O grande ego da caridade

Ah, o Natal! Época em que muitos celebram o nascimento/aniversário de Jesus Cristo, tempo de confraternizar com familiares, amizades, em ambientes de trabalho, de estudo, em templos religiosos cristãos. O Natal é conhecido também pela diversidade de campanhas de solidariedade realizadas ao longo desse período por pastorais de igrejas, grupos empresariais, pessoas envolvidas com política, movimentos sociais, entidades sem fins lucrativos e órgãos públicos.

 

Mas, vejamos, será que o uso da palavra solidariedade tem sido empregado nessas campanhas de maneira adequada? De acordo com o dicionário de língua portuguesa Aurélio, o estado de ser solidário significa que há “responsabilidade recíproca ou interesse comum, interdependente, recíproco”. Para complementar o significado, repostei um card do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST, com a frase: “Solidariedade não é dar o que sobra, mas dividir o que se tem!”.

 

Pois é, pensando nisso, será mesmo que as campanhas natalinas são solidárias ou caridosas? Ainda em pesquisa pelo dicionário, encontrei o significado da palavra caridade: “disposição favorável em relação a alguém em situação de inferioridade (física, moral, social etc.); compaixão, benevolência, piedade”. Por que precisamos incorporar, de fato, e não somente na teoria, a solidariedade em nossas vidas e não a caridade?

 

Percebam que caridade implica sentir-se superior à outra pessoa, ou seja, uma armadilha do ego para sentir-se bem consigo. Sendo assim, ser caridoso é um ato muito mais voltado para si do que para o outro, uma vez que subjuga as pessoas que estão em uma situação de vulnerabilidade social como se essa fosse a escolha delas, e não por uma questão social e política muito complexa de má distribuição de renda, falta de acesso a direitos básicos, entre outras questões.

 

Portanto, deixo a reflexão para que a gente, enquanto parte de uma sociedade complexa, exerça a solidariedade e não a caridade, e que ao exercê-la, que a gente passe a lutar por garantia de direitos, para erradicar a pobreza, pelo fortalecimento de políticas públicas e pela equiparação social. Esse é o modelo solidário em que acredito.

Boas festas!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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