Será que o casamento perfeito e futuramente a prole perfeita, nos dias atuais, são pré-requisitos para uma vida verdadeira? Será que estas duas "grandes responsabilidades" são suficientes para que uma mulher, casada na igreja, diga-se de passagem, seja de antemão considerada uma santa? Nestes casos, o pai, provedor do sustento do lar, passará certamente a ocupar um lugar cativo ao lado do Senhor quando vier a morrer? Não consigo ver garantias, mas algumas pessoas me deixam intrigado!
Ultimamente tenho me deparado com alguns questionamentos relativos ao "Novo Casamento". Dentro das minhas íntimas análises tenho constatado também que muitos casais buscam no matrimônio uma tábua de salvação para suas almas. Porém esquecendo que mesmo tendo a tão sonhada "alma-gêmea", os pecados serão contabilizados no singular, pelo menos é o que dizem os mais religiosos.
Tudo levar a pensar que a lobotomia causada pelos sins dos casamentos vem amortecendo o senso crítico, que algumas pessoas cultivavam quando solteiras. Ainda fico na dúvida se o casamento acaba deixando a pessoa burra ou é apenas a cobertura que faltava pra maquiar uma personalidade fraca.
O tal matrimônio perfeito, com paredes do quarto pintadas de branco (onde uma foi escolhida a dedo pra colocar o papel-de-parede-floral-e-italiano) juntamente com a lista de compras mensal do supermercado estão dando origem a um apartheid entre casados e solteiros. Isso é fato!
Conversando meses atrás com um conhecido, indagando-o sobre as razões de ter concedido o perdão a outra pessoa de caráter, comprovadamente, duvidoso, recebi como resposta aos meus questionamentos o seguinte: "Jaime, perdoe. Depois que tive meu filho vejo tudo com outros olhos". Não sei bem se foi um conselho ou um rápido toque filosófico digno dos tais novos casados. Sei apenas que meu queixo caiu da altura dos meus 1,69 de altura.
Mas quando foi que a paternidade virou condição para a aceitação do mau-caratismo?
Se fosse assim, seria tão mais fácil classificar as pessoas e suas ações. Bastava casar e todo o passado da falsidade alheia estaria resolvido. As pessoas já sairiam da igreja emitindo desculpas e perdões na mesma quantidade do arroz jogado pra sorte dos recém-casados.
Se fosse tudo tão simples assim, bastava segurar o rosto de um mau caráter com as duas mãos e falar, olhando em seus olhos: Querido, pode até roubar, matar, plantar desavenças… agora que eu casei, desculpo todas as suas falhas para comigo, pois no meu novo mundo perfeito não existem pessoas más como você. Terei que convertê-lo à bondade e aceitar sua falta de caráter em nome do planeta melhor que quero deixar pro meu filho.
Diante de um resquício de sanidade percebo que algo assim é loucura, ou será que devo considerar que pelo fato de não ser casado, eu, ainda, não saiba desculpar com tanta benevolência? Porém, lá no fundo, desconfio que ainda que casado fosse manteria minha integridade enquanto ser-humano – capaz de não aceitar injustiças em nome dos novos protocolos matrimoniais.
Acho que antes de pegar o buquê (ou a caixa de whisky – para os amigos do noivo – novo ritual dos atuais casamentos) ou desejar do fundo de sua alma casar, deve-se parar e avaliar que tipo de esposo ou esposa você será.
Talvez casar e se transformar na Pollyanna com seu famoso jogo-do-contente, descrito nos livros da escritora estrangeira Eleanor H. Porter, não seja algo tão saudável mentalmente (pelo menos não nos dias de hoje).