O IDEAL É EVIDENCIAR O QUE PODE E DEVE SER REPARADO
“Prefiro uma mentira que me
favoreça a uma verdade
que me prejudique”
Provérbio Escocês
Vamos imaginar que você está realizando um dos maiores sonhos de toda a sua vida. Está construindo uma casa. Aquela tão sonhada e esperada moradia que a sua família há muito queria.
Foram anos de sacrifício, economizando até os centavos para juntar o dinheiro do terreno, contratar um arquiteto e iniciar a obra.
No momento toda a estrutura está pronta. Agora vem a fase mais crítica, a do acabamento: piso, pintura, iluminação, gesso, portas etc.
Aí, você comentando com um amigo, esta sua realização, começa a enumerar os benefícios dos quais muito em breve usufruirá e, feliz, relata para ele as vantagens de sair de onde está e morar no que é seu, diz que a localização é muito boa, fala da vizinhança que terá, da acessibilidade, da eficiência e profissionalismo do arquiteto, dos pedreiros que estão executando a obra. Fala eufórico a respeito do jardim, da área do terreno. Enfim, demonstra toda a sua felicidade…
Então, aquele amigo, para quem você está tecendo todas aquelas loas, se convida para dar uma olhada. Ele sentencia magistralmente:
“Olha, eu gostaria de dar uma olhada, pois você sabe, construção é construção e eu já sou traquejado nisso. Portanto, quando você for por lá eu quero ir também, quem sabe eu possa dar-lhe algumas idéias.”.
Você, na melhor das intenções, leva o cidadão até o canteiro da obra.
De longe, ainda antes de chegar, todo entusiasmado ele diz que terreno é muito bem localizado, e que, pelo tamanho, é mais do que suficiente para que lá seja plantada uma casa de muito bom gosto… Até aí, você contabiliza vantagem.
E, realizado, exclama para você mesmo: “acertei, eu sabia, até fulano (seu convidado) um homem acostumado a construir, exímio conhecedor da nossa cidade, está elogiando, que bom”.
Mas, quando ele adentra no lote, onde está sendo erguido o seu palácio, exclama em tom de repreensão: “Por que esta escada está colocada aqui? Local de escada não é na frente da casa ela deve ser construída na parte posterior do imóvel…”. E estes pilares? Meu Deus, quem foi mesmo o arquiteto que fez esta besteira? Como pode, olha o tamanho desta sala; aqui não dá nem para a gente fazer um jantar e os amigos tomar uma cervejinha. Tanto espaço desperdiçado… E fala disso, condena aquilo, sugere alterações etc…
E você ali, humilhado, entristecido com aqueles “erros”. Tenta contra-argumentar, pois vendo que nada mais pode alterar, porque o que está feito até ali, são intervenções imutáveis numa obra: pilares, escadas, vigas e paredes que, se removidas, comprometem toda a estrutura, bem como seria muito desperdício de material, mão-de-obra, tempo e, sobretudo dinheiro. Suado e contado dinheirinho de suas economias de que você não dispõe mais.
Lamentando você imagina: mas que droga! Nós não percebemos isso. Realmente não contratei os melhores profissionais. Bem que me disseram para eu procurar fulano. Agora vou ter que conviver com isso para o resto da vida…
Para arrematar, seu convidado o chama para um canto para que a os trabalhadores não escutem e diz: você vai continuar com isso? Olha, na verdade, foi muito bom eu ter vindo aqui. Se você quiser, eu falo com fulaninho, meu amigo, este sim um grande profissional, para ele vir aqui e dar uma olhada e ver o que pode ser feito para consertar este estrago que vocês estão fazendo na sua propriedade. Garanto que mudará esta escada para um lugar mais discreto, retirará estes pilares que estão enfeando e diminuindo o tamanho de sua sala…
Neste momento, amigo, eu não sei com quem você está mais frustrado. Se com a pessoa que desenhou sua casa, se com você mesmo, que de bom grado aprovou o projeto ou se com aquele infeliz, seu convidado, que jamais poderia, a esta altura dos acontecimentos, evidenciar tais “defeitos”, se é que, de fato, eles existem.
Porém, se você não usar de muito equilíbrio, nesta hora ligará imediatamente para aquele corretor que disse ter uma pessoa interessada num imóvel exatamente onde você está construindo… Tamanho é o seu desespero. E tudo por uma interferência impensada de uma criatura que se diz querer ajudar e, ao contrário, compromete todo o seu prazer e alegria, “descobrindo”, como se diz por aí, “pêlo em ovo”.
Pode até ser que o tempo apague ou que o seu ponto de estabilidade saiba minimizar os efeitos destrutivos daquelas observações descabidas e que você, pouco caso fazendo daquilo, usufrua de sua nova morada, como sempre imaginou antes daquela fatídica e infeliz visita.
Usei apenas este exemplo, porém, outros poderiam ser mostrados, pois os “urubulinos” estão por aí na busca constante de encontrar defeitos, evidenciar falhas que, por mais que queiramos, já não teriam consertos.
A eles devemos pedir, em tom de súplicas: por favor, sejam generosos, não evidenciem os defeitos que não podem mais ser reparados ou que já conhecemos e sabemos possuidores, pois o tudo que, de alguma forma, for irreversível, se ratificado por outro, só aumentará o nosso sofrimento. Ao demonstrá-los estarão apenas magoando, tocando numa ferida incurável, fazendo-a sangrar muito mais.
Sejam caridosos. Se existe alguma coisa possível de conserto, avisos, advertências, orientações, sugestões são muito oportunas e bem aceitas. Mas sobre o que está consumado, silenciar é o melhor. Portanto deixem que vivamos na nossa “mentira”. É menos traumático. Procurem algo que realmente mereça ser mostrado e, se quiserem se manifestem. Se não quiserem, o silêncio, nestas horas é o melhor remédio.