O fantástico mundo de João Alves

“Quando dizem que a obra da Praia da 13 de Julho anda no ritmo melhor que as obras do 17 de Março eu discordo. Eu acho que o ritmo das obras do 17 de Março, Santa Maria e Marivan é lento tanto quanto o ritmo das obras da 13 de Julho”.

Engana-se quem acredita que essa crítica à lentidão na execução de obras pela gestão do Prefeito João Alves Filho partiu de algum vereador da oposição ou de algum jornalista político. O responsável pela afirmação acima foi ninguém menos que José Carlos Machado, vice-prefeito de Aracaju, durante entrevista concedida esta semana.

E Machado disse mais: “Eu não aguento! Onde eu chego é reclamação sobre o andamento dessas obras. Há alguns meses me disseram que a prefeitura não tinha o controle porque era inverno, mas agora necessariamente nós temos o controle. Eu não sei, eu não tenho explicações para esses atrasos. Eu até busco, mas não tenho resposta e a população está certa em reclamar”.

Mais do que evidenciar a paralisia da gestão João Alves, as afirmações de Machado escancaram que o Prefeito da capital sergipana parece viver em um fantástico mundo, em que Aracaju parecer ser qualquer outra cidade menos a própria Aracaju.

Esse fantástico mundo de João Alves, em que só vivem ele e seus secretários mais próximos e que tem como porta-voz o Secretário Carlos Batalha, é colorido por uma propaganda institucional enganosa e por discursos sem qualquer amparo na realidade da cidade.

Tomemos o exemplo da saúde pública municipal. Em recente discurso na Câmara de Vereadores, o Secretário de Saúde, Luciano Paz, disse que o atendimento nos hospitais Nestor Piva e Fernando Franco “melhorou muito”. Segundo o secretário, a Prefeitura conseguiu “estabilizar a escala de trabalho profissional, não faltam médicos, nem medicamentos e toda a estrutura vem funcionando totalmente”.

Não precisa ir muito longe para perceber que a percepção do Secretário é, no mínimo, incoerente com a realidade dos profissionais e usuários desses locais. Em visita ao Nestor Piva, representantes do Sindicato dos Médicos de Sergipe (SINDIMED) constataram problemas como pouca quantidade de macas, insuficiência de medicamentos e persistência do problema da escala médica.

O SINDIMED denunciou também que atualmente muitos pacientes chegam ao Nestor Piva levados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, mas por não terem macas à disposição no Hospital utilizam as macas pertencentes ao SAMU, inviabilizando o uso da ambulância de atendimento por outras pessoas. Ao mesmo tempo, o SINDIMED verificou que há no Nestor Piva 12 camas doadas pela Fundação Hospitalar de Saúde, mas que não estão sendo utilizadas porque não foram ainda montadas.

Vejamos agora o caso da educação. Após visita em uma escola da cidade, a Secretária de Educação, Márcia Valéria, disse que fica “muito feliz por percebermos nas escolas o compromisso do cotidiano. As pessoas estão em um dia de trabalho comum e chegamos sem aviso prévio para comprovar a limpeza, a dedicação das pessoas, o uso adequado dos materiais e a alimentação que está sendo oferecida às crianças. O que constatamos mostra que estamos, de fato, no caminho certo”.

Esse “caminho certo”, de fato, apenas a Secretária de Educação deve enxergar. Também após visitar escolas municipais, o vereador Iran Barbosa (PT) verificou outra realidade. Lixo nos pátios e corredores, banheiros sem limpeza e sem condições de uso, janelas e portas danificadas, carteiras quebradas e empilhadas pelos corredores e iluminação precária foram alguns dos problemas identificados por Iran e exibidos por meio de fotografias durante sessão na CMA.

Some-se a essa realidade os constantes atrasos no pagamento dos professores aposentados, a insuficiência de professores e funcionários (não pela falta de profissionais, mas por estarem lotados fora das escolas), o impedimento a alguns professores do exercício legal de licenças e afastamentos e os problemas referentes à terceirização da oferta da merenda escolar.

Esse abismo entre a Aracaju do fantástico mundo de João Alves e a Aracaju real também pode ser observado em outras áreas e setores, como o transporte público, a mobilidade urbana, a moradia e os serviços de saneamento, por exemplo.

As eleições municipais de 2016 já se aproximam e, se até mesmo o seu vice-prefeito diz que não tem respostas para os problemas, João Alves não conseguirá sustentar por muito tempo o seu fantástico (e enganoso) mundo.

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