A copa do mundo de futebol é, sem dúvidas, o maior evento esportivo da terra; une raças, línguas, culturas e nações em volta de uma bola.
Pena que esta união aconteça, paradoxalmente, em simultâneos eventos competitivos, os quais desunem as equipes, colocando uma contra as outras em renhidos embates que só se consumam com a eliminação de um dos contendores. Lutam, os times, durante tensos noventa minutos, um tem que perder, se acaso terminar empatado, sucede-se uma prorrogação, persistindo a igualdade, seguem-se cobranças, alternadas, de penalidades, até que um consiga ultrapassar o outro.
O triste é que nem sempre aquele que faz o melhor, que é o mais “eficaz”, é o ganhador. Quem acaba vencendo mesmo é aquele que usou a melhor estratégia, foi mais astucioso, foi mais “eficiente”. Porém, o que é mais injusto, o que nega os princípios da boa ética desportiva, o que tira o brilho da tão propalada e cara confraternização é quando acontece de o vencedor ser exatamente aquele que mais soube usar a manha em seu benefício: mão milagrosa, catimba, violência e outras.
O ideal seria que nessa festa, considerada uma das maiores de todos os povos, houvesse apenas vencedores, todos voltassem para seus países de origem com um troféu, que não existissem perdedores; o bom de verdade mesmo seria que não houvesse a competição e sim a colaboração. Onde perdemos esta possibilidade? Não haveria uma fórmula de vermos irmãos de todas as raças, credos e línguas unidos sem a cruel dialética do ganhar ou perder? Será que com um pouco de boa vontade o homem não descobriria esta fórmula mágica?
Não! Não quero aqui apregoar aquela solução brincalhona, atribuída aos nossos patrícios portugueses, de dar uma bola para cada um dos vinte e dois jogadores. Não. Estou falando de outras probabilidades… Sim, porque no mundo do “business” já se usa este expediente; nas competitivas arenas dos mais inteligentes mercados, descobriu-se o óbvio: que o bom mesmo é o ganha/ganha. O ideal é a colaboração e não a competição. A busca é que em todas as transações os resultados sejam satisfatórios para todos os envolvidos, pois o negócio bom não é aquele em que só um dos participantes da contenda ganha. Mas o salutar mesmo é que o jogo seja vencido pelos dois.
Sou otimista. Acredito que em mais dias, ou em menos dias, o homem vai descobrir que o princípio colaborativo, também no esporte, vai unir muito mais do que o competitivo. Há até um conselho antigo, amplamente divulgado, que todos conhecem e que os pais responsáveis procuram ensinar aos seus filhos: “o importante não é ganhar sempre, ganhar em todas as competições, o essencial é competir sempre, não desistir nunca”.
Embora, vastamente falada e divulgada esta prática para os nossos padrões não é considerada, lamentavelmente para nós brasileiros, as coisas são muito diferentes: só competir não é o bastante, tem-se de conseguir a vitória; somente quem ganha é digno de aplausos. A nossa cultura não tolera derrota. Se ganha há estrondosa recepção de “heróis”; no entanto, se perde se não for campeão, está fora. Viram o humilhante retorno dos nossos jogadores? Só porque não trouxeram na bagagem um troféu. Não. Não conquistaram o hexacampeonato, nada feito. Poderiam ter ficado em segundo lugar, a humilhação seria a mesma. Isso já aconteceu.
O povo brasileiro só está preparado para vibrar na vitória. Porém não está disposto a reconhecer, sequer, o esforço daqueles que têm a coragem de passar por uma preparação, se dedicar, dar o melhor de si, mas, por vezes, perdem. Não consideram que tiveram a ousadia de ir lá, de tentar, de lutar, de competir. Não ganharam pelo simples fato de que numa contenda somente um sai vitorioso. Neste ponto até os “hermanos” argentinos nos deram olé. Para eles o Dieguito continua. O pobre do Dunga foi defenestrado no mesmo dia. Os atletas de lá foram recebidos como heróis, enquanto os daqui…
Até o dia do jogo, havia uma corrente na mídia em defesa do nosso ex-técnico, dizendo que ele “era o cara”, porque teve o topete de enfrentar a Venus platinada de Jacarepaguá, a própria CBF e o poderoso Ricardo Teixeira; perdeu o jogo, perdeu tudo, acabou-se a defesa. Da noite para o dia, aquele que era “o cara”, passou a ser o “bobo”, o “grosso”, o “mal educado”, o “ridículo”. Cadê a tal da esportividade? Cadê a elegância? Cadê o respeito? Onde está a coerência?
Convenhamos, somos intolerantes com quem apenas tenta. Aliás, somos bons em criticar quem não finaliza satisfatoriamente, aqueles que não alcançam a vitória, que apenas têm a coragem de tentar. Esta cultura não é boa. Esta maneira de ver as coisas não constrói, muito pelo contrário, destrói. Destrói até a disposição de tentar. Acreditem, essa, com certeza, não é a melhor política.