O exército de Isabel Marant

Convenhamos que não é fácil gostar, logo de cara, de um tênis que, além de velcro, tem um salto embutido e solado de borracha cor bege. No entanto, contra muitas probabilidades, os chamados “sneakers”, lançados primeiramente pela Isabel Marant, não ganharam apenas as ruas de Paris, mas as de qualquer lugar do mundo que tivesse alguém minimamente ligado aos lançamentos de moda. Aconteceu mais ou menos como há algumas temporadas, quando os tamancos com salto de madeira que a Chanel colocou em sua passarela proliferaram feito peste.

Proporções exageradas marcam o modelo /Foto: divulgação

O roteiro é previsível e sem grandes desdobramentos. Uma grife lança uma aposta improvável e ousada, algum ícone de estilo tipo Alexa Chung ou Beyoncé  usa e pronto. O atestado de vendas foi dado e tudo quanto é grife começa a criar suas versões – em alguns casos, imitações. O tênis com salto não é mais produto, é necessidade. E as mais entusiasmadas colocam seus nomes em listas de espera nas lojas para garantir o seu par que corre o risco de não calçar tão bem assim.

Como você pode deduzir, sempre que eu cruzava com uma mocinha do exército de Isabel Marant ficava meio incomodada porque todas me pareciam iguais. Eram as mesmas calças justas de couro, combinadas com tênis de proporções exageradas e camisas de seda ou acessórios com toques de neon. Era sempre o mesmo amontoado ambulante das últimas tendências da estação.

Hoje, continuo sem nutrir muita simpatia por esses tênis. Mas admito que já vi algumas composições legais. E sabe por que eu as achei legais? Não é porque tornavam o tênis que está na moda o protagonista, mas porque o faz coadjuvante. Apenas mais uma peça que compunha um estilo e revelava uma personalidade.  Quase um experimento. E para mim, moda também é experimentar.

O maior mérito dessas febres é que elas nos tiram da nossa zona de conforto. Vemos tanto neon, tantas peças de couro e tantas saias com cortes assimétricos e ousados que passamos a considerar a possibilidade de experimentar e isso é saudável. Isso instiga e atiça a criatividade. Continuo dispensando os tênis com saltos embutidos, mas esboço um sorriso quando os vejo calçando os pés de alguém que não parece manequim duma loja qualquer.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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