Os 50 anos de academia estavam ali, de repente, na voz dos acadêmicos que renderam homenagens, evocando os caminhos e as lutas, a começar por João Oliva Alves, cuja intimidade com o período de Governo, em 1963 e nos três primeiros meses de 1964 permitiu ajudá-lo, na noite de 1º para 2 de abril, na elaboração do Manifesto com o qual alerta os sergipanos sobre os fatos que rondavam a ordem constitucional e refaz, em poucas palavras, compromissos que marcaram a sua vida pública. Vivendo grande, com uma oratória inflamada, gesticulada, provocante, soube ser grande quando o País amesquinhava a democracia e fazia pouco da história. Sergipe tinha em Fausto Cardoso um ícone da oratória revolucionária, fosse nas sendas da ciência e da filosofia, onde abria caminho para a sua e as novas gerações, com um poderoso pensamento, fosse no campo aberto das idéias políticas, mobilizando as massas para a tomada do Poder, como o fez ao criar o Partido Progressista e ao depor o Governo formado pelo presidente Guilherme de Souza Campos e pelo vice Pelino de Carvalho Nobre, personagens de um sistema dominante, infestado de defeitos, distante dos anseios populares, numa sociedade ainda em formação republicana. Fausto Cardoso provocante, diante das forças federais que ostentavam armas em nome da legalidade, fez ouvir a sua voz, calada somente pelo tiro de fuzil que lhe varou o fígado e o levou à morte, quando ainda os cabelos esvoaçantes indicavam a juventude dos seus 42 anos. Orador, o maior de todos em Sergipe, morreu pela voz, tanto no sentido da autoridade que ela continha, como no poder moral que ela encerrava, como uma peça de ourives brotando dos seus lábios. Quatro anos depois, em 1910, quando morreu o desembargador Homero de Oliveira, seus amigos e críticos de sua vocação de poeta e de jornalista disseram, em seu enterro, nas falas de despedida, e nos sentidos textos que os jornais locais publicaram, especialmente o Correio de Aracaju, que Homero de Oliveira era da linhagem de Fausto Cardoso e com sua potente oratória se fazia aplaudido nos recintos fechados e nas ruas. Por coincidência, Seixas Dória aperfeiçoou seu arsenal verbal de orador no mesmo jornal que Homero de Oliveira tinha escrito a sua trajetória intelectual de poeta e de jornalista. E se fez grande, nas estradas abertas pelos grandes. Será sempre pouco dizer que Seixas Dória deu visibilidade a um pequeno Estado, sendo perante o gigantesco País portador de uma voz esclarecida e esclarecedora, de uma mensagem de liberdade e de crença no futuro, de defesa da probidade e denúncia intransigente contra os saques que debilitavam a riqueza nacional, muitas vezes acobertados por interesses hegemônicos internacionais, com a cumplicidade de figurões do Brasil, alguns dos quais arregimentados pela fortuna para servirem ao capital externo. Seixas Dória não tinha complexos de nenhuma espécie. Era pequeno na estatura, mas sempre foi grande no talento, na sólida bagagem cultural, na coragem para reagir ao que fosse ordinário, na entrega à defesa da integridade e da riqueza do País, na proteção aos ideais que partilhava com os jovens universitários, com os correligionários políticos, com todos os que quisessem ousar. E assim formou na Escola de Fausto Cardoso, como Orador retumbante, emotivo, claro, explosivo, senhor de gestos e de estilos que agitavam as platéias, como um artista emociona seu público. Ainda que entre ele e Fausto Cardoso houvesse a fama e a glória de Homero de Oliveira, Seixas Dória conquistou seu lugar no pódio, e na longevidade de sua presença entre os sergipanos colhe o reconhecimento justo do aplauso. A segunda feira que passou foi como um sol noturno, ofuscando as trevas aterrorizantes. A voz que se ouviu não parecia sair do corpo frágil de um nonagenário. Os braços em movimento, os punhos cerrados, não combinavam com a placidez das tardes acadêmicas. Os temas da sua fala remontavam ao calor dos debates, quando o embate doutrinário ladeava os grupos, cada qual com seu poder de convicção.Tudo então, era absolutamente novo, aos olhos e ouvidos do s que lotavam o pequeno salão das reuniões acadêmicas. Contudo, tudo tinha a cara e a expressão do passado, quando era preciso enfrentar as adversidades, entregar-se em corpo e alma ao que acreditava e precisava ser feito. Ali, feliz da vida que tem, consciente dos seus méritos, estava Seixas Dória entre seus pares, ensinando como é que se empolga uma massa, numa tarde nublada de junho. O pequeno grupo presente, surpreso e deslumbrado, aprendeu a reconhecer um orador, um portador da voz, um estilista do discurso, e viu em todos a figura singular de um cidadão, na acepção total que o termo ganhou, no curso da história. É a biografia testemunhada que faz Seixas Dória grande, maior ainda do que os temas que esclareceu como orador dos ambientes cultos e das massas, na viagem possível sobre as mentalidades. Sergipe pequeno, não perde nunca a oportunidade de apresentar-se com suas genialidades. Um orador de hoje, Marcelo Deda, que pela cultura e estilo do discurso tem arrebanhado admiradores, parece seguir a trilha dos grandes: Fausto Cardoso, Homero de Oliveira, Seixas Dória.
Segunda feira, dia 9 de junho, poderia ter sido um dia comum, rotineiro para os membros da Academia Sergipana de Letras, os integrantes do MAC e os convidados que freqüentam as sessões semanais, não fosse a celebração dos 50 anos de vida acadêmica de João de Seixas Dória, o jornalista que fez a difícil simbiose de unir o jornal e o rádio, elevando o poder da comunicação, o articulista político e literário, íntimo das leituras dos melhores autores, o bacharel que mesmo tendo evitado advogar guardava os postulados do Direito, utilizando-os sempre que fosse preciso patrocinar uma causa e buscar a Justiça, ou, ainda, o Orador, função que desempenhou por todo o Brasil, aplaudido nos auditórios e nas praças públicas, com seu estilo arrebatador, exaltado, emocionado, de transmitir sentimentos. Seixas Dória
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