Eduardo Cabral Menezes fez carreira jurídica, como Promotor de Justiça, Procurador, Professor de Direito Penal, cumprindo com brilho invulgar uma carreira iniciada como Promotor substituto de Frei Paulo, quando ainda estudava na então Faculdade de Direito de Sergipe, e encerrada com a aposentadoria compulsória, aos 70 anos a serem completados no dia 4 de outubro de 2007. Nos 47 anos de intensa atividade laboral, Eduardo Cabral Menezes tornou-se um servidor público dedicado, fosse na Administração Pública, ocupando cargos e funções de destaque, e aí incluindo sua presença no Ministério Público do Estado, fosse na Educação, alternando a rotina das aulas com as Bancas Examinadoras, contribuindo para a cultura jurídica sergipana.
Honrado com outras posições, honrarias e prêmios, Eduardo Cabral Menezes acumulou em seu currículo um acervo de sucesso, que adorna sua biografia de septuagenário, e que, sem dúvida, não está encerrada. Elegante, sem demonstrar o efeito do peso dos anos, em tudo lembra o bom humor que manteve ao longo da vida, tanto nas derivações do trabalho, como tornou-se membro do Tribunal de Justiça Desportiva e membro do Conselho Regional de Desportos, ou quando aventurou-se nas filmagens, em bitola super 8 mm, de um longa metragem, com tema de faroeste. A vocação cinematográfica perdeu-se no tempo, como a de tantos outros, como Marcelo Deda, um cineasta do super 8 mm, ao lado de outros jovens que experimentaram a arte da imagem em movimento, à mesma época, como Marcos Prado Dias, que fez um antológico documentário sobre Te Ajeitando.
Sobrinho, pelo lado materno, do advogado, cronista, poeta e crítico Mário Cabral, um dos maiores intelectuais sergipanos de todos os tempos, de há muito radicado em Salvador, na Bahia, Eduardo Cabral Menezes herdou da família da mãe, Maria Antonia, onde estão incluídos outros parentes ilustres, como D. Luciano José Cabral Duarte, Arcebispo Emérito de Aracaju, seu primo, o poeta João Passos Cabral, o pensador Manoel Cabral Machado, a sensibilidade e o gosto pela literatura. Provocado, sobre o que faria da vida após deixar o Ministério Público, Eduardo Cabral Menezes escreveu um texto, começando por dizer:
“Não vai dar certo apresentar-me como ex-Procurador. Vou ter que arranjar uma
nova profissão. Pensei em ser industrial (o avô era grande salineiro e comerciante, o
pai era banqueiro – José de Faro Menezes, do Banco Dantas Freire . Mas teria que
produzir alguma coisa que não tivesse ainda sido fabricada para poder lograr
algum êxito. De repente, veio-me um estalo: água em pó. Não sei de alguém que
já tenha lançado tal produto no mercado.
Ao lado do leite em pó, do café em pó, do sal de frutas solúvel, que se usam sempre
diluídos, surgiria nas prateleiras dos supermercados a água em pó com a minha
marca.
Mas como se usaria?
Aí é que estaria o problema. Não tinha pensado nisso. Para se usar o produto
Ter-se-ia de dissolvê-lo em água, no seu estado natural, o que redundaria num
Círculo vicioso que retiraria, de sua vez, toda a praticidade da minha invenção.
Não vai dar certo, também, apresentar-me como industrial.
Mas agora estou com um plano que não tem como falhar.”
E continua a narrar os embaraços de uma situação nova, decorrente da aposentadoria, considerada mais que uma expulsória, uma extração, na seqüência de textos que poderia ser, adiante, transformada em livro. Eduardo Cabral Menezes, ou simplesmente Dudu Cabral, como costuma também assinar, tem uma verve que conviveu à margem dos seus escritos técnicos, Pareceres, Votos, e outros documentos produzidos pelo fazer funcional. Agora livre, tem pela frente os farrapos do tempo, para sedimentar com seus escritos a contribuição que deu a Sergipe, ao Ministério Público, a Universidade Federal de Sergipe, a Administração Pública, estadual e municipal. Ao Direito, ao Desporto, por onde desfilou sua inteligência, seu talento, seu preparo, como um dos maiores de sua geração.