O Sol e a Alquimia (I)

Foi Ptolomeu, astrônomo, geógrafo e matemático grego, nascido provavelmente no ano 90, falecido com 78 anos, com atuação científica entre os anos 140 e 160, quem colocou a terra como centro do universo. Seu Sistema do mundos  mapas celestes e terrestres foi adotado por muitos séculos, como base de uma discussão cindida entre o religioso e o científico.

O Cosme, autor da Topografia cristã , publicada no ano de 536, combateu o Geocentrismo de Ptolomeu, baseando as suas afirmações nas Sagradas Escrituras. Sua obra, de 12 volumes, abre caminho para que a ciência dos séculos XVI e XVII promova uma revolução, com o polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) e o italiano Galileu Galilei (1564-1642) retirando a Terra do centro sua universo, para colocá-la em torno do sol, girando em translação. Para Copérnico – A revolução dos corpos celestes , 1543) não era a Terra e sim o Sol o centro ao redor do qual giram os demais planetas.

O Heliocentrismo (de Hélio, voz grega de Sol) deu à ciência um momento afirmativo que enfrentou a resistência da Igreja católica ao longo do tempo e consagrou tanto  Copérnico, como Galileu, que reforçou com provas astronômicas o Heliocentrismo, sendo por duas vezes visita da Inquisição, que o queria submetido aos seus dogmas. A ciência, em certa medida, recupera uma cultura antiga, mitológica, que faz do Sol um astro-rei garboso, como olho onividente do céu.

Sem dúvida que a Terra é um astro bem diferente dos demais, porque somente nela coexistem, estavelmente, os estados líquidos, sólido e gasoso da água, é o único planeta com atmosfera composta principalmente de nitrogênio e oxigênio, o único, enfim, com vida e vida inteligente, conforme o saber científico vigente. Mas não é, decididamente, o centro do universo. O Sol, com sua potente energia, emitida continuamente, é que fica no centro de um sistema que ocupa um minúsculo espaço, situado na borda de um dos braços da Via Láctea, distante uns 33 mil anos-luz do centro. Vulgariza-se, para que se tenha uma idéia de distância, que o Sol necessita entre 225 e 250 milhos de anos terrestres, para dar uma volta completa ao redor desse centro (ano cósmico).

O dia solar médio é a medida do tempo que representa o intervalo entre duas passagens consecutivas do Sol sobre o meridiano do lugar, na média ao longo de um ano um dia é igual a 24 horas. O dia sideral, que representa o tempo necessário para uma rotação completa da terra, em torno do seu eixo, é aproximadamente igual a 23 horas, 56 minutos, 4,9 segundos, Sol e Terra, para a ciência e para a cultura, têm mais que seus movimentos e energias, têm fartos repertórios, mitos, ritos, tradições, que estão no cotidiano das pessoas.

Embora seja a Terra a girar em torno do Sol, como ensina a ciência, é o Sol que “nasce” e que se põe, ou “morre” todos os dias, como atesta a cultura. O “nascer” do Sol tem como lugar o oriente, e o por do sol o ocidente. Henrique Kyenke, tantas vezes citado por Tobias Barreto, divide o povo em três grupos: os solares, os planetários, e os de transição. Os solares são os de lado “diurno”, os planetários “noturno” e os de transição são os “crepusculares.” Há, nitidamente, fatos culturais, da tradição popular, que são diurnos e outros que são noturnos. E assim como o Sol reina durante o dia, a lua, satélite e por isto mesmo filha da terra, é a rainha da noite.

O dia começa com o canto do galo, animal solar em várias culturas, e parece fazer renascer a vida, como se o por do sol fosse a morte, que mergulha a noite recarregando a esperança do renascer luminoso, todos os dias. Os solstícios, de verão e de inverno, dão grande importância ao Sol e as fogueiras, que aqui entre nós aquecem as noites juninas, servem para revigorar a força vital dos astros, quanto este tem a sua luz decrescente. Na alquimia o Sol simboliza o princípio fixo da matéria, o enxofre macho que se encontra com mercúrio, fêmea lua. Os alquimistas chamam o Sol in nomine a força invisível, procedente do Sol que favorece o fogo nativo do ser humano, a fonte de energia calórica que condiciona a temperatura do homem.

A luz do Sol é o que espanta os fantasmas, os lobisomens, as figuras míticas, tão comuns no populário, como no folclore conotado, no qual valores e emoções, sentidos e costumes herdados se mesclam, no laboratório imenso de variedades. no Brasil o Sol permanece varão, com seu facho quente, fecundando a Terra, e, no Nordeste, secando sem piedade o solo, queimando as lavouras, deixando com sede as crianças, semeando um desespero inclemente, que só com a chuva minora. A relação do homem e da mulher, do sertão com o Sol e com a chuva difere da relação consagrada pela cultura, do Sol com a Terra e, da extensão, com a lua.

Existe todo um cenário de Sol e lua na mitologia indígena, na história, no inconsciente e no imaginário, sem que haja a noção contextualizada da ciência e da cultura, que reponha as verdades de uma e os usos da outra. Na paráfrase a Galileu se pode dizer: é a Terra que roda seu charme junto ao Sol, todos os dias, renascendo na imensidão azul do céu ao clarão dos astros, ou na penumbra da noite pontilhando velhas luzes estrelares. (continua)

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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