O Escritor

 “Escritor é aquele que escreve

para transmitir alguma ideia,

seja ela científica ou literária,

objetiva ou subjetiva.”

Tato Shimum, escritor e poeta.

 

 

O escritor é um semeador de cultura,

um irradiador de costumes e um

mantenedor da memória.

Domingos Pascoal

 

Neste instante, enquanto você ler as poucas linhas deste texto, muita coisa está sendo feita em prol da cultura e da nossa História. Muitos ainda estão debruçados, refletindo sobre o passado, tentando trazê-lo à lume, para que possamos, usando aquelas experiências, caminhar melhor no momento atual e com mais segurança possamos preparar o nosso futuro.

É verdade, reconhecemos, com pesar, que este tipo de busca decresce à proporção que o tempo passa e outras ocorrências se antepõem desviando o foco, afastando pesquisadores e possíveis investigadores da História para outros lados bem menos nobres. Lamentavelmente isto acontece de modo mais evidenciado em nações que ainda não encontraram um ponto de maturação suficiente para entender o quanto é importante os arquivos da memória para a sustentação de um futuro promissor. Enquanto em países mais esclarecidos e sabedores do valor que tem o seu passado preservam com carinho e respeito um pedra onde sentou, em anos idos, um grande homem, aqui sem nenhuma justificativa, destruímos como aconteceu em Boquim, um obelisco, construído pela Academia Sergipana de Letras em homenagem a Hermes Fontes. Enquanto em outras culturas incensam personalidades que, às vezes, nem tanta representatividade tiveram, aqui jogam para o canto mais escuro do esquecimento figuras proeminentes que muito fizeram e representaram,  justificando o que verbalizou, certa feita Manuel Cabral Machado e, mais recentemente, o nosso vice-presidente José de Alencar, in memoriam, com as suas declarações, coincidentemente iguais: “Não temo muito a morte, tenho medo do esquecimento”. 

Estamos a cada dia refletindo menos e seguindo o automatismo do presente, relegando, não sabemos para quem, aquela verificação tão sublime dos que fizeram o que temos até aqui.  Mas, como disse, para nossa glória ainda existem aqueles que com muito sacrifício dedicam toda a sua vida e o seu ideal no buscar difícil, constante e incompreendido da História e da Cultura de nosso povo.

São mecenas que, somente pelo amor ao povo e à terra, se expõem ao sacrifício desta hoje “desvalorizada” procura. São eles que, às vezes, já na tenra juventude, abrem mão de carreiras que poderiam, com certeza, trazer-lhe um melhor futuro e dedicam-se, de corpo e alma às duvidosas jornadas do pensar, do pesquisar e do escrever sobre a vida, o passado e o futuro, plantando sementes que, quase certo, infelizmente, não darão bons frutos, pois, como já dito, pouco interesse desperta no meio que deveria valorizar.

No nosso Sergipe, agora mesmo, neste momento, para nossa tristeza, estamos testemunhando este fato: o nosso maior pesquisador, historiador e escritor, Luiz Antônio Barreto, que manteve por 27 anos o Instituto Tobias Barreto, com uma biblioteca de vinte e seis mil títulos, todos representando obras raras sobre Sergipe e a sua gente, sem dúvida, um dos maiores acervo deste Estado, sentiu-se forçado a fechar as portas e encerrar suas atividades.

Sem grande alarde é apagada uma chama que conectava o passado ao presente, com sabedoria, esforço e doação. É silenciada uma voz deixando órfãos os pesquisadores que terão, a partir de então de se valer dos únicos bastiões que sobrevivem às duras penas: Academia Sergipana de Letras, Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, Biblioteca Epifânio Dórea entre poucas outras fontes existentes, que se completavam muito bem com o Instituto Tobias Barreto.

Atenção! Não tenho a intenção de criticar nem jogar para os governos, muito menos para os gestores culturais a culpa por tudo. Não. A intenção é mostrar que existe um equívoco na raiz da questão: é um problema da cultura. Culpados? Somos todos nós por nada fazermos para evidenciar e tentar mover o ponteiro para um rumo acertado.

Todo o desenvolvimento da humanidade acontece por intermédio do pensamento, da ideia e, sobretudo, da ação e da realização do pensar e do idealizar. A ideia, o pensamento é, portanto, a base em que se sustentam as realizações da humanidade.

O pensamento é, por assim dizer, o maior responsável por todos os conteúdos bons ou ruins, existentes no mundo. Tudo, antes de existir materializado, foi antes pensado, idealizado.

Platão, com a sua teoria das formas, dividia o mundo em duas partes: o mundo das ideias, onde tudo é constante e real, e o mundo físico em que vivemos, onde o fluxo é constante e a realidade é relativa.

Desde os primórdios dos tempos que o homem se preocupa em registrar e passar à posteridade suas ideias, seu pensamento, suas ações e realizações, usando os mais variados tipos de sinais e materiais, pois deseja que o outro saiba o que ele fez, o que produziu, como fez e por que fez.

Existe, por assim dizer, uma necessidade imanente ao ser humano de fazer História, de mostrar seus acertos e seus erros, de registrar sua passagem pela Terra, legando às gerações vindouras um patrimônio útil e valioso.

Que sejam desenhos rupestres, gravuras monolíticas, tabletes de argila, símbolos cuneiformes, papiros, papéis ou digitais, não importa. Estas são apenas algumas modalidades de registrar para o porvir esta viagem, mostrando os pensamentos, ideias e ações que predominam em determinado espaço de tempo e lugar.

Não é à toa a afirmativa de que fatos tresloucados, como o incêndio da Biblioteca de Alexandria e o cerceamento do direito de dizer, acontecidos em várias épocas e locais do mundo, atrasaram em mais de mil anos o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e do próprio conhecimento do homem, posto que aquilo que foi proibido quer seja pelo terror, pelo fogo, pelas trevas, pela espada, pelo fuzil, pelo garrote, pelo porrete ou pela simples apatia cultural, nos arrancou a oportunidade de estarmos, sem dúvidas, milênios à frente. Isto significa afirmar que eventos que só agora estão aparecendo e que as chamadas, “re-voluções” (agrícola, industrial e da informação), – que teimo em afirmar: trataram-se, na verdade, de “e-voluções”, e não “re-voluções”, uma vez que foi nestas oportunidades que a humanidade mais evoluiu. Foi exatamente com o advento destas inovações que o mundo progrediu e, mais, andou para frente sem recuar nunca ao status quo, ou seja, estes eventos não estimularam retrocesso, não volveram ao passado, não estimularam à marcha ré, (de “re-volução”), da História. Portanto, significa evolução, e não revolução. 

Onde estaríamos hoje? O que estaríamos experimentando se nenhuma daquelas barbaridades tivessem acontecido? Certamente muito à frente, experimentando coisas bem melhores, pois esta é a busca.

O escritor é, portanto, aquele que registra e divulga este caminhar da humanidade, é aquele que nos permite afirmar, sem medo de errar, que é o maior responsável, também, por todo o desenvolvimento social e das memórias do mundo. Ele, como agente disseminador do pensar, busca, registra e transmite as ocorrências de seu tempo, disponibilizando para o presente experiências e, enquanto possibilita a avaliação no hoje, projeta para o amanhã o conhecimento. Ou seja, o escritor acende um farol do passado para alumiar o presente e projetar seu clarão ao futuro infinito. É o escritor na solidão de suas reflexões que grava e transmite para o além e para o infinito tudo o que ocorre em seu meio e até fora dele. Sua mensagem chega aos mais longínquos espaços, influencia e muda comportamentos, melhora relacionamentos, constrói costumes e cria culturas.

É o escritor, semeador do ouro mais reluzente entre nós existente, “o pensamento”, que nos dá a cada instante um novo rumo para o nosso claudicante caminhar, fazendo com que o presente de fato justifique seu nome e, seja, a cada dia, um presente recebido, por nós, simples passageiros, nesta nave Terra.

Nós, da Academia Sergipana de Letras, estamos tristes com o fechamento do Instituto Tobias Barreto e reconhecemos no esforço do Acadêmico, Escritor, Historiador e Sociólogo Luiz Antônio Barreto um ato heróico e digno de registro, obrigado querido confrade pelo muito que você fez e faz por Sergipe e por sua Cultura.

Agora coma a palavra e a grande oportunidade os ilustres gestores culturais deste Estado que tenham, de fato, a vocação e a condição de absorver esse rico acervo. Refiro-me, entre outros que poderia citar, a Universidade Tiradentes, que tem dado demonstrações claras de ser muito zelosa e preocupada com a memória e a cultura sergipana, sendo hoje mantenedora do fantástico Memorial de Sergipe e ao Banese que em muito boa hora está construindo a maior obra cultural que um banco pode fazer, que é o “Centro Cultural Banese”.  

 

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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