O tema continua recorrente; O “infeliz” AI 5.
Por que se fala tão mal do Ato Institucional N° 5?
Foi ele bom? Foi ruim?
Eu, que o vivi, enquanto estudante universitário, cursando Química na nossa Universidade Federal de Sergipe nascente, direi que o ato não foi por nós bem vindo.
Mas ficou e acalmou a todos.
E por isso, é possível dizer; que se foi mal, restou bom e necessário!
Necessário, porque o ano era 1968, um ano de ampla agitação mundial terminou pacificado.
E se foi um ano que não “terminou”, segundo o pensar de Zuenir Ventura, pelo menos não acabou pior.
Nos campi americanos, por exemplo, a revolta era sequente ao cansaço com a Guerra do Vietnã, denunciada por Alan Bloom, enquanto “Declínio da Cultura Ocidental”, quando até mesmo os mestres eram açoitados na cátedra por hordas de novos bárbaros ululantes em contestação por grito e vaia qualquer autoridade, sobretudo aquela mais odiada; a do saber, considerada mofada e apodrecida, afinal o “Zeitgeist” (o espírito da época) nivelava Nuemberg e Woodstok, afirmando que o iluminismo exalava na década de sessenta os últimos suspiros sem merecer carpição.
Já na França, por melhor orgia e orgástica euforia, os alunos da Sorbonne começavam uma revolta em mesmo vácuo vietnamita, reivindicando permissividade e liberalidade dos corpos; as alunas querendo a franquia de bem receber os alunos nos seus aposentos e leitos, sem restrições.
Num movimento sem operários, trabalhadores ou obreiros, os estudantes gritavam na rua: “É proibido proibir!” ouvindo de Jean Paul Sartre que os embevecia embasbacados: “Eu teria muita coisa a lhes dizer, mas não sei o que fazer agora. Não é porque você viveu até hoje de determinada maneira que precisa continuar vivendo assim. A escolha é sua”.
E que escolha se faria?
O momento era maio de 1968, quase no mesmo tempo da fundação da nossa UFS, que chegava a Sergipe, em meio a muitas críticas, afinal a nossa UFS fora incubada em regime de “Fundação”, e não como “Autarquia”, como bem queria a excedente intelligentsia surubi, que antevia em tal “Fundação”, uma gestação malévola americana, oriunda de um convênio sinistro, o MEC-USAID, que estava semeando no país acríticas Universidades, os cursos sendo ministrados em sistema de créditos, aposentando o necrosado sistema seriado.
Hoje, tudo isso é memória, ciúme de uma luta que se renova, espíritos não se contemplando porque tudo aconteceu, imaginando que não possa mais acontecer, sabendo que a História se repete, por engasgos e maus arrotos, perdigotos de maus gostos, em rasgos de difícil cerzidura.
Costuras à parte, ao falar no “18 de Brumário de Louis Bonaparte”, que a “Historia costuma se repetir, primeiro como tragédia depois como farsa”, Karl Marx não conseguiu estabelecer uma profilaxia, mesmo com duzentos anos de atraso, contra os sucessivos Golpes de Estado acontecidos no mundo.
No máximo, Marx instilou apenas sua aversão ao Golpe comum utilizado rotineiramente pelo Partido da Ordem, empregado pela burguesia de então, pela social democracia que o agasalhou depois, e até mesmo por todo universo ideológico dos sempre mornos, esta grande maioria que se empolga com tudo e se desencanta com tudo também.
E neste desencanto geral, compreende-se porque as coisas aconteceram de 1968 para cá, e bem antes também, a democracia se engasgando em meio a excedente demagogia, desde a República, mesmo com eleições realizadas a cada dois, quatro anos, Presidentes, Governadores e Alcaides sendo erguidos e derrubados, uma ordem sempre rejeitada, a desordem só sendo contida quando o golpe se instala, e as Constituições restam férteis, por violadas.
E porque é assim, eis de novo o AI-5 sendo lembrado.
Mal lembrado ou bem lembrado?
Na vertente marxiana, o Dezoito Brumário de Napoleão, “Le Grand”, ou do seu sobrinho, o “Le Petit”, só para utilizar a interpolação de um Gênio, Victor Hugo, ambos os golpes foram lamentáveis; um como tragédia, outro como farsa.
Ambos, todavia, aconteceram, não como miséria da França, mas por sua glória, dai estar Napoleão repousando majestosamente em “Les Invalides”, panteão glorioso de uma França inigualada.
Porque nunca a França restou tão gloriosa além de seus históricos impérios, mesmo que se diga em sequência, que tudo isso tenha vigido até Paris ter sido invadida pelas tropas de seus vizinhos, e hoje o galo ali cante de franga, como um simples Estado, por estes tutelado.
Farsa ou tragédia, engasgo por cuspe ou farofa, ou mesmo simples galhofa como querem falar tantos deficitários de galhardia, os golpes acontecem como freio de arrumação necessário.
Infelizmente as Democracias arrotadas na garganta, como é o caso da brasileira, costumeiramente precisam se fazer respeitar pelos cidadãos.
Porque a cidadania pressupõe respeito; credibilidade.
Não basta que as instituições existam, simplesmente. “O que foi, não é nada”, já dizia o poeta sobre aves que passam, e tantas coisas que passam e não deixam rasto.
Nesta República, estamos muito mal acostumados a erguer e derrubar Presidentes, o Congresso restando incólume e o Judiciário vitalício.
Isso tudo nos agrada?
A muitos talvez sim, sobretudo os que disso se beneficiam; os Deputados, os Senadores e até os Ministros verbosos do Judiciário. Que chatos!!!
A outros, todavia, bem vale uma derrubada em Golpes de Brumário, porque aí mandar-se-ia muita gente direto pra casa, pra brigar com sua própria cara metade, pilotar um carro de mercadinho, chutar areia na praia, mordiscar um caranguejo ou um quebra-queixo digno para extrair uma restauração dentária em sua doce serventia.
Pena é que em tanta pornografia, farta molecagem de bons ervanários, sempre bem remunerados pelo erário, nada muda e tudo se transmuda, restando só a má memória de um AI-5 que ficou na História, em má lembrança exaltada só por alguns, estes mesmos que infelicitam permanentemente o Brasil.
AI-5 nunca mais?
Aparentemente sim, mas vai que cola! Muita gente irá gemer na rabichola!