Andreza Maynard
Doutoranda em História UNESP
Membro do Grupo de Estudos do Tempo Presente – UFS-CNPq
O Grande Gatsby foi lançado nos cinemas brasileiros em 7 de junho de 2013. Dirigido por Baz Luhrmann (que também assina o roteiro e a produção), o filme, com 2h 22 min de duração foi feito nos Estados Unidos e na Austrália. A produção conta com um elenco de peso e tem entre os seus personagens principais os atores Leonardo DiCaprio (Jay Gatsby), Tobey Maguire (Nick Carraway), Carrey Mulligan (Daisy Bunchanan) e Joel Edgerton (Tom Buchanan).
A obra literária de mesmo título e escrita por Francis Scott Fitzgerald serviu de inspiração para o filme. Na verdade O Grande Gatsby (o livro) já foi adaptada para o cinema outras três vezes vezes (em 1926, 1939 e 1974). Em 2000 o texto de Fitzgerald também deu origem a uma adaptação de baixo custo produzida para a TV.
Com um orçamento de US$ 127 milhões, a produção (de 2013) da Warner se destaca pelo cuidado primoroso na caracterização dos personagens, objetos, ambientes e da cidade de Nova York no início dos anos 1920.
A história do filme se desenrola a partir da narrativa do personagem Nick Carraway sobre a amizade com o seu extravagante vizinho Jay Gatsby. Através de Nick, Gatsby se aproxima de Daisy, por quem nutre uma paixão antiga. Porém a moça é casada com o rico e esnobe Tom Buchanan, que não pretende ser abandonado pela esposa.
O personagem de Gatsby é cercado por mistérios. Ninguém sabia ao certo quem ele era, nem qual era a fonte de sua riqueza. Seu estilo de vida e as extravagâncias como grandes festas, um castelo e carrões acendiam a curiosidade de Nick.
Não falta glamour à produção. O mundo dos ricos, brancos e bem nascidos novaorquinos aparece no filme como um ambiente no qual todos se divertem, bebem, dançam, sem se preocupar com trabalho ou qualquer outra responsabilidade.
O Grande Gastby apresenta um mundo encantador, mas cheio de frivolidades. Pessoas vazias de sentimentos e de valores eram capazes de tudo para manter a ordem social intacta. É também um mundo que estabelece barreiras raciais e sociais bem demarcadas. As grandes festas e os prazeres que eram desfrutados em Long Island, a ilha de playboys, destinavam-se a poucos.
Os anos 1920 são prósperos para a economia norte-americana. A Primeira Guerra Mundial havia estimulado a produção para abastecer o mercado interno e a Europa. Falava-se num estilo de vida norte-americano voltado para o consumismo.
Mas esse também foi o período em que a lei seca (1920) fortaleceu o crime organizado e o mercado negro da fabricação e venda de álcool. Pois, conforme se pode ver no filme, as pessoas não deixaram de beber. E embora o comércio ilegal pudesse enriquecer alguém de uma hora para outra, não bastava ter dinheiro para ser aceito nos círculos mais elitizados.
A alta sociedade americana cobrava que seus membros fossem endinheirados desde o berço. Tudo o que representasse uma ameaça ao mundo de aparências em que viviam os bem nascidos era tratado com desprezo pelo grupo.
O filme apresenta a crueldade da segregação racial e social característica do período que o filme busca representar. Os elegantes membros da elite dos anos 1920 olhavam negros, pobres e até mesmo novos ricos com desconfiança. Mas considerando a afirmação de Marc Ferro, de que um filme tem mais a dizer sobre o tempo em que foi produzido do que sobre o passado que busca representar, é possível perceber que O Grande Gatsby tem uma forte ligação com a sociedade norte-americana de hoje.
Os Estados Unidos tem uma história de formação nacional a a partir da imigração. No entanto, não é difícil perceber a relação conflituosa entre os recém chegados, muitas vezes tratados com desconfiança, e os estabelecidos que se esforçam para manter o a identidade do país intacta.
As segregações continuam a existir, mas elas tomaram novas cores, tornaram-se mais amenas e distribuídas. E a contragosto daqueles que sonham em manter as coisas exatamente somo elas estão, a imigração das últimas décadas vem transformando a identidade cultural norte-americana. Os dados estatísticos apontam que os Estados Unidos estão se latinizando, ao mesmo tempo em que o país se torna mais católico.