(Expressão usada por Antonio Barros, um dos maiores compositores de FORRÓ de toda a história, no Fórum do FORRÓ em maio de 2005 em Aracaju.) EdmirPelli é aposentado da Eletrosul e articulista desde 2000
Por estarmos na semana de São João faço de texto recebido de um participante da Questão do Mês, e de autoria de Ismar Barretto, a Carta desta Semana:
“É realmente uma lástima a desgraça que se abateu sobre o FORRÓ com disseminação dessas “bandas de forró” que na verdade são bandas de lambada, de outros ritmos e outras tendências.
Não precisa ser Maestro para saber que os ritmos (ritmo é a batida, o compasso, a velocidade, digamos assim) e estilos dessas músicas são a lambada do Pará, o vaneirão gaúcho e paranaense entre outros. As melodias (que é o que se cantarola, é o lá, lá, lá, rá) são de todos os estilos, menos de FORRÓ. Além das músicas compostas por eles mesmos, tem dos Beatles, Carpenters, Elton John, Tina Turner, Diane Ross e outras sem nenhuma identificação com a nossa verdadeira música nordestina. As letras são geralmente de dor de corno brega, de gosto duvidoso, sem a menor cordialidade com o português. Os temas principalmente, não têm nada a ver com o nordeste, com o sertão, com o gado, com o amor e a vida simples do nosso povo.
Uma das primeiras dessas bandas que fizeram sucesso, não me recordo o nome mas era Cearense, tinha uma cantora que semitonava em toda a música e na maior parte do tempo desafinava mesmo. Bem. Fez escola. A partir daí quase todas as meninas, seguindo a cantorinha de sucesso começaram a praticar e ensaiar, claro que ouvindo o dito CD, caprichando no semitom e no desafino porque esse era o modelo. Hoje 98,3 % das cantoras das bandas de forró (lambadas e outros bichos menos FORRÓ) cantam quase sempre desafinando ou no mínimo semitonando o tempo todo.
No caso dos homens, o primeiro sucesso foi o nosso Daniel Dial, que apesar não ser desafinado, semitona por escolher o tom sempre muito acima do seu. Fez escola também. Resultado… Todo cantor de banda de lambada e afins canta três, quatro tons acima da sua capacidade e portanto 97,9 % semitona e ou desafina, ficando aquela voz andrógina que não é de homem nem de mulher. Outra coisa triste é aquela mania de gritar o nome da banda e outras palavras de ordem no meio da música. E todas as bandas fazerem o mesmo. Realmente ninguém merece…!.
Ainda tem a parte plástica que apesar de 2,1 % das dançarinas serem bonitinhas, os dançarinos (homens) com aparência de índias famintas e seus cabelos de chapinha fazem uma dança que quando não é um coito em pé (e as vezes até deitados) em pleno palco, a maioria da vezes torna-se ridícula pois não seguem um roteiro, uma direção. Sempre estão tentando coreografar a letra das músicas (ai as letras…!) e ai o palco vira uma Babel. E a isso, meus amigos, eles chamam de FORRÓ.
Sei muita gente não concorda comigo, dizendo que os tempos mudaram, que o FORRÓ autentico é coisa ultrapassada, que o povo gosta mesmo é disso que está aí e etc. e tal. Tudo bem. O povo gosta até de arrocha…! Fazer o quê? Mas porque não chamar essas bandas; de Banda de Lambada, Banda de Vaneirão, Banda de…ou qualquer outro nome. Mas dizer que isso é FORRÓ? É xingar Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Trio Nordestino, Jackson do Pandeiro, Marinês, Elba… Xingar a mim e a você que não tem vergonha, como muita gente tem, de dizer: Eu adoro o FORRÓ! Sou doido por Luis, Dominguinhos, Trio Nordestino, Clemilda, Josa, Amorosa, Jackson do Pandeiro, Marinês, Elba, Zinho, Flávio José, Aldemário Coelho, Sergival, Nando Cordel, Erivaldo de Carira, Zé Américo, Anastácia, Floriano Cabeça de Frade e tantos outros por esse Brasilzão afora que fazem o verdadeiro FORROBODÓ. O FORRÓ é um tipo de música, de ritmo, de letra, de som, de estilo, que espelha a história, a cultura, enfim a vida de um povo. É o jeito caboclo de falar, as expressões como: Cabra da pexte, uma fulô, o profume, móde nóis í aculá, tô esbagaçado móde amô puréla… Essa poesia matuta não combina com lambadas, vaneirões, versões americanas e inglesas e bandas de nomes do mais péssimo gosto sonoro e gráfico. Que façam suas bandas, seus shows e seu público. Têm todo o direito, afinal o sol nasce pra todos. Mas não chamem isso de FORRÓ porque, definitivamente, isso não é FORRÓ.
Peço perdão ao grande compositor Antonio Barros por discordar da expressão, embora admita suas razões em fato do acima descrito. O FORRÓ não apodreceu. O que apodreceu foi o discernimento de grande parte da mídia e de muitos políticos e, consequentemente, o bom gosto do povo.
(Faço questão de escrever em letras maiúsculas quando me refiro ao verdadeiro FORRÓ. Em pé e sem chapéu pelo devido respeito que tenho ao FORRÓ)”.
Quem quiser entrar em contato com o autor do texto pode fazê-lo através do telefone: (0xx79) 8104-3379.
edmir@infonet.com.br
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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