O resto é “Fora, Dilma!”

Vive-se um período de pouco respeito à regra, em quase ausência de Ordem.

Embora muitos não pensem assim, considero terrível o momento de caos em que estamos mergulhados.

Uma época lamentável porque tudo acontece em meio ao “pleno estado de Direito”, algo que era o sonho para todos os anseios daqueles da minha geração que se sentiam infelizes sob o arbítrio do regime militar e reclamavam em demasia, almejando a liberdade sem maiores compromissos.

Não era assim que urravam os daquele tempo, enquanto sonho coerente ao que vigia no mundo?

“É proibido proibir!” (Il est interdit d’interdire!), gritavam em 1968 os alunos da Sorbonne, invocando tudo e mais alguma coisa, sem compromissos.

Inclusive o desejo inesquecível de poder dormir com suas namoradas nos alojamentos estudantis…

Se na França estava assim, do lado de cá no abaixo do equador, tal conquista no campo do livre amor não semeava tanto anseio. Éramos mais respeitadores com as nossas namoradas…

{Um assunto que bem merece a inclusão de uma chave, só para consignar e enaltecer uma inocência vigente, porque por suprema maioria, sonhávamos conhecer biblicamente nossas namoradas somente após o casamento. Isto num sonho bom,  muito bom; sem dissimulação nem apressamentos.

É bem verdade que nem tudo era assim, valendo bem inserir um colchete para confirmar exceções: [Havia os apressados; sim! Alguns se acasalavam de forma explícita, virando notícia nacional em seus arroubos mal contidos. Houve um caso inclusive que gerou uma reportagem numa revista de circulação nacional, tipo O Cruzeiro, Manchete ou Fatos e Fotos, intitulada “Os Tupamaros do Amor”.

Diga-se em parêntese explicativo a ser inserido no colchete e na chave, que (o nome Tupamaro vinha do grupo guerrilheiro que atuava lá pras bandas orientais do Uruguai.

Explicação que se faz necessária porque nas areias da Atalaia Nova ou Velha, os Tupamaros de Aracaju não queriam fazer a guerra. Só o amor os interessava. Que fosse eterno enquanto durasse, em fugacidade jocosa, piada promíscua indecorosa ou sofisma de genialidade.

<Tesões de genialidade à parte, naquele tempo só havia uma esclerose broxante; era a peroração de Nelson Rodrigues endereçada a nós todos que queríamos fruir e gozar num mundo melhor: “Jovens, envelheçam!”, dizia “o anjo pornográfico”, posando de “reacionário”.>

Conselho que agora impõe o fechamento de todos os símbolos seja o maior > ou menor do que <, passando pelo parêntese), colchete] e  chave.}

O menor < e o maior do que > podem bem delimitar a verve Rodrigueana ferreteando a todos nós, jovens universitários de então, com a sua mordacidade incisiva e saneadora.

Um convite à racionalidade, freio que rejeitávamos sobremodo, afinal nos achávamos super-homens, nos acreditando imperecíveis querendo socializar o mundo, satanizando o capital.

O Estado, para nós, iria suprir todos os anseios. E o Estado brasileiro, sob nosso comando, iria primar pela eficiência e ordem.

Estado que ficou mais indefeso perante tantos escroques que surgiram, dele se locupletando incessantemente para si, sua parentela e corriola, depois que os militares foram embora e com eles a cassação presta e certeira.

E os militares foram banidos sem vingar heróis, sendo continuamente denegridos como sanguinários e violentos em simuladas “Comissões de Verdade”, conciliábulos missionados para a caça às bruxas por cobardice e desforra, sem falar de outras intenções pulhas que as permeiam e motivam.

Daquele tempo, caracterizado pela ordem e seriedade, restou saneado o próprio avanço na História.

Quando os militares se retiraram às casernas, o comunismo não era mais festejado nas tabernas, nem luzia na escuridão das suas cavernas. Perdera o mote e a aura inspiradora de tantos descaminhos.

A “ditadura do proletariado” restou um pesadelo tão terrível quão abominável. Algo bem diferente daquilo executado pelos  nossos Generais-Presidentes; sérios, probos e dignos, a desafiar a própria História e seus manipuladores.

Sim! A missão dos militares estava cumprida. Não precisava de mais nada, mesmo que alguns assim a desejassem mais rija no manejo do porrete.

Hoje, ninguém poderá dizer que não houve golpes e contragolpes contra o ressurgimento da democracia, tendo esta sido possível somente com a necessária “abertura lenta, gradual e segura”.

Tão segura e parcimoniosa que o neologismo ditabranda suaviza dia-a-dia aquela “sanguinária ditadura”, por suprema impotência das “Comissões de Verdade” em erigir a veracidade acima de facções e patrulhamentos hostis.

Neste particular de pouco apuro, e num esgar esconjuro de anuro, vale mais o decreto e o excreto de tornar o feito não feito, até porque o perdão foi concedido com a anistia, um feito também dos militares, e se assim não fosse o tempo referendaria a inocência por prescrição.

E se assim não fosse também, até por estultice sempre é possível refazer a história em piada, vingança ou ironia.

Não foi assim com o esqueleto de Oliver Cromwell desenterrado da Abadia de Westminster, só para ser decapitado e pendido na torre de Londres e a exumação de Inês de Castro para ser entronizada como Rainha de Portugal, com direito a beija-mão de sua corte desafeta?

Por que não refazer a História se esta mais permeia a versão que a exatidão? E agora mais ainda com efeitos digitais de Photoshop?

Em meio a alguma violência não contida, alguns foram surrados, outros se dizem cruelmente torturados, poucos heróis em luta renhida.

Quando os militares foram embora, o mundo já abominava o Comunismo. Estava afastado o perigo que nos rondava por muito tempo. Uma demora suficiente, inclusive, para que tantos guerrilheiros subversivos pudessem perlustrar e relustrar a sua história, posando de gladiadores da liberdade.

“Ó Liberdade, quantos crimes são cometidos em teu nome” (“Ô Liberté, que de crimes on commet en ton nom!”), gritou virilmente Manon Roland antes que os jacobinos raivosos lhe separassem a cabeça do pescoço.

Quantas injustiças são desferidas contra as nossas forças armadas só porque sua missão saneadora não cedeu à sanha dos radicais! Teria sido melhor conclusa se o pranto fosse maior?

Se o choro fosse mais forte seria possível sanear melhor o país?

E seria isso possível se em nossa terra mais vale heroicizar aquele que bem sabe se apropriar do poder, em permanência de mordomias, quando não de impunidade?

Que dizer de tantos processados e jamais julgados em séries intermináveis de recursos onde a lei é feita para beneficiar o erro, quanto maior é o seu calado?

E nesta terra de tantos anões e ladrões, não é lúcido permanecer calado mesmo vendo a ganga imperando e a sujeira a todos impregnando?

Por ventura alguém pode se contemplar verdadeiramente em boa imagem no espelho da ancianidade em que envereda agora os da minha mocidade? Alguma pessoa que estaria imune ao malho viril de um juiz como o Sérgio Moro de Curitiba, alguém cujo agir é um ponto singular fora da curva de acomodação e inoperância, que é “regra sábia de sobrevivência”?

Se todos escapam deste fuliginoso retrato, não será tolice acreditar na lei e na ordem?

Quem, num olhar de entorno e circunstância, não enxerga tal misto de decepção e aridez, contemplando excedente parasitismo, compadrio e nepotismo, em ausência total de integridade?

Sou neste particular um pessimista, jamais um revoltado. Um decepcionado apenas.

Se “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, em diletante poetar de um “fingidor”, eu me apequeno em desesperança ao ver o noticiário confirmar a dificuldade de punir os que erram.

Aliás, esta palavra punir está fora do nosso jargão contra o erro.

Aqueles que erram devem ser ressocializados, reeducados, reinseridos na sociedade, com amplo amplexo caridoso, jamais castigados.

Basta-lhes que o juiz lhes dê a absolvição como os padres no confessionário exigindo-lhes um gaguejo de meia Ave Maria e metade do Pai Nosso. Sem Credo, Salve Rainha ou Santo Anjo do Senhor.

O brasileiro será sempre o nosso zeloso guardador no erro comum de todos.

O resto é “Fora, Dilma!”, como gritam os tolos.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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