“Ao futuro ou ao passado, a uma época em que o pensamento seja livre, em que os homens sejam diferentes uns dos outros e que não vivam sós – a uma época em que a verdade existir e o que foi feito não puder ser desfeito.” 1984, George Orwel Estamos vivendo atualmente uma enxurrada de surpresas alucinantes. A meu ver parece que todos os nossos valores morais e existenciais despencam a cada dia, e infelizmente, esperamos ansiosos: “o novo escândalo do dia”. Parece que não tem fim, é como uma rede que vai sendo puxada e cada linha dá origem a outras cinco linhas e assim sucessivamente. Recentemente ouvi uma jovem me dizer que queria ir embora do Brasil, pois não era esse o país que ela gostaria de criar os seus filhos. Num primeiro momento cheguei a pensar, puxa como ela é covarde! Como é fácil ir embora e deixar tudo de lado, e simplesmente não lutar… Daí lembrei que aos 18 anos também queria sair do Brasil, por um motivo bem diferente, não havia liberdade, as pessoas estavam assustadas e eu me sentia preso nesse país imenso. Depois entrei na faculdade, corri muito pelas ruas do Recife, toda vez que tinha uma passeata estudantil e a polícia militar colocava os cavalos nas ruas e os cassetetes de quase um metro. Colegas meus de faculdade foram presos, alguns jovens políticos, outros jovens inocentes que simplesmente estavam na rua errada, no momento errado e eram pobres. Os anos passaram, muitas coisas aconteceram, depois vieram os “caras pintadas” e se instalou a democracia no Brasil. Naquela ocasião pensei que iríamos viver um novo sonho, um país recriado, uma fênix revivida. E hoje, assustando, vejo que os escândalos do dia a dia, não são práticas recentes, mas se tornaram tão engenhosas que ao mesmo tempo por serem tão fáceis fizeram com que os seus articuladores esquecessem que um dia, uma “propinazinha” de R$ 3.000,00 (três mil reais) iria desmanchar um castelo construído a custo do suor e sangue de muitos brasileiros. Como acredito que o universo sempre conspira a favor, com certeza bastou uma pequena brecha para romper o rio de lama que estava contido e, cuidadosamente guardado, por alguns poucos favorecidos. Infelizmente, essa é a verdade, a verdade real e verdadeira. A verdade que humilha, que dói, que desanima. A verdade que corta a pele daqueles que trabalham duro, daqueles que pagam impostos recolhidos ainda na fonte, aqueles que lutam para construir com o seu trabalho um Brasil melhor, mais justo, mais humano, mais competitivo. Quando eu tinha 18 anos sonhava por um Brasil verde a amarelo, verdadeiro, hoje só percebo esse Brasil verde a amarelo por ocasião das copas do mundo. Antes e depois, parece que tudo vai se transformando em “pizza” e tudo acaba em festa. O dinheiro do povo entra em “dinheirodutos” sem fim, e são desenvolvidas estratégias tão extraordinárias que nem mesmo os mais refinadores autores de novela conseguiram – até hoje – imaginar. Assusto-me para onde caminhamos, me assusto quando vejo jovens de classe média saindo do Brasil por falta de esperanças, me assusto porque não dá para dizer que vai mudar, não dá para acreditar em posturas que independem dos verdadeiros cidadãos. Todavia, não sou de entregar os pontos e ainda acredito que a Nação Brasileira irá um dia levantar a cabeça erguida e o povo terá a certeza de que não teremos mais corruptos, seja em que classes estejam mais dando as rédeas do Brasil. As grandes empresas de todo o mundo têm nos seus quadros profissionais que passam o dia inteiro apenas pesquisando tendências e as possibilidades para o futuro. Acredito e posso até estar errado, mas um recente programa de TV muito famoso poderá servir de norte para empresários, educadores e políticos que ainda estão adotando o estilo tubarão nas suas carreiras, negócios e empreendimentos. O Grande Irmão (aquele que tudo vê, tudo julga e tudo observa), que a meu ver foi magistralmente representado pela população brasileira que observou o referido programa, não escolheu como até pouco tempo teria sido feito, o mais pobre, o mais bonito, o mais bonzinho, o mais “burrinho”, o mais charmoso; dessa vez sabiamente a grande escolha foi direcionada para pessoas que estavam jogando limpo e honestamente, os quais se valiam dos valores humanos, da sua educação familiar simples e verdadeira como fonte de decisão e, principalmente, sabiam se defender no momento certo. Tal qual aconteceu comigo, espero que executivos, empresários, políticos e educadores tenham observado esse fenômeno, bem como aqueles que investiram no seu tempo e dinheiro para fazer as suas escolhas (expectadores) entendam o quando exercitaram, talvez apenas até por brincadeira, o poder das escolhas baseadas em critérios bem delineados e fundamentadas em princípios essenciais. E, ao fazer isso comecem e aprender com elas e a observar quais táticas, cada um aplica para a sua vida quer pessoal quer profissional: a do tubarão, a das carpas oprimidas e medrosas ou aquela dos golfinhos que utilizam magistralmente a atitude do ganha-ganha. Acredito e espero que todos aqueles que se beneficiaram do “dinheiroduto” poderão ter grandes surpresas nas próximas eleições; porque tenho certeza que a população mais esclarecida não irá perdoar por pouco. Todos nós sem exceção estamos cansados de sermos utilizados como buchas de canhão, de ouvirmos belos discursos que só são discursos, de ouvirmos promessas que são esquecidas no outro dia da eleição. Posso até estar enganado e estarei se as pessoas que estavam votando para tirar os indivíduos, que estavam jogando sujo no programa de TV, estavam apenas se divertindo e brincando, mas se elas estavam realmente utilizando sua escala de valores morais para fazer as suas escolhas, os políticos espertos terão uma grande surpresa na próxima eleição. Vamos aguardar os acontecimentos. Só o tempo, sempre o melhor juiz e conselheiro nos dar a resposta exata. (*) Fernando Viana é diretor presidente da FBC
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