O rio Sergipe e sua identidade (II)

O efeito imediato da conquista de Sergipe foi a ocupação da terra, desde o rio Real até o rio São Francisco, no movimento contínuo do sul para o norte, com rumos transversais, junto aos afluentes dos grandes rios: Real, Piauí, Vaza-barris, Cotinguiba, Japaratuba e São Francisco. A ocupação do território da bacia do rio Sergipe começou em em 1594, quando Tomé Fernandes localizou-se além das margens do rio Cotinguiba. Em seguida foram ocupadas as terras junto ao Comendaroba, ao Ibura, ao Aracaju, ao Cotinguiba e ao Sergipe, áreas onde nasceu a lavoura de cana-de-açúcar, que fez da região a mais rica de Sergipe.

 

A ocupação das terras ao longo do rio Sergipe permitiu, a partir de 1600, a presença de dezoito sesmeiros, em poucos anos, continuando por todo o século XVII, quando os criatórios de gado expressavam a pujança sergipana. Em 1642, vinte e oito proprietários de terra mantinham, nas margens do rio Sergipe e dos seus afluentes, os seus currais de gado, de acordo com a relação apresentada por Domingos Cruz Porto Carrero, em exposição entregue ao Conde Maurício de Nassau e Alto Conselho, sobre o povoamento de Sergipe e do rio São Francisco. Embora sem data, a relação está entre os documentos dc 1642, dos manuscritos do Instituto Arqueológico de Pernambuco.

 

Os currais de gado pertenciam a Sebastião da Silva, Francisco de Castro, Silvestre Fernandes, Antonio Fernandes, Lourenço de Souza, Gaspar de Souza, João de Almeida, Manoel de Amorim, Braz Rabelo, Bastião da Silva, Catarina Ata Vinea, Antonio de Azevedo, Bernardo Correia, Martim de Souza, Aires da Rocha, o Cavalcanti, os Rocha, Antonio da Costa, os Guarajás, Jordão de Salazar, Maria Teles, Afonso Pereira, João Carvalho, padre frei Manoel, Pedro Álvares, Ana Ferreira e Gaspar Fernandes.

 

O século XVII colocou no imaginário europeu e brasileiro a existência de minas de ouro e prata, de cujo segredo apenas o colono Belchior Dias Moréia, que tinha terras próximas ao rio Real, sabia. Itabaiana, com sua serra, atraiu a cobiça de portugueses, espanhóis, holandeses, brasileiros e outros que projetavam suas riquezas nas descobertas sergipanas. Todo o século, praticamente, e parte do século seguinte, foram dedicados às minas de Itabaiana. Em 1630, em carta ao Conselho dos XIX, datada de Olinda, em 2 de abril, noticia-se que “está de partida para a Holanda um português, chamado Simão Drago, que dá notícia de uma mina de ouro e prata em Sergipe. Simão Drago conhecia bem o território sergipano, pois era pai de Antonio de Azevedo, um dos proprietários de curral de gado no vale do rio Sergipe.

 

Em 1639 Bento Jorge Borges entra em entendimento com o Alto Conselho para negociar a revelação de certo segredo. O segredo era a de certa mina de prata, havendo a respeito diversas notícias sobre a tentativa, feita por ele, para atingir as minas de Itabaiana. Em 1645 Bento Jorge Borges foi submetido à Inquisição. Dom Rodrigo Castelo Branco, que acumulava a experiência nas minas de prata do Peru, foi nomeado pela administração portuguesa, Administrador-geral das Minas de Prata de Itabaiana, nos anos setenta do século XVII, passando a morar em Itabaiana, e procurando em todo o território sergipano a riqueza lendária de suas minas, que estimulava mais ainda o imaginário brasileiro, desde a morte de Belchior Dias Moréia, em 1622.

 

As afamadas minas nunca foram achadas e exploradas, mas o salitre de Sergipe, comum nas barrancas do rio Sergipe e nas dos seus afluentes, sedimentou um convicção em torno da riqueza mineral, que perdura até os nossos dias. Foi a partir das pesquisas feitas no território sergipano, tanto as de salitre, quanto as de ouro e prata, que o Brasil acabou descobrindo em Jacobina, na Bahia, e depois nas Minas Gerais, a riqueza que procurava. O território sergipano iria, nos séculos seguintes, conciliar a sua criação de gado, com a produção de açúcar.

 

(Continua)

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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