É uma tentativa desesperada de ambos: os pais, para que os filhos tenham um futuro, não sejam apenas mais um na multidão: não enveredem pela senda do ócio, da malandragem, do vício ou do crime etc…
Do outro, são os próprios filhos que lutam para se verem livres do que denominam “as amarras” dos pais e da sociedade.
É neste choque de opiniões que ambos perseguem um mundo ideal. Todavia, na maioria das vezes, o que encontram é exatamente aquilo que tentam evitar. Erram os dois.
Os pais, por não saberem lidar com a situação e, em vez de se fazerem entender, se fazem evitar; em vez de levarem os filhos a seguir os passos idealizados naquilo em que acreditam, fazem com que eles tomem verdadeiras aversões a tudo o que emana de seus genitores e, às vezes, repulsa aos próprios genitores.
É que o filho, infante ainda, com a sua natureza, abertamente contestadora, vê os ensinamentos e admoestações paternas como peias à sua liberdade. Algo que o impede de descobrir sozinho a sua trilha.
Normalmente, sente-se ofendido quando lhe é feita uma recomendação, lhe é pedido para fazer ou deixar de fazer alguma coisa. E que, por isso, segue, quase sempre, em caminhos contrários ao dos seus pais.
Por incrível que pareça, é tão forte este sentimento, que chega, por vezes, a construir barreiras que, sem perceber, o transforma contrário a qualquer idéia, desde que emane de seus pais.
Este sentimento ultrapassa os portais da casa em que reside, indo colidir com professores, religiões, governos, etc. Lembram o seu tempo de rebeldia?
O arrependimento, o entendimento e, às vezes, até o remorso pela oposição e desrespeito àquelas “chatices” paternas chegam muitos anos depois, exatamente quando já têm seus próprios filhos é a sua vez de passar aquelas mesmas ladainhas para os seus próprios filhos. É aí, neste momento que entendem a verdadeira utilidade daquilo que o “velho” dizia e ensinava. “É, o meu velho tinha razão. Eu deveria ter seguido os seus conselhos. Como eram sábias aquelas palavras”. Mas, aí deparam com a mesma realidade de algumas décadas passadas. E a vida continua, a roda gira, e mais embates acontecem.
Onde erramos? O que devemos fazer para evitar? Alguém teria aí uma fórmula para nos sugerir?
Não. Não houve erro. Nenhum das duas gerações de pais sabia o que era, nem onde estava o ponto de equilíbrio. Para a nossa conformação, devo dizer que isso não é coisa nova. Existe desde as mais remotas eras: sempre houve esse embate. A Bíblia registra, em vários capítulos, situações de desobediências, veladas ou explicitas, e/ou obediências extremas. A história, de igual sorte, está recheada de exemplos.
O problema, segundo Paulo Gaudêncio, reside no encontro da estrutura já montada pelos que estão aqui e as desorientadas expectativas e idéias dos que vão chegando. Ele diz: “jovem é quem caminha com idéia; velho é aquele que se estrutura, que acha ter atingido a verdade final”.
Quem já está, imagina saber de tudo. Está, como se diz com a “práxis”, o que chega acha que não, que tudo, inclusive a práxis, é ele quem traz. Aí acontece o embate. Quem está, tem a tese; o que chega traz a antítese e a crise acontece.
O mestre Paulo Gaudêncio diz também que: “a crise é eterna, a crise é sinal de que a coisa está viva e que a crise é necessária”.
Não há como discordar dele. Porém, todos nós, eu acredito, não gostamos de crise. O conflito nos tira do eixo, é desconfortável, exige muito da gente, desordena a nossa caminhada, induz-nos a justificar os nossos próprios atos, coloca-nos, enfim, em lados opostos e, cada um tem que criar o seu mecanismo de defesa, acontecendo aí, exatamente aquilo que menos queremos, a divisão. Passamos por ela, mas não a desejamos. Crise para nós é uma coisa ruim. O que fazer então?
Se há necessidade da crise, é para que nos depuremos e caminhemos depois mais fortalecidos. Porém, experimentar crises é sempre doloroso. Como também constatamos que a sua ocorrência não é nenhuma novidade. Nós somos testemunhas disso.
O que é fazer, afinal?
Já temos, então, a tese e a antítese o que falta? A síntese. Aí, sem dúvidas, teremos o ponto de equilíbrio.
A síntese, esse ponto de equilíbrio, é encargo dos que já têm a estrutura, dos que já estão, há mais tempo, aqui. Somos nós, os pais, que temos a obrigação de aprender a lidar com as idéias dos que chegam sob a nossa responsabilidade.
Aprender? Aprender como? Não existe uma escola própria para ensinar a conviver com estas idéias, para nós estapafúrdias, trazidas pelos nossos filhos. Por outro lado, quando eles chegam, não trazem um manual de instrução de como cuidar deles, mantê-los e criá-los, educá-los. Somos sempre analfabetos nessa matéria. Não existe uma escola preparatória para pais. Não há uma graduação para que exerçamos, com um pouco de proficiência, a missão mais importante de nossas vidas, que é construir, no nos compete, a vida daqueles que nos são entregues por Deus
Não há escola, não há receita, não há fórmula milagrosa, não há manual. Há apenas um caminho. Que é mais um sacrifício do que uma certeza de que dê certo. É o comprometimento, o exemplo, a dedicação, o interesse, a paciência, a presença, o diálogo… E, sobretudo, O AMOR!