O difícil relacionamento entre pais e filhos

Uma das coisas que mais atormentam os pais, na atualidade, é o perigo iminente que enfrentam os seus filhos, sobretudo os adolescentes, de se envolverem com o vício, com a droga.

 

Muito se tem discutido. A mídia nos mostra às escâncaras os absurdos que estão acontecendo. A situação é, na verdade, extremamente delicada.

 

Os pais, de todas as classes sociais, ficam se benzendo para que tal desgraça não ocorra com aos seus.

 

Mas, quando infelizmente esta tragédia acontece, ai, me Deus! É um desespero. É um horror, dói ver os seus meninos e meninas descendo o precipício numa busca insólita e sem sentido.

 

E, se perguntam por quê? Por que, justo comigo?

 

Fiz sempre as suas vontades, dei-lhe os mais modernos brinquedos, matriculei-o  nas melhores escolas, nunca pressionei, dei sempre muita liberdade, nunca faltou nada para ele, como explicar que exatamente neste momento aconteça uma “desgraça” destas? Meu filho é alcoólatra, um maconheiro, um usuário de cocaína!

 

Na verdade, neste momento, o mundo desaba nos ombros dos infelizes pais, já que eles são sempre os últimos a saber, e quando tentam dialogar, a coisa às vezes piora, e muito, pois os dois estão na defensiva. O filho sempre tem uma justificativa e os pais um sentimento de que foram traídos.

 

A coisa não é tão simples; é, pelo contrário, muito complicada, triste e dolorosa para todos. Sofrem os pais, o filho e a sociedade, todavia, com algumas exceções, o remédio está sempre muito próximo, mas com a validade ultrapassada.

 

A resposta às vezes não está muito distante e quase sempre bem na cara dos pais, ou melhor, é exatamente por causa deles que a desgraça aconteceu.

 

Dizem os pais que fizeram tudo. Já o filho sente, mas, talvez exatamente por não saber expressar, revolta-se, alegando apenas que não tive tudo, faltou alguma coisa.

 

Na verdade todos têm uma ponta de razão, mas, no duro, tentam apenas justificar os seus deslizes. Os pais, quando se dizem cumpridores dos seus deveres, dando-lhe sempre o que há de melhor, enganam-se. Que eles tenham favorecido, dando liberdade, brinquedos e guloseimas, isto, com certeza, não foi nem é o suficiente. Deram-lhes brinquedos caros, robôs, carrinhos e monstrinhos eletrônicos; contudo, entregaram festivamente o presente e foram ver o jornal, ler a revista ou assistir à novela. O filho permaneceu ao seu lado, mas, sozinho, brincando, e quando tentava perguntar alguma coisa, o pai ou a mãe sempre dizia: não, filho, agora não, estou assistindo ao jornal. Depois a gente conversa! E a criança, solitária entre os pais, recolhe-se ao quarto e vai conversar com os brinquedos, onde se acha melhor acompanhada ou sai para as ruas onde encontra excelentes “professores” e “pais” com os ouvidos à disposição para escutá-lo.

 

Lembra-me daquela estorinha, – desconheço o autor, – do filho que, tentando conversar com pai e após ser repreendido, por estar “atrapalhando”, recolhe-se ao quarto em prantos. O pai cai em si e, arrependido, dirige-se ao aposento do filho. Vendo-o com o rosto coberto de lágrimas, diz: “filho, desculpa o pai, diga qual era a sua dúvida.” O filho responde: “pai, me dá um real”, no que é prontamente atendido, pois nesse momento o pai se penitencia e faz tudo para solucionar o problema e deixar o filho feliz, naquela noite.  “Pronto, filho, o que mais você quer?” O filho pergunta: “pai, quanto custa uma hora do seu trabalho?” E o pai: “sei lá, meu filho, mais ou menos uns cinco reais”.

 

Neste momento o filho abre uma gavetinha e pega umas economias que tinha guardado, junta ao real que o pai lhe dera naquele momento e diz: “Pai, amanhã o senhor me vende uma hora do seu tempo?”.

 

Na verdade os pais não estavam totalmente errados quando disseram que davam tudo ao filho, porém esqueceram de dar-se a seus filhos. O maior presente que um filho quer são seus próprios pais.

 

Basta fazer a seguinte experiência: numa certa data, compre para seu filho o melhor e mais caro robô eletrônico e em outra oportunidade vá junto com ele a uma várzea ou uma praia soltar pipa. Não precisa ser daquelas muito caras, uma simples. Depois de um período, pergunte de qual dos dois momentos ele mais gostou. Se o momento em que estava brincando sozinho com o robô ou quando, junto com o pai, vibrou tentando fazer a pipa subir? Eu aposto cem contra um que ele vai lembrar o dia em que, com você, ele tentou empinar uma pipa

 

O desenvolvimento tecnológico faz com que as famílias estejam juntas, por exemplo vendo televisão, mas, cada um em particular, está sozinho, na pior das segregações, que é exatamente a solidão a dois, a três ou a solidão em grupo, sem a menor chance de se manifestar, de interferir, de mudar o assunto. E é exatamente aí onde mora o grande problema.

 

Não há grande diferença entre os novos tempos e os antigos. Existem, sim, fatores diferentes de segregação familiar. Antes era o autoritarismo, a imposição do respeito à disciplina; hoje é a tecnologia e o estresse da vida moderna. O problema vai sempre existir.

 

O que tem que ser feito, embora não exista uma receita mágica para a resolução do problema, é uma mudança de comportamento dos pais, sobretudo daqueles que trabalham fora e têm pouco tempo para se dedicar aos filhos.

 

Criar um filho não é muito difícil. A vaca cria seu bezerrinho, a cadela cria a sua ninhada, bastando cuidar e alimentar. Todavia, não é apenas cuidando e alimentando que se cria um ser humano, posto que ele, diferentemente do bezerro e do cão, tem raciocínio e, sobretudo, emoção.

 

Como disse, não existe uma receita, mesmo porque a criança, ao nascer, não se faz acompanhar de um manual de instrução, igual a um eletrodoméstico comprado na loja. Ele é sempre diferente, ele é único.

 

Ora, se não existe uma receita, não tem manual de instrução, então o que se deve fazer?

 

Resposta: CRIAR COM MUITO AMOR, RESPEITO E, SOBRETUDO, COM MUITA PARTICIPAÇÃO, NÃO ESQUECENDO NUNCA QUE TODA CRIANÇA CRESCE, TEM DIREITOS E DEVERES E PRECISA REALIZAR OS DOIS EM SUA PLENITUDE SEM PRESSÃO E SEM RELAXAMENTO. É difícil? Não sei. É impossível? Não.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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