O petróleo (puro) é nosso

O início da operação do campo de Piranema é um marco histórico para Sergipe por razões até superiores à qualidade do petróleo explorado, que o presidente Lula etilicamente comparou como sendo mais puro do que o melhor dos scotchs. Em três ocasiões durante o seu discurso no teatro Tobias Barreto, Lula se referiu ao álcool. Bebida alcoólica, que fique claro. Mas essa é outra história.

O fato histórico não é o batismo em si daquela plataforma monumental que agora está ancorada a 25 quilômetros da praia de Abais, em Estância, e a 37 quilômetros de Aracaju, mar adentro. São muitos significados contidos no mesmo projeto materializado pela Petrobras.

Sergipe, estado pioneiro na exploração de petróleo em alto mar, mantém o pioneirismo por abrigar um campo em águas profundas de óleo puríssimo, comparável às melhores reservas do Golfo Pérsico. Além de ser o primeiro projeto de produção em águas profundas no Nordeste. Na primeira fase do projeto, a plataforma vai operar em uma profundidade de 1.090 metros, com seis poços interligados a ela. Na segunda fase ela será deslocada para o sul do mesmo campo e sua ancoragem chegará a 1.500 metros de profundidade.

Para dar cabo de tão importante empreendimento, a estatal arrendou uma plataforma de exploração única no mundo, construída exclusivamente para a operação. A plataforma que vai operar no campo de Piranema, afretada à norueguesa Sevan Marine, é um projeto pioneiro pelas características técnicas inéditas numa unidade do tipo FPSO (que produz, armazena e transfere petróleo). Tem casco redondo, ao contrário das plataformas flutuantes tradicionais, que normalmente resultam da transformação de um navio petroleiro em unidade de produção. É uma imensa bóia com uma pequena cidade flutuando sobre ela. Os investimentos no desenvolvimento do projeto chegaram a R$ 2,4 bilhões.

Mas o mais importante é que a plataforma de Piranema produzirá, inicialmente, 10 mil barris diários de petróleo, podendo chegar a 30 mil em 2008, elevando em quase 70% a produção de petróleo em Sergipe, que atualmente é de 44 mil barris/dia. Até 2018, a produção acumulada de Piranema deverá chegar a 30 milhões de barris. Um volume importante para a manutenção da auto-suficiência nacional.

No pico de produção, Piranema permitirá o incremento proporcional de royalties, beneficiando todo Sergipe, mas, principalmente Estância e Itaporanga D’Ajuda. Tomara que esses municípios saibam fazer bom uso da elevação inesperada da arrecadação e que o mau exemplo de Pirambu nunca os atinja.

 

UM POUCO DE HISTÓRIA — Os interesses que envolvem o petróleo fizeram também políticos voltados para causas mais nobres do que desviar o dinheiro que dele advinha. Desde o século XIX que a questão do petróleo já interessava aos políticos brasileiros. Mas, oficialmente, o ouro negro foi descoberto em 1939 e começou a jorrar dois anos depois no Recôncavo Baiano.

Desde antes de sua descoberta em Sergipe, já despertava a atenção dos políticos sergipanos, principalmente naqueles de visão mais ampla, como Orlando Dantas, um usineiro que ousou militar no Partido Socialista Brasileiro. Quando foi deputado federal, de 1951 a 1954, Orlando Dantas, que ideologicamente não pode ser classificado como socialista, mas era um nacionalista inflamado, fez inúmeros discursos no Rio de Janeiro contra a presença de estrangeiros no negócio do petróleo, pela estatização da exploração e a favor da criação de uma empresa estatal responsável pelo setor. Orlando Dantas foi um dos que lutaram pela criação da Petrobras, que finalmente aconteceu em outubro de 1953.

A empresa tem documentado que o petróleo foi descoberto em Sergipe em 1961, no campo terrestre de Riachuelo. Mas ela própria ignora essa data e comemora a descoberta do grande campo de Carmópolis em 1963. No entanto, a história do petróleo em Sergipe é anterior a isso. O petróleo jorrou pela primeira vez em solo sergipano em 1959, o que foi registrado em plenário pelos então deputados federais Lourival Baptista e Seixas Dória, segundo lembra Pires Wynne, na sua História de Sergipe. No dia 12 de junho daquele ano, o jornal “Gazeta de Notícias”, do Rio de Janeiro, reportou assim: “Jorrou petróleo em Sergipe, no município de Pacatuba, declararam no plenário da Câmara dos Deputados, na sessão de ontem, os senhores Seixas Dória e Lourival Baptista, congratulando-se com o governo e o povo sergipano e exibindo as manchetes alvissareiras dos jornais de Aracaju. (…) Isso significa que na realidade dentro de dois ou três anos o Brasil será auto-suficiente no que toca e tange à produção de petróleo. Quando o senhor Seixas Dória fez em primeiro lugar a comunicação houve prolongada salva de palmas no plenário.” Um parêntese: desde o princípio da exploração do petróleo já se falava na tão almejada auto-suficiência.

Com a descoberta do campo de Guaricema, Sergipe tornou-se o Estado pioneiro na exploração marítima do petróleo. No dia 24 de setembro de 1968, o engenheiro Ivan Barreto de Carvalho, diretor da Petrobras, foi oficialmente comunicar o fato (de importância econômica e política) ao governador Lourival Baptista. O Estado despontava como grande produtor, tornou-se sede da Região de Produção, e a empresa não parou mais de investir por aqui, inclusive atendendo a muitos pleitos de governadores. A Petrobras ajudou a construir a Adutora do São Francisco, construiu o Porto de Sergipe, perfurou poços de água, abriu rodovias, investe na cultura e no esporte.

Em 2003, a Petrobras pagou mais de R$ 109 milhões em royalties para Sergipe, sendo que R$ 55,5 milhões foram para os cofres do Governo do Estado e os R$ 53,6 milhões restantes rateados entre os municípios. Mas isso não é nada em comparação com os mais de R$ 500 milhões que a empresa gastou em contratos e serviços, compras, salários, energia elétrica, ICMS, ISS e outros pagamentos efetuados nas terras do cacique Aperipê.

E a cada ano o dinheiro que a Petrobras deixa em Sergipe aumenta 15%, que é a média de crescimento anual dos últimos anos. Com a entrada em operação do campo de Piranema, estima-se os gastos em Sergipe aproximam-se de R$ 1 bilhão.

O que é bom para a Petrobras é bom para Sergipe e os petroleiros se orgulham tanto disso que não esperam ocasião para dizer que em nenhum Estado brasileiro a presença de uma empresa causou tanto impacto quanto a Petrobras neste Estado, onde responde por cerca de 40% do PIB. O sergipano agradece: tim-tim.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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