O Pré-Caju e a mobilidade urbana

A livre locomoção pelo espaço urbano é um direito garantido constitucionalmente aos cidadãos brasileiros. O direito de ir e vir, de transitar livremente a pé ou por algum veículo, é parte fundamental do direito à cidade.

É esse direito que é negado a boa parte da população aracajuana por mais de dois meses, período em que ocorrem a montagem, os dias de festejo e a desmontagem de toda a estrutura da maior festa privada da capital sergipana, o Pré-Caju. Ruas são interditadas, pontos de ônibus desativados, ciclovias e calçadão fechados. Tudo isso durante os meses de dezembro e fevereiro, época em que muitos trabalhadores estão de férias e podem caminhar pelo calçadão durante o dia, momento em que crianças e adolescentes estão sem aulas e podem aproveitar melhor a ciclovia, ocasião em que turistas visitam Aracaju e desejam passear pela cidade.

Afinal, nunca é demais lembrar que a Avenida Beira-Mar não é apenas o local em que estão os maiores e mais caros prédios da capital sergipana. A Beira-Mar não é somente o lugar onde vive boa parte da elite aracajuana. A Beira-Mar é uma avenida central para a vida urbana em Aracaju, é a principal via de ligação entre as regiões Norte e Sul da capital, é uma importante conexão entre Aracaju e os outros municípios da região metropolitana.

Por isso, impedir a livre circulação – por carro, bicicleta ou a pé – pela Avenida Beira-Mar, durante dois meses, significa negar à população o direito à cidade.

Esse é um assunto que vai e vem está em debate na sociedade e na agenda política local, principalmente pelo Fórum em Defesa da Grande Aracaju que, vocalizando um desejo de parte considerável da população, reivindica a mudança de lugar de realização da festa.

Durante uma Tribuna Livre específica para discutir o tema na Câmara Municipal essa semana, o vereador Vinícius Porto criticou o Fórum em Defesa da Grande Aracaju por não apresentar uma nova proposta de local para a festa. Será que o atual presidente da Câmara esqueceu que foi eleito vereador, justamente, para discutir e, junto com a população, encontrar soluções para os problemas da cidade?

Não é dever da população sozinha apontar as soluções para os problemas. Essa é uma responsabilidade que deve ser compartilhada, de forma democrática, entre poder público municipal (Executivo e Legislativo) e sociedade.

Se entendesse dessa forma, o prefeito João Alves Filho faria bem em reverter a decisão de ceder em 2014 a Avenida Beira-Mar por dois meses para a Associação Sergipana de Blocos e Trios e convocar os órgãos públicos e as entidades da sociedade interessadas no tema para debater o local de realização da festa no próximo ano.

Por fim, acredito que discutir abertamente o local do Pré-Caju é importante porque diz respeito à mobilidade urbana, mas outros aspectos da festa também precisam ser discutidos a fundo pela população aracajuana, principalmente a relação do evento com os músicos locais e a cultura sergipana e a ausência de transparência sobre os recursos e patrocínios públicos envolvidos no festejo. Esses temas serão, certamente, tratados em outros momentos nessa coluna.

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