A mais antiga e atuante instituição representativa dos médicos de Sergipe comemora, em 2007, setenta anos de existência. Refiro-me à Sociedade Médica de Sergipe – SOMESE – que tive a honra de presidir por dois mandatos consecutivos, de Entretanto, ela não é a primeira entidade representativa da classe médica de Sergipe. Em outubro de 1910, surge a Sociedade de Medicina de Sergipe, sob o comando dos médicos Daniel Campos e Helvécio de Andrade. Não dura muito, apenas um ano, mas nesse curtíssimo tempo, consegue publicar a primeira revista médica do Estado. Nova tentativa de organização associativa somente acontece oito anos após, com a criação da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Sergipe, em julho de 1919, sob comando do médico Francisco Quintiliano da Fonseca, com a participação de jovens médicos que começavam a se destacar no cenário da nossa medicina, os cirurgiões Eronides Carvalho, Juliano Simões e notadamente, Augusto Leite. Na década de 20, até a data da inauguração do Hospital de Cirurgia ocorrida em 1926, essa entidade exerce papel preponderante na elaboração das políticas de saúde do governo Graccho Cardoso. Nesse período de efervescência científica, Graccho traz para Aracaju o sanitarista Paulo de Figueiredo Parreiras Horta, auxiliar de Osvaldo Cruz, que implementa importantes ações de saneamento e controle de endemias e que culmina com a criação do Instituto que mais tarde, em homenagem justa, recebe o seu nome. Com o funcionamento do novo hospital, que oferece a Sergipe finalmente um verdadeiro “ambiente cirúrgico”, segundo Augusto Leite, e necessitando da dedicação plena de médicos, em número reduzido em nossa cidade, a entidade associativa entra em fase de declínio. Não conseguimos encontrar registro da data de sua extinção, mas de fato ela ocorre e somente em 1937, agora com Augusto Leite na liderança plena do processo, surge a atual Sociedade Médica de Sergipe. No período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) não se tem registro de ações importantes da entidade médica, mas segundo informação recente que recebi do médico Antonio Samarone, entusiasta da história médica em Sergipe, no ano de 1945 ocorre o que pode ter sido o primeiro movimento organizado da categoria médica. Uma reunião plenária com a participação de vários médicos, liderados por Eraldo Lemos e Antonio Garcia(foto), define as principais ações de luta dos médicos: a criação do conselho de classe, que os presentes se manifestaram contrários; a aprovação de um piso salarial para a categoria e a fixação de médicos nas cidades do interior do Estado. Augusto Leite mantém-se por 12 anos no comando da Somese, sendo substituído em 1949, pelo pediatra José Machado de Souza. Seu sucessor, o alienista João Batista Perez Garcia Moreno, assume a presidência em 1952 e a devolve em Machado, com o apoio decisivo de Carlos Firpo, médico diretor do Hospital Santa Isabel e ex-prefeito de Aracaju, passa o comando da SOMESE para o cirurgião Canuto Garcia Moreno. A partir dessa administração, forma-se um bloco forte e consistente que comanda a medicina de Sergipe por uma década, com realizações de grande importância para o seu desenvolvimento, destacando-se a fundação da Faculdade de Medicina em 1961 por Antonio Garcia Filho, que aliando determinação, estoicismo e força política ( seu irmão Luiz era o governador do Estado), supera as indiferenças e os obstáculos de todas as naturezas e consegue instalar a primeira escola médica nas terras de Felisbello Freire. Garcia, além de Secretário da Educação, Saúde e Cultura, estava no comando da Sociedade Médica de Sergipe. Três anos antes, em 1958, esse mesmo grupo, liderado por Ávila Nabuco e Antonio Garcia, instala em Sergipe o Conselho Regional de Medicina, assumindo também o seu comando. Na década de 50, nacionalmente, a classe médica se organiza com a fundação da Associação Médica Brasileira – AMB, A SOMESE ainda não possuía sede própria, suas reuniões aconteciam no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e somente em 1968, na administração de Hugo Gurgel, com a ajuda do Governador Lourival Baptista, isso veio a acontecer. À frente da SOMESE até 1969, Hugo, ao lado de valorosos companheiros, como Alexandre Menezes, Gileno Lima, José Leite Primo, Dalmo Melo, entre outros, ainda viabiliza a criação e funcionamento do Clube dos Médicos, na praia de Atalaia, hoje já extinto, mas que representou importante instrumento de convivência social dos médicos por muitos anos. A SOMESE tem ainda participação importante nos primeiros passos do Sindicato dos Médicos, criado na década de 60 e na instalação da Unimed Aracaju, fundada em 1984 e que por 2 anos funciona em sala gentilmente cedida pela diretoria da entidade. Em 1998, o grupo que liderava a SOMESE assume o controle da cooperativa, que passava na oportunidade por momentos de extrema dificuldade e com um portentoso trabalho de recuperação, não sem o sacrifício e colaboração de seus associados, transforma gradualmente a instituição em modelo e referência nacionais. E mais, a Somese tem participação decisiva e fundamental para a fundação da Academia Sergipana de Medicina, ocorrida no final do século XX, graças à determinação de Gileno da Silveira Lima. Ainda hoje a Academia funciona na sede da SOMESE, com seu total e irrestrito apoio. As diretorias da SOMESE que se sucederam desde Hugo Gurgel, já citado, até então, cada uma com suas características e realizações, menos ou mais empreendedoras, mantiveram acesa a chama do associativismo médico, com inestimáveis serviços prestados à comunidade. No momento em que se comemora essa efeméride, não custa cobrar aos colegas médicos a importância de prestigiá-la, participando com entusiasmo da vida de sua entidade mãe. Traçando um paralelo histórico, não foi por acaso que as duas maiores conquistas da medicina sergipana do século passado, o Hospital de Cirurgia e a Faculdade de Medicina, tiveram como fundadores respectivamente os presidentes das entidades médicas de então, em pleno exercício de suas funções: os doutores Augusto Leite, comandando a Sociedade de Medicina e Cirurgia e Antonio Garcia Filho, liderando a Sociedade Médica de Sergipe.
Antonio Garcia Filho (década de 50)
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