A verdade dos Fatos (I) O forte impacto da notícia do linchamento dos sergipanos em Araraquara, na noite de 6 para 7 de fevereiro de 1897, não retirou da professora Roza Ana de Pena Ribeiro, mãe de Rozendo de Souza Brito, e cunhada de Manoel Joaquim de Souza Brito, a capacidade de compreender os fatos, protestando, com todas as suas forças, para defender a inocência do seu filho no episódio, sustentar a legítima defesa, e clamar por justiça. A fibra da mulher sergipana alçou o vôo alto da afirmação da verdade, através de um documento que ficou para a história. Datado de 6 de fevereiro de 1897, antes portanto do linchamento, o documento intitulado “A Verdade dos Fatos”, repõe a atmosfera carregada e envolvente, que marcou aqueles dias fatídicos. Mesmo sendo escrito com o coração ferido de uma mãe extremosa, o texto põe ao alcance de todos, a banalidade dos acontecimentos, cujo desfecho revelou até onde o Poder pôde chegar, levado pela corrente das paixões políticas. Vale que seja transcrito, 108 anos depois, como um depoimento sincero e franco, clamando por Justiça. Diz Roza Ana Pena Ribeiro: “Até o momento presente, curtindo as aflições e as angústias que me acabrunham, tendo sido forçada a guardar o silêncio sobre os tristes acontecimentos em que minha família tem se achado infelizmente envolvida pelos degraçados acontecimentos do dia 30 de janeiro último. Basta, porém, de abatimento, e suceda o que suceder, hei de cumprir o meu dever de mãe, e de mãe que está vendo seu filho ser injustamente perseguido e encarnecidamente sacrificado pelos poderosos – não pelos parentes do morto – que a todo transe querem construir sobre ruínas o edifício maldito de sua efêmera grandeza. – ‘Assinei esse depoimento em o haver lido e por me haver afirmado o Dr. Carvalho, que nada de mal continha ele e que coisa alguma sucederia. Estou, porém, pronto a retratar-me, visto que o tenho por muito correto e nunca o vi praticar desordem alguma.’ Cerca de 4 e meia da tarde do dia 30 tendo meu filho chegado à casa de volta do trabalho de guarda-livros dos srs. Abritta & Irmão, quando ia sentar-se para jantar, bate à nossa porta o sr. Manoel Joaquim de Souza Brito, farmacêutico formado e empregado do referido sr. Amaral. – ‘O sr. Amaral manda-me aqui pedir-lhe o obséquio de chegar até a farmácia para liquidar amigavelmente a questão do depoimento. Peço-lhe encarecidamente que vá já.’ Sem jantar, vestiu-se meu filho e foi sozinho ao Largo da Matriz, onde reside o sr. Amaral. Aí chegando, começou ele a conversar amigavelmente com o sr. Amaral, em um compartimento de sua casa. Conversaram ambos em voz baixa quando o sr Dr. Carvalho, que vira meu filho entrar, pois sua residência era fronteira à do sr. Amaral, sai apressadamente de sua casa e dirige-se para a farmácia. Aí chegando, pálido e raivoso, chama com a mão e pergunta-lhe: – ‘Espere que já eu lhe dou o acordo que ele merece.’ Isto dizendo, dirige-se para meu filho, abutuou-o pela gola do casaco, e no meio de doestos, mete-lhe sem piedade uma grossa bengala na cabeça, fazendo-lhe vários ferimentos. Meu filho, apesar da afronta, apesar dos doestos, apesar do sangue que lhe escorria da fronte, ainda procurou desembaraçar-se do Dr. Carvalho que, nesse instante, subjugou-o, deitando-o por terra e procurando servir-se de um punhal que sempre trazia na cava esquerda do colete”. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.
Professora jubilada em meu Estado natal, vivendo nessa terra do trabalho incessante meu e de meus filhos, faço um solene apelo aos homens de sentimento desta grande terra paulista e peço-lhes me auxiliem na defesa de meu infeliz filho. Narrarei os fatos como eles se passaram.
Francisco de Amaral Barros, estabelecido com Farmácia no Largo da Matriz desta cidade, moço honesto, porém de caráter fraco, assinou um depoimento em que dizia que meu filho, Rozendo de Souza Brito era turbulento e desordeiro. Sabedor do fato, meu filho requereu e obteve Certidão desse depoimento e pessoalmente, com a maior calma entendeu-se com o dito Amaral, que em nossa casa declarou o seguinte:
– ‘Que quer este canalhinha?’
– ‘Veio a meu pedido fazer um acordo sobre a questão do depoimento.’
(Continua)
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