24 de maio de 2008
Caros amigos de Sergipe:
Com a proximidade do São João aí no nordeste, a curiosidade em torno da música nordestina se acentua até por aqui nas terras do vinho verde. Tanto que um velho conhecido meu me ligou outro dia, convidando para um programa inusitado:
-Apolônio, tu tens que ir ao show de Calcinha Preta.
-Como? Não entendi.
-O show de Calcinha Preta, rapaz, dizem que está fazendo o maior sucesso lá na terra onde você morou, disse ele referindo-se a Sergipe, naturalmente.
-Você está me convidando para ir a um show…de calcinha preta?
-É isso aí, Apolônio. Aquela terra está famosa, até Portugal entrou na onda da Calcinha Preta, veja você.
-Os homens também!?
-Claro! Os homens adoram.
-Jura?!
Custei a acreditar que o meu amigo teria coragem de usar tal peça íntima para ir a um espetáculo. Quis acompanhá-lo para tirar a prova.
-Então eu quero ir com você, quando será essa perdição, digo, esse show?
_Amanhã meu bom Apolônio, amanhã às dez da noite no Ginásio de Esportes.
Se quiser, passo aí umas nove e meia, mas por favor, vista-se logo cedo para que eu não fique esperando, ok?
-Sem problema, respondi imaginando onde arranjaria uma calcinha preta para vestir durante este bizarro espetáculo brazuca.
Sabia que não iria me sentir bem usando a tal peça íntima, afinal sou um espada convicto e, por sinal, membrudo. Porém amigos, se todos estavam aderindo a essa nova moda de ir a shows usando calcinhas, quem seria eu para contrariar? Sou um homem antenado com os novos tempos.
Foi aí que me lembrei da sacola que a Etevalda Fausta, uma antiga namorada, deixou no quarto de hóspedes, na esperança de voltar a morar comigo um dia. Que sorte, amigos!
Remexi nas suas roupas mas não encontrei uma calcinha preta.
Tinha calçolas das mais variadas cores e tamanhos, mas preta não. Fui obrigado a tinturar todas de preto. Difícil foi arrumar uma que coubesse em meu corpo apolíneo. Todas eram muito pequenininhas. Aliás, que safada a Etevalda, hein?
Tive que improvisar com um fio dental de lacinhos. Foi a única que deu pra amarrar na cintura. Não me olhei no espelho mas devo ter ficado uma belezura!
Na hora combinada lá estava eu de calça, camisa social e com o chamado cordão cheiroso entranhado nos países baixos. Desnecessário dizer da luta descomunal para acomodar o documento principal e seus anexos dentro daquele microscópico pedaço de pano. E como aquilo incomodava, meus amigos.
Acreditei que com o passar das horas acostumaria com aquele arrocho no buzanfã. Ledo engano. A cada minuto as vergonhas coçavam mais e mais. O show começou e em pouco tempo as pessoas próximas na platéia já estavam notando a minha agonia. Foi aí que resolvi afrouxar um pouco a calça para ver se conseguia folgar os tais laçarotes laterais e aliviar um pouco as banhas. Não deveria ter feito tal sandice. A calça caiu e todos à minha volta tomaram um susto quando me viram naquela circunstância.
Saí corrido do Ginásio sob a maior vaia do mundo e aos gritos de ‘paneleiro’, paneleiro, ´paneleiro’. Só então descobri que Calcinha Preta era o nome da banda, não o traje obrigatório. Que vergonha, meus amigos, que vergonha!
Nunca mais vou à show de bandas sergipanas.
Até semana que vem.
Um abraço do
Apolônio Lisboa