O homem e a palavra

Não convivi muito próximo ao empresário Antônio Carlos Franco, mas mantive com ele um relacionamento que podia considerar de amigo. A amizade teve início em 1986, quando, ao lado de Jaime da Line (a marca vira sobrenome), fizemos sua campanha para deputado federal. A primeira que ele participou. Foi o mais votado e seguiu para Brasília e foi membro da Constituinte (ele costumava chamar prostituinte). Quem conviveu com Antônio Carlos, sabe que se tratava de um cidadão correto nos seus compromissos, mas exigente na perfeição do trabalho que contratava. Era duro com seus funcionários, principalmente as secretárias, mas não guardava rancor. As suas irritações duravam pouco tempo e, minutos depois, retomava ao estilo cordial com que tratava a todos. Tanto que as pessoas trabalhavam com ele muitos anos e ficavam seus amigos. Perfeccionista, jamais considerou um trabalho excelente ou bom: “está mais ou menos”, era o máximo para ele, mas a certeza de que o serviço estava no nível da sua vontade. Idolatrava o pai, Augusto Franco, e não escondia isso. Tinha, inclusive, a sua característica. Almoçava com ele diariamente e não discutia suas ordens. Quando estava em conversa reservada com alguma pessoa e recebia um telefonema da secretária, perguntava com rispidez: “É doutor Augusto?” Sinal de que só atenderia ao pai, mesmo que uma autoridade ligasse. Trocou a Câmara Federal pela Prefeitura Municipal de Laranjeiras e lá esteve por quatro anos. Ficou desencantado com a própria vida, depois que perdeu o filho, Albano, em um acidente de carro. Revelou-se, então, a face de um pai que amava os filhos. Retraiu-se e durou muito tempo para retomar as atividades empresariais e políticas, que praticamente havia abandonado. Em 1994 debruçou-se na luta para eleger o irmão e compadre Albano Franco, para o Governo de Sergipe. Sabia trabalhar muito bem nos bastidores e foi com essa competência que conseguiu, em 1998, formalizar um acordo entre o então ex-prefeito Jackson Barreto e o governador Albano Franco, que disputava a reeleição. A missão parecia impossível, porque Jackson sempre foi o mais feroz adversário da família Franco. O trabalho persistente de Antônio Carlos levou a essa acomodação, que surpreendeu a sociedade sergipana. Antônio Carlos Franco era um cidadão reservado. Aparecia pouco em público, embora se sentisse à vontade quando viajava em férias com a família. Sabia ouvir e tinha um senso crítico aguçado. Fez da palavra a sua griffe. O que dissesse, o que marcasse, o que tratasse, não precisava de documento. Era homem de sim ou não, jamais de “vou ver”, “vamos analisar”. A resposta era imediata e a decisão cumprida. Foi esse estilo que lhe deu amigos e liderança. Não esquecia datas de aniversário e, geralmente, quando tinha amizade mais próxima com a pessoa, além de mandar um telegrama, lhe cumprimentava por telefone. Um hábito: conversava rabiscando e colocando palavras soltas. Quando deixava o gabinete, a secretária era orientada a arrumar os papeis, colocar data e grampeá-los. Em seu arquivo pessoal deve ter todos esses rabiscos de conversas importantes ou não. Antônio Carlos também tinha uma ficção: primeiro lugar. Certa vez confidenciou: “sei que quem se elege com o menor percentual de votos exerce o mandato com os mesmos direitos. Mas sempre é mais gostoso ser o mais votado”. Também em 1998, o empresário Antônio Carlos Franco resolveu lançar o filho, Marcos Franco, candidato a deputado estadual. Mas uma vez fomos convidado, com Jaime de Line, a fazer a campanha. Tudo combinado e aprovado por ele, que conduziu os trabalhos de forma integral. Assumiu tudo, desde a parte publicitária, aos programas de televisão e os contatos políticos. Marcos foi o mais votado e mereceu largos sorrisos do pai. Quando o prédio da usina Pinheiro saiu da avenida Rio de Janeiro, Antônio Carlos Franco passou a dar expediente no Jornal da Cidade. Apaixonou-se pelo jornalismo e se preocupava com a diagramação, editoração e distribuição de notícias. Trouxe técnicos do Recife e modernizou a estética do jornal, dando-lhe dinâmica e cores. A imprensa deve muito a esse empenho de Antônio Carlos Franco ao seu jornal. Em 2002, Marcos Franco voltou a se candidatar, mas contou pouco com a ajuda do pai, porque se iniciava sua enfermidade. Mais uma vez foi o mais votado e, quando avisou isso a ele, viu um sorriso em seu rosto e a nota: “foi mais ou menos”. Foi-se o homem, mas ficou a marca do líder, do amigo, da seriedade. Ficou a palavra… DR. AUGUSTO O ex-governador Augusto Franco tomou conhecimento da morte do filho, Antônio Carlos Franco. Teve uma reação normal. Augusto Franco também está com problemas de saúde. A família tomou todas as precauções para o anúncio. JOÃO ALVES Ao tomar conhecimento da morte de Antônio Carlos Franco, em Brasília, o governador João Alves Filho cancelou compromissos e veio para o sepultamento. O governador sempre manteve bom relacionamento com Antônio Carlos e teve o seu apoio nas eleições ao Governo do Estado. BANCADA A bancada federal também largou o burburinho das reformas, em Brasília, e veio a Sergipe para o velório e sepultamento do ex-deputado Antônio Carlos Franco. O seu cunhado, deputado federal Jorge Alberto, e Bosco Costa foram os primeiros a aparecer no velório. O mundo político estava lá… JORGE O ex-deputado Jorge Araújo (PSDB) vai disputar uma vaga na Câmara Municipal de Aracaju e tentar retornar a Assembléia em 2004. Pela forma como Jorge Araújo se expressou, é possível que o PSDB sequer pense em lançar candidato a prefeito de Aracaju. Apóia Marcelo Deda. FABIANO O deputado estadual Fabiano Oliveira se encontra no Rio de Janeiro, fechando eventos naquela cidade e no interior de São Paulo. Fabiano disse que falar em candidato a vice-prefeito agora é queimação: “Deda ainda não disse que disputaria a reeleição, indicar vice é queimação”, reconhece. AVALIAÇÃO Está sendo esperado para hoje, o documento do Conselho da Bahia, que está fazendo comparação para verificar se a assinatura da médica, que deu licença de 121 dias ao deputado Valmir Monteiro, é a original. Até ontem à tarde, o médico que está comparando a assinatura, doutor Abelardo, não tinha visto o processo, o que deve acontecer hoje. ISENTA De qualquer forma o Conselho de Sergipe publicará uma nota, neste final de semana, isentando os médicos de Sergipe. Em caso do atestado ser falso, passa a ser problema da Justiça… O que a direção do Conselho acha é que uma licença de 121 dias para uso político é uma irresponsabilidade. Afinal o pagamento de um outro salário sai do bolso do povo. MORATÓRIA Algumas prefeituras do alto sertão sergipano, principalmente da região do São Francisco, podem pedir moratória por 90 dias, como vem acontecendo na Paraíba. A queda superior a 50%, em junho e julho, no Fundo de Participação dos Municípios (FPM), está impedindo que as Prefeituras paguem até os salários dos servidores. ENCONTRO Os prefeitos da região do Baixo São Francisco vão fazer uma reunião, na próxima semana, para estudar a situação financeira dos municípios. Sairá um documento, que será enviado ao Tesouro Nacional, pedindo explicações porque houve essa queda brusca no FPM nos dois meses. CORTE O prefeito de Porto da Folha, Julio Santana, reuniu o secretariado e comunicou que vai cortar gratificações, para não demitir servidores. Júlio disse que tem evitado comparecer à Prefeitura, porque não está podendo atender à população, que sempre recebeu ajuda do Município. ESTRANHO Os prefeitos estão achando estranho que, segundo divulgação do Governo Federal, há aumento na arrecadação, baixa da inflação e uma recuperação econômica. Entretanto o FPM está despencando. Já há previsão de que a queda vai continuar em agosto e, se realmente acontecer, será o caos. ESCÂNDALO O corregedor de Policia, Abelardo Inácio, que está ouvindo o pessoal responsável pela guarda de Floro Calheiros, deveria mostrar à sociedade o que vem sendo denunciado. Segundo uma influente fonte da Polícia, os depoimentos envolvem muita gente importante do Estado, que não podem ficar impunes. MACHADO O deputado federal José Carlos Machado disse, ontem, que a discussão da reforma da Previdência vai começar a partir de agora. O relatório foi apresentado ontem, na Câmara, mas tem muita coisa a ser discutida, porque agrada a uns e desagrada a outros. Notas CRÍTICAS O senador Antônio Carlos Valadares (PSB) fez críticas à possível desvinculação de recursos orçamentários, destinados a áreas de Saúde e Educação dos Estados, conforme dispositivo incluído na proposta de reforma Tributária. Valadares leu em plenário manifesto do Grupo Parlamentar que condena essa pretensão. O senador sergipano lembrou que a medida, “caso aprovada, vai retirar cerca de 12 bilhões dos fundos sociais de Saúde e R$ 16 bilhões da área de Educação até 2004”. Valadares está na lutar contra a vinculação dos recursos. COMUNISTAS O Partido Comunista do Brasil já começou a discutir, entre seus filiados, a estratégia para o próximo ano, quando vai disputar as eleições municipais. Há algum tempo o PCdoB sempre manteve a estratégia de eleger apenas um dos seus candidatos a vereador de Aracaju, que geralmente é aquele que tiver maior potencial eleitoral. Como a luta pela vice-prefeitura será intensa, nas próximas eleições, o PCdoB pode ficar fora da chapa majoritária. Nessa condição, dois nomes aparecem com boa chance de chegar à Câmara Municipal: Tânia Soares e Edvaldo Nogueira. DISCUSSÃO Até o momento o prefeito de Aracaju, Marcelo Deda (PT), não iniciou a discussão em torno da sucessão municipal, mas tem conhecimento que terá de quebrar muitas arestas quando da escolha do candidato a vice-prefeito. O próprio PCdoB não pretende perder a posição de vice, porque considera que a chapa deu certo. A ampliação do bloco que apóia o prefeito Marcelo Deda e estará com ele na sua reeleição vai gerar este problema, porque a maioria deseja a participação na chapa. A disputa pela vice é importante porque, com certeza, será o futuro prefeito. É fogo Políticos de todos os partidos e tendências estiveram, ontem, no velório e sepultamento do ex-deputado Antônio Carlos Franco. O jornalismo sergipano perde um dos seus principais incentivadores. Antônio Carlos dava total dedicação ao Jornal da Cidade. A secretaria de Segurança precisa dar uma vasculhada pelo interior de Sergipe. Pode encontrar alguns bandidos dando segurança a prefeitos. O ex-deputado Antônio Francisco mostrou que ainda tem força em Itaporanga D´Ajuda. Por força de sua influência, o filho continua vereador. A partir de agora, é possível que a Câmara Municipal de Itaporanga D´Ajuda faça sessões plenárias da Penitenciária de São Cristóvão, para evitar as faltas de Junior. José Ribeiro (Rola) garante que será o vereador mais votado de Aracaju, porque os amigos estão incentivando sua candidatura. Mas Rola pretende ir mais longe. Também pensa disputar a sucessão municipal de Santo Amaro, sua terra natal. Algumas Secretarias de Estado ainda não mostraram para que existem. O Governo precisa colocar o pessoal para trabalhar. O vereador Marcélio Bomfim (sem partido) vem recebendo convite de várias legendas para disputar as eleições do próximo ano. O ex-governador Albano Franco estava, ontem, visivelmente abatido no velório do irmão. Antônio Carlos sempre trabalhou politicamente com Albano. O ex-deputado Francisco Passos ficou permanentemente sentado em uma cadeira ao lado do corpo do seu amigo Antônio Carlos Franco. A Receita Federal terá, a partir de agora, uma relação de todas as compras dos contribuintes pelo Cartão de Crédito. O PSTU em Sergipe está calado, mas a nível nacional o partido se movimenta contra a reforma da Previdência, proposta por Lula da Silva (PT). Por Diógenes Brayner brayner@infonet.com.br

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