O Mito na Russia

Em clima de prévias de Fla-Flu, a imprensa faz de tudo para esmagar como alho o Presidente Bolsonaro.

Eis que o Mito resiste incólume, posando do mesmo sem mudança, nem de rumo e tão pouco de postura.

Passaram-se três anos de ataques infindos, e o Presidente sozinho, vencendo todos que o atacam, separados ou juntos.

Agora, por exemplo, as pesquisas eleitorais lhe enaltecem elevados índices de rejeição, ampliada pela suprema inconveniência de visitar a Rússia de Putin, num momento perigoso de prévias bélicas na distante Ucrânia.

Todos, e mais alguns, querem ditar comportamento ao Presidente, mal engolido e ainda não ingerido.

Os bem-falantes e mais-que-bons empostados, por seus brios exuberantes e assaz educados, eximem o seu apoio envergonhado, dizendo que o mal do Mito é ser ele mesmo, em excesso de Mitismo, palavra que não existe ainda, sinonímia de falastrão incontrolado, em demasia e excesso, por mal contido, desembestado.

Tais pessoas querem um Mito, manso e suave, espécie de cavalo macio, sem relincho, popa ou pinote, excelente para selar, montar e esporear, quem o quiser, sobretudo os impolutos detentores dos demais poderes da República.

Nesse contexto, Presidente bom, não há, nem haveria, porque em terra que todos mandam, reina a discórdia e a anarquia.

Quanto aos acordos, sempre escusos e sinistros, todos o sabemos, são tomados no emudecer da noite, quando reina o encanto e o desencanto se acoberta.

Para estes bem-educados, como eu próprio, Bolsonaro já tinha sido derrubado antes de ser empossado.

No mais, todos querem galgar tal Presidência enfraquecida, por miríades de partidos políticos em fertilidade, todos solidários com os fragilizados e hipossuficientes, o que me faz lembrar da antiga admoestação de Jesus àqueles que censuraram Maria Madalena por quebrar um vaso de caro perfume para unção das canelas de seu Senhor: “Pobres sempre o tereis!”

Frase que eu repito, afinal nunca vi tantos pobres serem lembrados nos discursos políticos, numa mendicância crescente em cada esquina, como flanelinhas, pastorador de carro, guardadores de todo tipo, a troco de um troco, em moedinha, ou cédula maior, mesmo com campanhas de fome zero, remunero de cesta básica e auxílio Brasil, essa nova modalidade de ajuda, mais que necessária.

O lamentável é que a despeito desses esforços do governo federal, estamos a ouvir nesses tempos prévios de Momo, não a música de Moraes Moreira, enleando o carnaval em cada esquina, mas o grito alardeado em nossas esquinas, por cartazes de uma fome insaciada, a reivindicar tantos auxílios quantos forem os semáforos citadinos, e os automóveis ali passantes.

Enquanto isso, o Presidente Bolsonaro visitou a Rússia, justo agora quando a cidade de Petrópolis afunda em temporal, tão previsto quanto inusitado.

Foi abraçar o belicoso Putin, que em defesa de seu país, estava ameaçando invadir a Ucrânia, que deseja se bandear para o lado da OTAN.

E assim estou a lembrar de uma montagem em vídeo recebida, onde o Putin, aconselhado pelo Mito, teria retirado as suas tropas acantonados justo à margem leste do Rio Dnieper.

A Rússia, o grande urso do norte, é um gigante amordaçado, quase estrangulado, justo ao Note, lá no Mar Báltico, nas estreituras contidas da Finlândia, Suécia, Noruega e Dinamarca, e ao Sul, no descambar do Dnieper, na Ucrânia, na península da Criméia, no Mar Negro, garganteado a jusante pelo Bósforo e Dardanelos na Turquia, cenário da Guerra de Troia, o Helesponto ultrapassado pelo macedônio Alexandre.

Sem esses acessos ao Norte e ao Sul, a Rússia não consegue sair para o mundo, resta um grande país mediterrâneo, quase uma Bolívia gigante, ou um Paraguai, a reivindicar próprio fôlego para sobrevivência.

Estas posições são estratégicas para a Rússia.

Sem elas e por causa delas, a Rússia Imperial foi derrotada pelo Japão, em 1904, incapaz de defender sua marinha, atacada pelos nipônicos no extremo oriente da Sibéria, em Vladivostok.

A defesa era remota afinal os barcos russos só tinham dois caminhos; todos dois longínquos e dificílimos.

O primeiro, saindo de São Petersburgo, margear a Finlândia, Suécia e Dinamarca, passar pelo mar do Norte vigiado pela Inglaterra, França, Espanha e Portugal, entrar pelo Estreito de Gibraltar, no Mar Mediterrâneo, adentrar no Canal de Suez, recém construído, percorrer o Mar Vermelho em toda extensão, atravessar as aperturas do Estreito de Ormuz, entre a Pérsia e a Arábia, percorrer o golfo de Omã, enveredar no Oceano Índico, margeando a Índia, no Estreito de Ceilão, a antiga Taprobana de Camões, dirigir-se para as minúsculas aberturas no Estreito de Malaca, nas Filipinas e Malásia, por única passagem entre os Oceanos Índico e Pacífico, tudo isso para conseguir contornar a China e a Coreia, e avistar os navios afundados em Vladivostok.

O longo percurso marítimo de São Petersburgo a Vladvostok, na Sibéria.

O segundo roteiro seria ao Sul, pela Criméia, ingressando no Mar Negro, tentar ultrapassar pelo Mar de Mármara o Dardanelos e o Bósforo na Turquia, para conseguir atingir o Mar Egeu, e daí ao Mediterrâneo, e novamente continuar com a mesma peripécia do Suez à Taprobana, desta à Malaca, daí à Coreia, igualmente.

Quem visita estes estreitos na Báltico e na Turquia, e eu lá estive, sabem que a passagem só é permitida com pagamento de pedágio e autorização dos governos dos países limitantes.

Houve tempos em que os Reis da Dinamarca em Elsinor, no castelo da Hamlet, manobravam um canhão, permitindo ou não o tráfegos de navios.

Navio de guerra, nem falar.

Do lado Sul, na Turquia, os estreitos de Bósforo e Dardanelos são pontos altamente estratégicos, a história do mundo destacando batalhas épicas ali acontecidas, como a de Galipoli, em que a marinha inglesa foi derrotada na campanha de maior fracasso encetada por Winston Churchill na 1ª Grande Guerra, entre 1915 e 1916, sendo tema de um texto meu aqui na Infonet em 24 de abril de 2015.

https://www.google.pt/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwiIntXy9Ib2AhWzr5UCHZc3DcsQFnoECAQQAQ&url=https%3A%2F%2Finfonet.com.br%2Fblogs%2Fgallipoli-cem-anos-de-um-grande-desastre%2F&usg=AOvVaw2u_tifmkwBD9CaOFtfeMmm

Note-se por detalhe, que em Galipoli, os ingleses, australianos, indianos e neozelandeses ali se sepultaram, tentando pela Turquia, socorrer a aliada Rússia, que daí por sequência derrubou o Czar e virou uma República Bolchevique.

Quanto a Bolsonaro, e deixando qualquer azeviche de seus apoiadores, alguns estão alarmando que o Mito, por seus agitos, conseguiu arrefecer até os receios do Presidente Putin.

Fofoca apenas; coisa de Fla-Flu, como falei no início.

Os que odeiam o Mito, roem as unhas em sabê-lo, competitivo e altivo, marchando para um novo mandato, vencendo no grito todos que lhe endereçam arapucas no caminho.

No caso da Rússia e da Ucrânia, mais do que simples convivência de vizinhos é um pomo de sobrevivência do grande urso, limitado por muito gelo no Norte, sem falar que os eslavos têm as suas diferenças com os ocidentais.

Ou seja: o Rio Dnieper separa por suas margens, muitas diferenças do que possa explicar a simples geografia e a nossa vã filosofia.

Na geopolítica do mundo, se acabou a guerra fria, a Europa Unificada, encabeçada pela França e Alemanha quer alongar os seus limites se amparando no Tio Sam, que mais uma vez, deseja uma guerra para chamar de sua.

Bem fez, todavia, o Presidente Bolsonaro que foi negociar e prosseguir; falastrão de bom tamanho, mas prosseguindo, quem quiser que continue pensando diferente.

Para terminar e sem destoar do bom senso, vale repetir uma quadrinha retirada das minha orações diárias:

            Iras, fraude nem soberba

            Haja em nossos corações

            Defendei-nos da avareza

            Que é raiz das divisões.

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais