O Oscar 2020, “Democracia em Vertigem” e o Choque de Cultura

Prof.ª Dr.ª Andreza Maynard

Universidade Federal de Sergipe

Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

 

O Oscar 2020 ocorrerá no dia 9 de fevereiro. A cerimônia, que acontece desde 1929 nos EUA, é transmitida ao vivo pela TV (aberta e fechada) e pela internet. No Brasil, o programa humorístico Choque de Cultura passou a fazer sucesso ao discutir filmes e séries de TV a partir da visão de quatro motoristas de van, que também se reúnem para assistir e comentar o Oscar.

Comumente a cerimônia gera muitas expectativas. Dentre as surpresas deste ano está o concorrente “Democracia em Vertigem” (123 min, Cor), indicado na categoria de melhor documentário. No Brasil, a torcida pelo filme não é unanimidade. A produção dirigida por Petra Costa aborda os governos dos presidentes Lula e Dilma Rousseff, até o processo que culminou com o impeachment em 2016. O filme analisa a ascensão e queda das lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT), bem como o crescimento de uma onda conservadora no Brasil. A polarização política visível no país desde 2015 faz com que muitos vejam a possibilidade do Oscar vir para o Brasil em 2020 como algo negativo. O debate sobre o filme deve entrar na pauta das próximas edições do Choque de Cultura.

Criado em 2016, o programa em que 4 atores interpretam motoristas de van que resolvem criticar filmes e séries de TV se tornou um sucesso inicialmente no canal de vídeos Youtube. Atualmente eles estão na Rede Globo de Televisão. Com situações engraçadas e muitos exageros, somos levados a pensar sobre os filmes, mas também a respeito dos estereótipos e preconceitos que permeiam a nossa sociedade. O grupo faz um humor inteligente, politicamente correto e inclusivo, muito embora as piadas com idosos soem ofensivas.

Com comentários toscos sobre os filmes, misturados às questões que envolvem situações pessoais e profissionais de Rogerinho (Caito Mainer), Renan (Daniel Furlan), Maurílio (Raul Chequer) e Julinho (Leandro Ramos), o programa conseguiu criar uma inusitada receita de sucesso, que combina um roteiro cuidadoso com a capacidade de improviso dos atores, característica visível durante as lives que o grupo realiza para acompanhar as cerimônias do Oscar.

O tom autoritário e conservador do mediador Rogerinho, as situações mal resolvidas de Julinho com a lei, as experiências absurdas vividas por Renan com seu filho e os comentários de Maurílio, o único que dá mostras de que realmente entende sobre cinema, misturados às situações profissionais dos personagens são componentes indispensáveis para garantir a diversão de quem acompanha as reflexões nada ortodoxas sobre a sétima arte.

Todos os participantes seguem as determinações de Rogerinho, que usa uma camisa da seleção brasileira, associa ambiente de música ao uso de drogas, intimida os colegas, fala com naturalidade sobre desobedecer as leis de trânsito. É ele quem concede, ou retira o direito de fala dos demais participantes. Basta pensar diferente do líder para ser repreendido ou ameaçado.

Além dos diálogos serem espirituosos, eles apresentam uma leitura sobre os filmes e séries que são capazes de despertar a curiosidade do telespectador. Espera-se que o Choque de Cultura faça uma live durante o Oscar 2020, com muitas piadas envolvendo os indicados, além de possivelmente eles destacarem a ausência de “Velozes e Furiosos” e “Transformers” (séries de filmes preferidos pelo grupo), ou Vin Diesel (ator mais admirado pelos pilotos). Espera-se também que “Democracia em Vertigem” seja um dos vencedores da premiação. Será que dessa vez o Oscar vem para o Brasil?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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