O RIO SERGIPE E SUA IDENTIDADE

SERGIPE não é topônimo único na geografia brasileira. Apesar de ser um nome forte para a nossa história permanente de lutas, Sergipe era a ilha, na Guanabara, onde a frota francesa chefiada por Nicolau Villegaignon fundou o Forte Colligny, instalando no Brasil a França Antártica, em 1555. E era, também, um rio importante da Bahia, onde o governador Mem de Sá escolheu terras para montar seu engenho de açúcar. A morte de Mem de Sá, em 1572, fez passar o seu engenho para o Conde de Linhares, passando a região a ser denominada de Sergipe do Conde.

Também o nosso rio Sergipe recebeu franceses e outros aventureiros, nos primeiros tempos da colonização. Na terra sergipana os huguenotes, protestantes perseguidos pelos católicos, na França, queriam ocupar o Brasil. Aqui eles travaram contato amigo com os indígenas, ensinaram o uso das armas de fogo, como atesta a Carta de Sesmaria dada a Braz de Abreu, que no seu requerimento diz: “…por estarem em companhia do dito gentio e lhe ensinava o artifício do fogo por terem muitas espingardas, que lhe ficaram de cento e cincoenta que tinham mortos havia três anos na Itabaiana, nos três pucos hora queria os ditos frenceses por mar e o gentio por terra a tomar a Bahia, se não lhe viera dar guerra o dito governador Cristóvão de Barros.”

A guerra de Sergipe, ou a conquista empreendida no final do ano de 1589 e começo do ano de 1590, teve antecedentes importantes ligados ao rio Sergipe. Em 1575 os jesuítas empreenderam uma catequese e atravessaram o rio Real, reunindo os indígenas em aldeamentos. A catequese, chefiada pelo padre Gaspar Lourenço, que trazia em sua companhia o irmão João Salonio, não teve, no entanto, maiores conseqüências. Logo em seguida, o governador Luiz de Brito provocou as nações indígenas sergipanas e o resultado foi o destroçamento dos primeiros núcleos fundados e orientados pelos jesuítas.

O território sergipano tinha no rio Real uma fronteira com a Bahia, Capitania, ao sul da qual Sergipe fazia parte, e tinha, com o rio São Francisco, a sua fronteira norte. Era, por conta disto, um território livre, rico de madeira, salitre e boas terras. A necessidade de abrir caminho entre as Capitanias da Bahia e de Pernambuco animava as autoridades a penetrarem e dominarem o território e os rios sergipanos, onde já estavam os franceses protestantes, e os negros, principalmente oriundos da Guiné, fugidos da Bahia. A existência do salitre, matéria prima da pólvora, determinava a ação bélica do domínio da terra sergipana.

No Regimento Geral entregue ao governador, nomeado, do Brasil, o fidalgo Francisco Giraldes, em 1588, a Coroa portuguesa, então subordinada ao domínio da Espanha, determinava a guerra aos indígenas de Sergipe. Morrendo antes de viajar para o Brasil, Francisco Giraldes deixou que as suas ordens fossem cumpridas pelas autoridades interinas da Bahia. E assim, Cristóvão de Barros, uma das autoridades, formou um verdadeiro exército de aventureiros, soldados, reforçados por homens de Garcia d’Ávila, e invadiu o território sergipano, trazendo os seus guerreiros para as praias próximas da foz do rio Sergipe, que estava na melhor posição para penetração ao interior da rica e livre terra. O massacre de Cristóvão de Barros, que matou e cativou milhares de indígenas, teve seu final no dia 1º de janeiro de 1590, quando o conquistador hasteou a sua bandeira, fundou, com foros de cidade, a povoação de São Cristóvão, em honra de D. Cristóvão de Moura, fidalgo que representava Felipe II, da Espanha, na administração portuguesa. O conquistador de Sergipe tomou posse das terras, separando, de já, uma vasta região, para o norte, desde a margem do rio Sergipe e até o rio São Francisco, o maior dos feudos.

Alguns autores indicam o cenário da guerra nas areias atlânticas entre os rios Vaza-barrís e Sergipe. Para uns, o fortim construído para guardar a nova cidade de São Cristóvão, teria sido erguido às margens do rio Sergipe. Diogo de Campos Moreno, no seu Livro que dá razão do Estado do Brasil, em 1611, coloca na margem do rio Sergipe o equipamento militar. Já Gaspar Barléus, o historiador do Brasil holandês, vai mais longe colocando o forte no lado esquerdo do rio Sergipe, ou seja, na Ilha de Santa Luzia, hoje Barra dos Coqueiros. Como Barléus escreveu sua história sem ter vindo ao Brasil, tira-se por menos a cartografia do seu livro. Jamais foi determinado, com segurança, o local da guerra de Sergipe, bem assim da primeira cidade de São Cristóvão, fundada sob a invocação de Nossa Senhora da Vitória. (continua)

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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