Com muita honra recebemos a informação de que o Departamento Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Hepatites Virais do Ministério da Saúde nos indicou para fazer parte de documentário sobre a História dos 30 anos da Epidemia de AIDS no Brasil.
A nossa indicação nos leva a refletir sobre os grandes momentos e as dificuldades enfrentadas no início da epidemia do HIV aqui em Sergipe.
Entre os grandes momentos, lembramo-nos da nossa irrequieta maneira de procurar sempre lançar novidades na prevenção. Criamos a primeira unidade móvel para a prevenção no país, denominada, carinhosamente, de “Ônibus Vermelho da AIDS”, que foi destaque em um dos programas da Rede Globo (Jornal Nacional). Um ônibus com vídeo e televisão, para divulgar a prevenção, de forma itinerante. Lançamos o primeiro joguinho educativo sobre a AIDS, para estudantes. Lançamos as primeiras campanhas de prevenção regionalizadas (festas juninas, carnaval), com peças publicitárias adequadas a cada público alvo (caminhoneiros, profissionais do sexo, candomblés, professores, detentos). Fizemos o primeiro alerta, a nível nacional, através do Programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, sobre o risco de infecção pelo HIV nas práticas do uso das navalhas nos rituais de iniciação nos terreiros. Lançamos o “Camisildo”, o único veículo em forma de camisinha do mundo, com o objetivo de divulgar o uso da camisinha de forma bem humorada, durante o pré-caju e ostras festas populares. O “camisildo” também foi destaque em rede nacional e nos levou a receber um prêmio em um Congresso de DST, no Rio de Janeiro. Mais recentemente, tivemos a ideia de transformar um micro-ônibus que estava totalmente sucateado, em uma unidade móvel de grande utilidade, para a oferta dos testes rápidos, para as populações vulneráveis. Com o nome de “Unidade Móvel Fique Sabendo”, vem ajudando os municípios nas ações de testagem com aconselhamento.
Entre as dificuldades enfrentadas, destacamos a permanente luta contra o preconceito e as atitudes de discriminação de empresas, escolas e até de alguns profissionais de saúde. Envolvemo-nos em várias situações difíceis, com relação, por exemplo, a escolas que rejeitavam crianças soropositivas, médicos e odontólogos que não queriam atender pessoas HIV positivas empresas que queriam demitir colaboradores soropositivos e até familiares de pessoas soropositivas que isolavam seus “entes queridos”. Fomos também alvo do próprio preconceito, quando as pessoas começaram a se afastar do nosso consultório, alegando “medo da AIDS” ou que “o povo ia pensar que tinha AIDS se fosse ao consultório do Dr. Almir”.
Algumas dificuldades foram encontradas com relação aos gestores municipais e estaduais. As mudanças de gestores, em algumas vezes nos levava a “começar tudo de novo”, pois cada gestor tem uma visão sobre o problema da AIDS e sobre o nosso trabalho. Uns diziam que “nós aparecíamos muito e ofuscávamos o brilho do gestor”. Outros diziam que “para que investir em comprar camisinha, o governo vai gastar dinheiro para o povo transar”. Chegamos a ouvir a seguinte frase: “Almir você só quer falar de AIDS, enquanto muita gente está morrendo de acidente de moto. Acho injusto investir em prevenção da AIDS”. Em alguns eventos onde estavam personalidades da política sergipana, já fomos rejeitados. Diziam assim: “Não chame Dr. Almir para o evento, pois se não a mídia vai dar atenção a ele e não a mim” ou “não chame Dr. Almir, pois ele é a favor do governo”. Outros diziam “ Dr. Almir é contra o governo”.
Por outro lado, na nossa caminhada, sempre encontramos pessoas que nos motivam a continuar na luta. Os verdadeiros amigos, os parceiros fieis, os colegas e familiares que respeitam e sempre estão incentivando a realização do nosso sonho: lutar pela saúde pública do nosso país. Portanto, compartilhamos a nossa alegria com todos, pela importante escolha do nosso nome, para fazer parte do documentário que contará a história de luta no enfrentamento à epidemia do HIV no Brasil.