Caroline de Alencar Barbosa
Mestre em Educação na Universidade Federal de Sergipe (PPGED/UFS)
Especialista em Gestão da Educação (UNINASSAU)
Graduada em Filosofia na Faculdade UNINTER
Graduada em História na Universidade Federal de Sergipe (DHI/UFS)
Integrante de Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS)
Aos quase dois anos de isolamento social, questões abordadas na obra de Byung-Chul Han Sociedade do cansaço chamam a atenção, saltam aos olhos, são viscerais e tocam no mais fundo dos seres sociais que, em situação de trabalho Home Office, formato que transforma o lar (home) em escritório (office), e o dito “novo normal”, nunca refletiram tanto sobre suas funções, existências e questões pessoais.
A obra trouxe à tona reflexões em torno das mudanças nas normas sociais. Pode-se perceber que, o que antes se configurava como uma sociedade disciplinar, regrada e em que as filas eram rotina, muda de forma. O trabalho, antes, padronizado e ditado por um chefe, um líder, quase como um “carrasco”, que impunha regras e medo, se transforma. Na sociedade atual, pós-moderna, o indivíduo encontra, nele mesmo, subordinador e subordinado. Assim, nos tornamos carrascos de nós mesmos, impondo nossas regras e nossas pressões.
A frase atribuída ao ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama “Yes, we can!” (Sim, nós podemos!) cerca a nossa rotina. Somos levados, não por outros indivíduos, mas por nós mesmos a uma crise de superprodução para um bem-estar que nunca chega e uma exigência que é interna e que nos sufoca: a de estarmos sempre alertas, dispostos e prontos para atingir a excelência e o sucesso.
A positividade, assim, torna-se violenta para um super desempenho e uma super comunicação, que acabam sendo as únicas maneiras de sermos necessários e importantes dentro dos nichos, dos grupos, aos quais nos inserimos ao longo da vida: a escola, a universidade, o trabalho, a empresa. Partimos para um sistema de academias, centros de estética, aperfeiçoamento acadêmico e estudantil em que nada menos que o primeiro lugar é suficiente. Devemos ser criativos, ter iniciativa e habilidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo, com qualidade e rapidez.
E quando não alcançamos esses anseios? Criados por nós mesmos e por uma sociedade que nos diz que podemos fazer tudo. Na verdade, não podemos. Somos seres limitados, nossa energia se esgota e nos tornamos reféns de outros males causados por essa sociedade, agora extremamente positiva. Em contrapartida, convivemos, na atualidade, com um surto de crises de depressão, ansiedade e, principalmente, a síndrome de Burnout (o esgotamento psicológico causado pelo excesso de trabalho), que nos deixa reféns de nós mesmos e produz o indivíduo que se sente fracassado, pois não alcança o que ele mesmo se cobra.
O depressivo, por exemplo, nada mais é que o indivíduo extremamente cansado de ser nada mais do que ele mesmo. É preciso um olhar mais apurado para as crises de identidade e as cobranças feitas socialmente, pois nunca se precisou tanto de tratamentos psicológicos, métodos de meditação, nunca se venderam tantos livros de autoajuda, nem se consumiu tanto a “tarja preta”.
Diante do exposto, podemos afirmar que nossa sociedade está caminhando para um abismo de intolerância ao tédio, de incapacidade contemplativa, hiperatividade, neurose e de uma multitarefa quase que animalesca, em que devemos “dar conta” de tudo. É uma época em quem, segundo Han, “os inquietos nunca valeram tanto”. E a questão que deixamos para reflexão seria: aonde esse surto de positividade, de necessidade de tudo posso e tudo faço vai nos levar?
Para saber mais:
HAN, de Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Editora Vozes, Petrópolis, Rio de Janeiro, 2017.