O eleitor mudou

Apesar dos candidatos estarem nas ruas, com carreatas, caminhadas, cumprimentos de corpo a corpo, os comitês já funcionando a todo vapor, nota-se uma frieza incômoda e intensa nestas eleições municipais. É como se nada estivesse acontecendo. Não se sente o clima eleitoral, a agitação nas ruas, uma movimentação de euforia de campanha, como sempre se viu em outras épocas. Há um clima de desconfiança, como se nada fosse dar certo Isso está ocorrendo na capital e interior, inclusive surpreendendo aos próprios políticos, que esperavam maior agressividade dos eleitores profissionais. Aqueles que esperam cada eleição para aparecer com uma porção de velhas contas para pagar: energia, água, botijão de gás, material de construção e até cirurgias corretivas. Os candidatos, sem exceção, constataram que os comícios não servem para convencer o eleitorado de alguma coisa. Na realidade, quem comparecia não queria ouvir reprises dos discursos, esperavam o show, mesmo que fosse apenas o pessoal do trio elétrico. O pobre se conforma com pouco e se diverte, também, com qualquer ritmo mais forte. Nas caminhadas que fazem pelos bairros, exclusivamente da periferia, os candidatos ainda são abordados por pedidos de empregos, casa própria e pagamento de contas, mas tudo em menor quantidade, de forma apática e sem qualquer emoção. Sem disposição até para pedir, imagina para votar. As carreatas estão se reduzindo e assim mesmo o pessoal que a acompanha são amigos pessoais do candidato, enquanto as passeatas só contam com a presença do povo se forem buscar nos bairros, e até no interior, além do lanche e refrigerante. Ninguém vai espontaneamente para uma passeata ou para os comícios. Só os candidatos e o partidos que os apóiam. Até mesmo os meninos que apareciam para balançar bandeiras nas esquinas mais movimentadas, estão desaparecendo. Ou o eleitor está desmotivado, ou não há recursos para campanhas gigantescas. O mês de julho foi gelado em termos de movimentação dos candidatos. É possível que agosto e setembro registrem maior presença de quem está disputando Câmara e Prefeitura. Os eleitores estão ficando cada vez mais sabidos. Cansaram de servir apenas de massa de manobras. Tomaram consciência de que sua importância só se mantém até a hora que tecla o número do candidato. A partir daí são abandonados, tornam-se descartáveis. São raras as casas em que se vê fotografias de candidatos bem expostas. E isso é uma jogada para valorização comercial do voto. Quem aparece será sempre bem recebido e festejado, tem a garantia do voto de toda a família, inclusive dos parentes que moram em outros bairros, desde que deixe alguma coisa para a família, eternamente com desempregados e cheia de necessidades em casa. Inclusive a mudança do telhado que está caindo ou da fossa estourada. É uma forma de faturar mais, de quem sempre chegou ao poder através da “grana que move e destrói coisas belas”, sem ter compromisso com ninguém. Qualquer candidato que aparece é faturado em alguma coisa. Mas essa frieza certamente é a grande decepção do eleitorado com os seus políticos, com todos aqueles que votaram nas eleições anteriores, e a vida velha de gado não mudou nada. Continuam sem emprego, sem comida, sem escola, sem saúde, sem segurança e morando nas vilas miseráveis, como animais. Estão cansados disso e começaram de acreditar em palavras que se perdem no tempo e se transformam em mentiras depois das eleições. Talvez seja tudo isso, uma frustração exposta com as eleições para presidente, onde essa gente foi às ruas defender um operário para presidente, na esperança de que o pobre teria melhores condições de vida e o Brasil seria bom para todos. O efeito Luiz Inácio Lula da Silva foi decepcionante para os descamisados (só para lembrar Collor, que também transmitiu essa esperança, que acabou em pizza). É possível que tudo isso esteja esfriando essa campanha. O povo quer muito mais do que simples promessas, do que mentiras, do que discursos. O povo quer verdade, quer solução e não aceita mais pronunciamentos repetitivos e demagógicos de quem quer usá-lo apenas para chegar ao poder. O eleitorado está mudando, está tendo outra concepção do cidadão que aparece em suas casas, de quatro em quatro anos, para angariar votos e conquistar poder. O eleitorado mudou, mas os políticos permanecem os mesmos. Entretanto, seria bom que os dois mudassem. Que os profissionais da política não fossem em busca do voto de uma sociedade massacrada, para depois trabalhar ou votar contra ela, atendendo a interesses de uma elite que comanda todos os segmentos desses podres poderes. Sempre ficando com a parte maior do bolo e jogando migalhas ao povo. Está na hora de uma reciclagem de pensamento e saber que o poder só chega através da vontade dessa sociedade, que não pode mais acreditar em salvadores da pátria, porque sente na pele o resultado do voto dado. Evidente que ainda existem eleitores que vendem sua consciência ou estão atreladas a cabos eleitorais, que a mantém à base de esmolas para remédios, alimentação, óculos e algumas necessidades menores. Mesmo assim, há uma maioria esperta, que ganha de todos e não vota em nenhum ou já tem candidato certo, escolhido pela sua consciência, mas que não deixam de faturar alguma coisa com outros que aparecem. Mas, dentro de uma visão mais panorâmica da qualidade do voto, a sociedade está mais cuidadosa e sabe o que pode ser melhor para sua cidade. Enfim, não se fabricam mais eleitores idiotas como antigamente… JOSÉ EDUARDO Políticos de vários partidos, que formam o bloco oposicionista, fizeram ontem uma manifestação ao presidente da Petrobrás, José Eduardo Dutra (PT) no aeroporto. Os manifestantes entregaram um documento a Dutra, solidarizando-se com ele, contra as acusações que lhe foram feitas pelo governador João Alves Filho (PFL). LIDERANÇAS Estavam lá lideranças do interior, sindicalistas vinculados ao Partido dos Trabalhadores e aliados fieis a José Eduardo Dutra. Do aeroporto o pessoal saiu em carreata para levar José Eduardo Dutra até o seu apartamento, no Jardins. COMITÊ A deputada Susana Azevedo, candidata a prefeita pelo PPS, inaugurou o seu comitê com a presença de aliados e candidatos proporcionais. O governador João Alves Filho não compareceu porque teve que viajar a São Paulo, para acompanhar a neta, que continua com problemas de saúde. ROBERTO O presidente regional do PPS, deputado Roberto Freire (PE), também não pode comparecer ao ato de inauguração do comitê da candidata. A ausência de Freire foi considera boa por um dos deputados federais, que considera o parlamentar pernambucano um homem de poucos amigos e que divide o PPS. CHAPÉU O deputado Gilmar Carvalho (PV), em resposta ao seu colega Fabiano Oliveira (PTB), diz que também na sua cabeça não coube o chapéu da Energipe. Acrescentou que toda a Assembléia sabe que ele tem votado com a oposição, em praticamente todos os projetos do Governo João Alves Filho. DISCURSO Na próxima terça-feira o deputado Gilmar Carvalho fará um pronunciamento na Assembléia, oficializando seu engajamento total na bancada de oposição. Dirá que fará isso para não permanecer isolado na Assembléia. Gilmar guarda lições da Comissão de Ética e acha que deve escolher melhores aliados. DEBANDA Alguns candidatos do Partido Verde devem abandonar a candidatura da deputada Susana Azevedo e estão conversando com Jorge Alberto (PMDB). Um deles vai a Déda (PT). O problema dessa debandada é a falta de estrutura para a campanha. Os vereadores, até o momento, não tiveram acesso a absolutamente nada. PAIXÃO O deputado federal Ivan Paixão (PPS) disse, ontem, que a campanha eleitoral está fraca em todos os cantos: “na capital e no interior a coisa está parada”, constatou. Segundo Paixão, apenas os candidatos do PT estão aparecendo, com santinhos à vontade e outdoor até para que disputa a Câmara Municipal. REUNIÃO Ivan Paixão viaja segunda-feira ao Rio de Janeiro, para participar de uma reunião da Executiva Nacional, presidida por Roberto Freire. Segundo Paixão, será discutido o documento “Sem Mudança, não há Esperança”, que é uma crítica pesada ao modelo adotado pelo presidente Lula. COM CIRO O deputado Ivan Paixão está vinculado ao grupo do ministro Ciro Gomes, que deseja uma tomada de posição moderada e olhando as perspectivas do partido no futuro. Analisa que o PSDB está se fortalecendo, em São Paulo, Rio e Minas, o que força o partido a analisar como será a disputa pela Presidência em 2006. MUDANÇAS O governador João Alves Filho fará as mudanças que forem aprovadas pela Assembléia Legislativa, mas não ficará apenas nessa parte institucional. Há perspectiva real de alteração no corpo de auxiliares, porque a partir de janeiro do próximo ano, a máquina tem que estar melhor sincronizada. CARREATA O candidato do PMDB à Prefeitura de Aracaju, deputado Jorge Araújo, faz uma carreata hoje, pelas principais avenidas da capital. Diz que é a arrancada de sua campanha. Jorge Alberto passou a tarde de ontem distribuindo panfletos e adesivos na zona sul, convocando o eleitorado para a carreata. PÓS-ELEIÇÃO O pós-eleição municipal vai provocar muita mudança política na capital e interior, porque existem insatisfações internas nas oposições e no grupo do Governo. Para se ter uma idéia, tem uma legenda que hoje está na oposição, mas vem conversando muito com setores da situação. É questão de milímetros… JULGAMENTO Na próxima semana o TRE deve julgar todos os recursos de impugnação de candidaturas, impetrados por candidaturas do interior, o que deve ocorrer um esforço concentrado. Caso ainda haja apelação para Brasília, o STE tem até o dia 14 para julgamento. Até lá, quem tem processo de impugnação está caminhando com precaução nesta campanha. Notas RECONHECE O deputado estadual Luiz Garibalde Mendonça (PDT) reconhece que o Governo do Estado cometeu um grave erro ao não ter encaminhado, à Assembléia Legislativa, os projeto do Executivo, elaborado pela Fundação Dom Cabral, que promove mudanças no organograma da Administração Estadual. No seu entender, isso facilitaria a aprovação do PEC que autoriza as mudanças, porque os parlamentares tinham acesso ao projeto de mudança e não esperaria para só depois analisar e apresentar suas emendas. MARKETING Os candidatos a prefeito já estão com suas equipes de marketing prontas. O prefeito Marcelo Déda (PT) está com os publicitários locais, Paulo Lobo e Tarciso Eduardo, mas contará com ajuda da empresa que trabalhar nacionalmente para o PT. Susana Azevedo (PPS) ficou com a “Engenho Novo”, da Bahia. O deputado federal Jorge Alberto vai trabalhar com a Total Comunicação e Renato Sampaio tem a Mídia Publicidade. Adelmo Macedo (PAN) e Vera Lúcia (PSTU) querem encontrar simpatizantes que banquem a produção. DISCUSSÃO Uma discussão forte entre os deputados Francisco Gualberto (PT) e Walker Carvalho (PFL), que pode dar em processo. É que Gualberto acusou Walker de ter sido eleito comprando votos. O deputado pefelista disse que entraria com uma ação na justiça, para que ele provasse as acusações. Gualberto, mais apressado, queria ontem mesmo ir à justiça para provar que Walker Carvalho comprou votos, com o objetivo de eleger-se deputado em 2002. Gualberto diz que Walker não tem mandato legítimo. É fogo A oposição acha que as mudanças que o Governo fará no Estado vão prejudicar os funcionários públicos. O bloco governista garante que os funcionários serão preservados e não terão nenhum prejuízo. Ulices Andrade (PSDB) justificou seu voto favorável ao PEC, porque seu partido já fez a mesma experiência em Minas Gerais e deu certo. O deputado Belivaldo Chagas (PSB) disse que não fez patrulhamento ao voto do seu colega Ulices Andrade. O deputado Antônio dos Santos (PSC) acha que o PEC assegura ao Estado condições para que possa economizar recursos. Ana Lúcia (PT) acusa o Governo de não mandar projetos essenciais para discussão na convocação extraordinária. Com a divisão das oposições, o prefeito José Franco (PPS) está na vantagem em Nossa Senhora do Socorro. Canindé do São Francisco continua com uma campanha complicada, porque dois dos três candidatos foram impugnados. Apesar de operado do joelho, o prefeito de Poço Redondo, frei Enoque, está em campanha para eleger sua candidata à Prefeitura. Augusto Bezerra (PMDB) diz que o que sobrar para o Governo com a transformação de empresas em autarquias, será investido no desenvolvimento do Estado. O temor de que a inflação ultrapasse o teto da meta deste ano, de 8%, levou o Banco Central a manter os juros em 16% ao ano, na reunião da semana passada. A inflação medida pelo IGP-M apresentou um pequeno recuo pra 1,31% em julho, após atingir alta de 1,38% em junho. Por Diógenes Brayner brayner@infonet.com.br

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