O medo da bomba atômica em “The day after”

Andrey Augusto Ribeiro dos Santos

Graduando em História – UFS
Bolsista PET História – UFS
Integrante do Vivarium – Laboratório de Estudos da Antiguidade e do Medievo (Núcleo Nordeste)

Guerra Fria. Foi como ficou conhecido o período que veio após o fim da Segunda Guerra Mundial, onde as duas grandes potências emergentes do conflito, EUA e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, entraram em um conflito sem confrontos diretos na disputa pela hegemonia mundial. Uma das principais marcas desta competição foi a chamada Corrida Armamentista onde as duas nações competiam pela supremacia militar desenvolvendo arsenais de guerra cada vez mais poderosos.

A mais terrível arma presente nos arsenais soviéticos e norte-americanos era a temida bomba atômica, apresentada ao mundo nos trágicos episódios ocorridos em Hiroshima e Nagasaki, ainda ao fim da Segunda Guerra. As permanentes tensões entre as duas potências colocaram o mundo numa situação onde o medo de uma possível guerra atômica não parecia infundado. É neste contexto que será lançado o filme intitulado The day after.

Após uma tensão diplomática entre EUA e URSS levar as duas potências ao indesejado conflito direto, com uso de arsenal atômico dos dois lados, o filme leva o telespectador a acompanhar a luta pela sobrevivência, num cenário totalmente devastado pelo bombardeio nuclear, dos moradores da pequena cidade norte-americana de Lawrence, localizada no leste do Kansas.

Numa tentativa de conscientização para demonstrar que nenhum lugar estaria a salvo de uma guerra nuclear, o roteirista Edward Hume escolheu a cidade de Lawrence como cenário, já que esta foi cogitada como um local que não seria atingido por um possível bombardeio atômico devido a sua posição central no território dos EUA.

Inicialmente desenvolvido para exibição na TV americana, o filme enfrentou vários impasses antes de ser exibido. O Departamento de defesa norte-americano impôs algumas condições para que ajudasse na produção de The day after, tais como deixar claro no filme que quem lançou os mísseis primeiro foi a União Soviética, assim como também não autorizou a utilização de imagens de arquivo das nuvens em formato de cogumelo, fazendo com que os produtores tivessem de recriá-las usando efeitos especiais. Os atritos com o Departamento de Defesa americano foram tantos que o diretor Nicholas Meyer chegou a pedir que seu nome fosse retirado do filme, abandonando a produção durante sua edição, tendo retornado posteriormente afirmando que jamais trabalharia na TV novamente.

O filme estreou em 20 de Novembro de 1983 e estima-se que teve em torno de 100 milhões de espectadores, o que lhe rendeu o título de telefilme de maior audiência na história da TV americana até 2006. Nenhuma empresa quis comprar o espaço para propagandas na segunda metade do filme, que trazia as cenas após a detonação das bombas, fazendo com que a parte final fosse reproduzida sem interrupções. Durante e após o lançamento, a rede de televisão ABC teve de disponibilizar linhas telefônicas adicionais para acalmar as pessoas que acompanhavam o filme.

Este esforço resultou num interessante suporte didático para o professor de História. Em sala de aula ele pode utilizar todos estes acontecimentos para, além de chamar a atenção dos alunos, demonstrar como o medo da guerra atômica foi um sentimento presente no cotidiano das pessoas da época, isto fica provado na inquietação que The day after causou nos seus telespectadores, que pode ser utilizado numa atividade com os alunos que discutam, por exemplo, a corrida armamentista empreendida por EUA e URSS e seu desdobramento na vida de pessoas comuns.

É recomendada a reprodução para estudantes do Ensino Médio, já que o filme possui cenas fortes, o que poderia gerar problemas na exibição para crianças do Ensino Fundamental. Sua reprodução por completo não é recomendada já que o filme possui aproximadamente duas horas de duração, impróprio para os costumeiros cinquenta minutos de aula disponíveis a um professor, porém, não faltam sequências para serem utilizadas, principalmente na segunda metade do filme que mostra a devastação causada pelo bombardeio atômico.

Espero com esta pequena reflexão chamar a atenção dos professores para o auxílio que esta ferramenta pode trazer, já que é mais uma das várias contribuições do Cinema para a História na transmissão de conteúdos em sala de aula, contribuição esta que mesmo sendo apontada por pesquisadores há certo tempo, infelizmente ainda é pouco explorada e sofre preconceito na maioria das escolas de Ensino Básico, Médio e até mesmo em certos ambientes acadêmicos.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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