O ENEM, o SARESP e o dolo de ninguém.

Quase 40 dias após o adiamento do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), motivado pela quebra de sigilo das provas, eis que acontece um novo incidente. Desta vez não se comprovou o vazamento do conteúdo das provas. Mas, no contexto geral produziu prejuízos vários e o adiamento das provas; igual ou quase igual, no contexto geral do exame.

 

Agora o problema aconteceu com o exame da SARESP (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), prejudicando 2,5 milhões de estudantes, segundo notícia de Ricardo Westin veiculada no UOL (10/11).

 

Este exame da SARESP vem sendo realizado desde 1996, com o objetivo de avaliar a qualidade do ensino ministrado pelas escolas estaduais do estado de São Paulo, e é constituído de questões de português, matemática, história e geografia.

 

Trata-se de um exame obrigatório para as escolas estaduais, recomendado para as municipais, opcional para as particulares, e dele participam os alunos dos ensinos fundamental (segunda, quarta, sexta e oitava séries) e médio (terceiro ano).

 

Concebido com a melhor intenção de avaliar para melhorar o ensino, o resultado do SARESP ajuda a compor o IDESP (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) de cada escola paulista. Um índice que institui uma motivação ou uma competição pela qualidade, definindo um bônus a ser concedido aos professores e funcionários da escola, se esta for bem avaliada, gratificação que pode atingir 2,9 salários extras no ano.

 

Pelo que se conhece, por tradição atual nacional, esta gratificação tem sido repelida pelos chamados “trabalhadores da educação”, que a querem indistintamente para todos; aí incluídos os professores relapsos, incompetentes, faltosos e vagabundos, existentes e em crescente maioria, e que resistem a toda e qualquer política de avaliação do ensino, sobretudo se contiver uma taxionomia que lhes dê nota, revelando-lhes o valor e a desvalia.

 

Sim porque, quando se fala no mau ensino, o politicamente correto mascara esta valia, atribuindo-a a um fugaz traço de minoria, algo que não se enxerga com lupa ou microscópio, embora tal dimensão aparentemente curta, tenha se revelado por conseqüência, tão viral quanto letal, no contexto geral do ensino estatal.

 

Será injusto, inconsequente e irresponsável dizer que o ensino público resta pior, sobretudo a cada greve; por pisos, contrapisos e outras faltas de sisos, como o democratismo da escola mal gerida em excessos de demagogia, sem nada que represente um esforço de melhoria em didática ou pedagogia?

 

Não será esta luta salarial de aparência tão justa e necessária, um descabido abuso, pela repetição em eco de cascata interminável, todos os anos, o ano inteiro, sem exceção; seja no governo de João, de Deda, ou do cara de santo ou de cão, que estiver no palácio e na ocasião, só para mostrar que há algo de funesto na sua geração de tanto descontentamento?

 

E a despeito de toda esta insatisfação docente que não para, não arrefece, não enseja suicídios ou voluntária demissão, não será o jovem a única vítima?

 

Justamente a mocidade, que não tem nada a ver com isso, mas vira massa de piquetes, joguete de malaquetes, aí incluídos os safados e sem vergonhas, sempre travestidos em bons fados, inoculadores de todas as peçonhas, que sem antídoto nem defensores, envenenam a educação em ação mais destrutiva que a desnutrição vinda do berço?

 

Será tudo isso um exagero de reflexão, falar que esta ação professoral tem sido mais nociva e verminal que a fome e a desnutrição vinda do berço?

 

Ora, a fome, a desnutrição, a falta de aleitamento materno, as Biafras corriqueiras no mundo inteiro, e que no nordeste constituíam endemia, a suscitar ensaios socioantropológicos, hoje constituem um fenômeno menor. Os programas estatais de melhoria de renda, tipo bolsa família, têm resgatado tal carência, e até o programa fome zero vem sendo esquecido nos discursos presidenciais, por não constituir mais uma novidade temária.

 

No entanto o ensino público virou a quinta besta do apocalipse, só para usar o mote da saga da miséria humana, que sem guerras, pestes, morte e conquista, ceifa inexoravelmente a esperança de vida dos nossos jovens supridos pelo mau ensino.

 

Resiste, porém, o mau ensino, sobretudo o público. Uma verdade que não necessita de provas e exames gerais tipo ENEM, SARESP, ENC-Provão, etc, para ser comprovado. O resultado pode ser visto nos concursos vestibulares das universidades.

 

Mas, como o vestibular separa a boa cepa da erva daninha, os idiotas da igualdade entendem que todos precisam ser nivelados por sermos iguais, daí ser necessário uma borrachada geral para apagar e modificar o resultado do exame, uma terraplenagem arruinadora de modo a evitar desníveis entre o sábio e o bronco.

 

Assim, o concurso vestibular vem sendo violado, e modificado, como se fosse possível inventar uma prova fluida que force a borbulha virar âncora, afundando sem coalescer, e o chumbo flutuar como o esconjuro de um sonho obscuro, sem pensar nos peixes, nos crustáceos e nos anuros, seus elementos em circundância, que se perderão afogados sem socorro, a besta, a lesma e o burro.

 

Sim, porque vem incomodando demais a concepção de qualquer prova que constate a realidade do mau ensino público, comparado ao privado.

 

Assim, é preciso encontrar uma maneira da rosa virar azul, de desfibrar o viril, dar novo verniz à asa da barata, invertendo a ordem da classificação, ou então deixando tudo ao critério do acaso, da loteria, do jogo de porrinha, alguma coisa comezinha que nivele e iguale oportunidades; uma tolice de muitos arautos.

 

Mas, enfrentando estes pregoeiros, o estado brasileiro vem tentando solucionar o problema com a avaliação do ensino, uma tentativa iniciada no governo do PSDB, que bem ou mal vem sendo continuada pelo governo petista.

 

Como é difícil realizar uma avaliação séria? Que o digam os professores, rotineiramente convidados a concederem graus indevidos em aprovação a quem não tem mérito? Sim, porque há os adeptos das aprovações sucessivas, tudo sendo empregado para evitar o abandono e a evasão escolar. Este, considerado um mal bem maior, por escamoteação do problema.

 

Assim, todos se colocam contra a avaliação; mestres, alunos, sindicalistas e até as firmas que realizam as provas, em falta de zelo e desapreço à segurança e sigilo das provas, caso do ENEM, em grande escândalo nacional, e agora com o SARESP, com a não confecção das provas no devido tempo.

 

Como todo assunto deste tipo enseja um debate eleitoral, quando houve o último escândalo de vazamento das provas do ENEM, o Sr. Paulo Renato de Souza, ex-ministro da educação do governo Fernando Henrique, e atual secretário do governo José Serra, criticou o MEC, dizendo que fora uma “falha lamentável” e que o ENEM “não é uma coisa com que se possa brincar”.

 

Agora, o secretário está no olho do furacão. A empresa responsável pela elaboração, impressão e aplicação das provas não conseguiu imprimir a tempo e as provas tiveram que ser desafortunadamente adiadas.

 

“O grande problema foi que o CAEd (Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação) nos omitiu os problemas. Tivemos uma reunião na quarta passada e não nos disseram nada. Só nos informaram das dificuldades no sábado à noite, quando restava pouco tempo” disse o secretário paulista.

 

Pelo que foi apurado pelo UOL, primeiro, o CAEd teve problemas com a gráfica contratada em São Paulo. Uma das impressoras quebrou há semanas da aplicação da prova e a nova gráfica ficou com pouco tempo para imprimir as provas. Quando já não havia mais tempo, o CAEd informou a Paulo Renato que não daria conta da distribuição das provas a tempo do exame previsto para terça (10), quarta (11) e quinta-feira (12).

 

Era sábado (7) e o secretário chegou a enviar 150 pessoas no domingo para ajudar a grampear e empacotar o material. Um recrutamento às pressas em perigo ao vazamento do sigilo que se revelou insuficiente, pois mesmo assim, metade das provas ainda não havia sido enviada às escolas ontem de manhã.

 

“O atraso não é culpa da Secretaria da Educação. É culpa do CAEd”, disse Manuel Palácios, o encarregado da realização do exame.

 

O CAEd é uma instituição ligada à Universidade Federal de Juiz de Fora que aplica exames similares em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Ceará que foi escolhida mediante licitação. No caso de São Paulo, o CAEd deveria entregar a tempo, sete milhões de provas, num contrato de R$ 25 milhões.

 

Há informação de que o contrato prevê uma multa para cada dia de atraso no SARESP, não se conhece, porém o seu valor.

 

Sabe-se, que independente de multa, pedidos de reconsideração ou futura demanda judicial, o exame não aconteceu na data prevista. Foi adiado para a próxima semana (17, 18 e 19 de novembro), o que não será nada demais, sobretudo se não resultar num escândalo maior.

 

No outro lado do balcão está o alunado sempre esquecido e prejudicado, e sem poder recorrer, reivindicar e requerer uma indenização para o desmando acontecido. Se já vive refém do grevismo e das paralizações rotineiras, agora tem que passar por estes desapreços de provas adiadas e/ou sigilos quebrados.

 

Há deliberadamente um complô contra a educação? Se não há, é preciso que o estado cobre e seja cobrado diante de tanto desmando e ineficiência.

 

Mas, quem irá cobrar de quem, se o crime de muitos vira dolo de ninguém?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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