Lisboa, 9 de março de 2008
Caros amigos de Sergipe
Semana passada fui ao médico. Meu objetivo era apenas dar um jeito em um prosaico joanete que me acompanha há anos, mas o nobre discípulo de Hipócrates escarafunchou tanto a minha humilde pessoa com perguntas, apalpações e outras intimidades, que acabou me pedindo um monte de
exames. Não sei porque para operar o dedão do pé, tenho que fazer uma endoscopia. Tenha santa paciência!
O fato é que passei a semana toda entre seringas, recolhimento de excrescências e exames de toque. Sobre este último, aliás, eu me abstenho de fazer maiores comentários em nome da moral e dos bons costumes. Mas do espermograma eu gostei!
No final das contas, o homem disse que eu tenho de entrar numa dieta rigorosa, cortar o consumo de vinhos e fazer alguma atividade física. Disso, quem gostou foi a Zenóbia. Pensando que eu ia cometer a pachorra de voltar a fazer sexo com a minha própria esposa, minha patroa sexagenária tratou de comprar novas lingeries, cremes, perfumes sensuais e outros apetrechos arrematados
em diversas sex shopps lisboetas. Melhor se ela tivesse doado o dinheiro para o Unicef.
Por sugestão de um amigo entusiasta das artes marciais, acabei me tornando o mais novo acadêmico da terra de Luis de Camões. Me matriculei na Academia Garra de Águia.
Trata-se de um antro freqüentado por másculos rapazes besuntados com óleo de amêndoa e alguns até depilados com cera quente, cujo objetivo filosófico é estudar as técnicas de como trucidar pessoas. Tudo à luz da sabedoria oriental, evidentemente!
Lá são aprendidos golpes como por exemplo, o acrobático “Serpente Perneta” ou o escatológico “Dragão Enrugadinho”, para citar apenas dois. A vida numa academia de artes marciais não é mole. Nas sessões da Garra de Águia tudo começa com a prática da”Agarração em Dupla”, penoso processo de soltura das garras para melhor receber os duros golpes que estão por vir.
Aos olhos desavisados, o clima pode ter até um que de homoerotismo. Mas apenas aos desavisados, porque quem já está avisado não se surpreenderá de modo algum. Durante a testosterônica luta, há a liberação de muitas endorfinas, os gestos são ríspidos, os gritos ensurdecedores. Uh! Ôôô! Há também o “Huhú” e uma variante esporádica o Úúúuiiii, reservado para momentos da mais absoluta concentração procto-marcial.
É um espetáculo violentíssimo onde se misturam macheza e arte e onde ganha quem ficar mais tempo por cima do adversário. A medida certa entre a suíte “O Quebra Nozes” e uma rinha de galos de briga.
Confesso que tudo isso ainda é muito novo para mim. Sou apenas um neófito no assunto, nem mesmo sei se tenho estrutura para continuar freqüentando as aulas.
Por vezes, quando vejo dois bravos lutadores a se engalfinhar, fico com os olhos marejados. E como os senhores sabem, isso é deveras preocupante. Acho que só poderei decidir isso, hoje à noite, num treino prático que pretendo fazer com Zenóbia. Se romper-lhe algum tendão, já tá valendo!
Até semana que vem.
Um abraço do
Apolônio Lisboa.