos atuais, acatar os princípios éticos da proporcionalidade e avaliar a relação benefício-risco de qualquer ação médica para as populações envolvidas.

“Se queremos ser eficazes – ressalta o Dr Leonetti –  devemos primeiro vacinar os maiores de 50 anos e os indivíduos com comorbidade e não encorajar ou forçar as crianças em que o risco da doença é quase zero a proteger alguns de seus idosos que a recusam.

Se queremos ser eficazes, devemos usar a máscara em ambientes fechados usando aquelas que melhor protegem sem forçar as crianças.

Se queremos ser eficazes, devemos fornecer aos nossos hospitais os meios necessários para acolher com segurança os pacientes vítimas da pandemia e não vincular uma estratégia de saúde à escassez de leitos”.

Nesse tema de escassez de leitos, parece que pouca atenção tem sido dada, tanto aqui como lá fora.

Pelo jeito a falta de leito e de profissionais de saúde está sendo substituída pela obrigação vacinal.

É quando eu me volto ao tema inicial e a Talleyrand em desolação e consolo.

Porque tanto aqui como lá na França tudo tem o relevo destacado porque vivemos em tempos anormais, de prévias eleitorais.

Aqui o Presidente Bolsonaro persiste na boca do povo, com outro povo morrendo de raiva por não carregar o seu prócer e bloco na rua.

Alguns, outros raivosos, não conseguem nem hastear uma bandeirinha de terceira via, sobrando a chacota do “Mito, do minto e do imito”.  E até do marreco, sem voos de águia, todos parecendo galináceos, ou Chester, aquele frangão da Sadia, em excessos de peito, coxa e sobrecoxas, mas que voam e cantam como guiné.

Já na França por comparo perelué, ali é possível ser candidato sem pertencer a partido ou agremiação política, o que era vedado a Bolsonaro, tanto que só agora ele se filiou a um partido, dito Liberal.

Nas terras gálicas, há uma prévia de “apadrinhamento” para que o individuo possa se candidatar. Tem que dispor um mínimo de 500 indicações num colegiado acima de 42000 membros, entre prefeitos, vereadores, conselheiros municipais etc.

Possuir 500 indicações desse colegiado seria uma tolice de menos de 2%.

Algo tão fácil de conseguir que muitos candidatos podiam se lançar fora dos partidos, como foi o caso do Presidente Macron na última eleição.

O problema de agora é que introduziram uma exigência em tal escolha de “parrainages”, proibindo a indicação via votação secreta.

Agora o “parrain” tem que se expor, aparecer votando contra o candidato de seu partido.

E ali está um “Deus nos acuda!”, afinal muitos pretensos candidatos bem pontuados nas pesquisas como os direitistas Marine Le Pen e Éric Zemmour, e o esquerdista Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa, estão angustiados com a possibilidade de serem garfados e impedidos de disputar as eleições, restando o Presidente Macron junto com Valérie Pécreuse, não tão preferidos nas pesquisas eleitorais, mas detentores de excedentes apoiadores no colegiado de indicação.

Uma possibilidade real de uma eleição longe da preferência popular, a suscitar ampla abstenção.

Na França como aqui, a imprensa faz restrição aos candidatos que não jogam no seu editorial.

Se aqui é Bolsonaro o vilão e Lula uma incógnita ainda, na França é Marine Le Pen, do Rassemblement Nacional, e Jean-Luc Mélenchon da France Insoumise,  os rejeitados.

Nesse contexto de desolo e pouco consolo, vê-se lá e cá todo tipo de manobra para retirar do povo sua vontade de escolher.

Por aqui, pode-se já antever escaramuças legais a serem lançadas contra o Mito que se assanha e se arreganha como provável vencedor.

Quanto ao militar que cobrou a retratação do Presidente, duas tolices finais, porque tudo não passa de assunto desmoralizador eleitoral:

A primeira é que no jargão da caserna não se recomenda cuspir para o alto.

E a segunda é que dos milicos antes do Mito, deles só se falava em menosprezo e chacota. Se gostavam ou não, nunca ousaram repelir.

Uma prova de que o Mito, embora se diga o contrário; é tolerante demais!

No consolo ou no desolo; se arrespeite, rapaz!

Como dizia Theodore Roosevelt, for good solace and no desolation: “Speak Softly and Carry a Big Stick!”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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