O Tesouro de Jaboatão não foi a única utopia de riqueza entre os sergipanos. Itabaiana, com sua vestuta serra, atraiu dezenas de aventureiros, em busca da prata de Belchior Dias Moreya e por mais de dois séculos alimentou entre os brasileiros o sonho rico de uma vida folgada. Belchior Dias Moreya, nascido no Brasil por volta de 1540,tinha suas fazendas junto a serra do Canini, nos sertões do rio Real (hoje município de Tobias Barreto), entre os rios Real e Jabiberi. Belchior Dias Moreya era primo do cronista Gabriel Soares de Souza, cronista e explorador, morto em 1592 e com ele aprendeu a varar os sertões da Bahia e de Sergipe, em busca de ouro e prata. As supostas minas de Itabaiana, descobertas e guardadas no mais profundo segredo pelo fazendeiro sergipano, despertaram a cobiça internacional. Pedindo mercês em troca da informação sobre o local das minas, Belchior Dias Moreya foi a Portugal e de lá à Espanha, em 1600, demorando-se 4 anos, sem sucesso. Voltaria duas vezes a Europa e nas duas viagens novos insucessos. Os governadores Luiz de Souza, de Pernambuco, e Francisco de Souza, da Bahia, marcaram encontro com Belchior Dias Moreya e viajaram juntos para Itabaiana, para marcar a localização das minas. Negando-se a mostrar o local, enquanto não fosse recompensado com as mercês, Belchior Dias Moreya foi preso e passou dois anos na cadeia. Domingos Fernandes Calabar (1600-1635), que os portugueses tiveram como traidor, foi guia de uma expedição holandesa a Itabaiana, em procura do ouro e da prata. Belchior Dias Moreya morreu em 1619, deixando um filho – Rubério Dias – com uma índia cariri da aldeia de Geru -, que não levou adiante a utopia mineral sergipana. O Governo brasileiro nomeou D. Rodrigo Castelo Branco para Administrador Geral das Minas de Itabaiana e editou o Regimento Geral das Minas do Brasil, como conseqüência das incessantes buscas pelo ouro e pela prata em várias partes do território. Coube ao neto de Rubério Dias, bisneto de Belchior, rebuscar os velhos roteiros, a partir das terras do morgado do velho descobridor e sertanista. Chamava-se Belchior da Fonseca Saraiva Dias Moreya, apelidado o Moribeca, O século do Moribeca foi, também, o da expulsão dos jesuítas do Brasil, seqüestrando-se todos os bens de que estavam de posse. Em Sergipe os bens eram: as sesmarias concedidas ao tempo da fundação da Capitania e prédios na Tejupeba; em Jaboatão; no local denominado Retiro, próximo a atual cidade de Laranjeiras; terras perto da hoje cidade de Maroim; terrenos em Japaratuba; e algumas residências espalhadas. Em Jaboatão os jesuítas construíram o mosteiro, um cruzeiro de pedra e a igreja dedicada a Nossa Senhora das Agonias. Segundo José Bezerra dos Santos, o autor do romance O Tesouro de Jaboatão, “os cristãos que se aproximavam daquele abrigo ofereceram-se, voluntariamente, para executarem a escavação de um enorme subterrâneo, sob o monte, o que fizeram um labirinto e largos corredores, onde foram encerrados os bens mais preciosos da igreja, para ficarem a salvo das incursões dos flamengos, protestantes, inimigos da Igreja, que avançavam sertão adentro”. O escritor coloca de forma ampla a questão da proteção dos bens da ordem religiosa. Para ele o Tesouro de Jaboatão não foi deixado, no século XVIII, quando da expulsão dos jesuítas, mas estava guardado desde o século anterior, por temor da presença holandesa em Sergipe, especialmente nas margens do rio São Francisco. Não haveria, então, um Tesouro deixado de última hora, mas uma acumulação de riquezas, bem protegidas de todas as investidas que pudessem ameaçar a segurança dos bens. A tese estaria fundamentada na ação do Vaticano, em 1630, de recolher a rica imagem de Nossa Senhora das Agonias, salvando-a, preventivamente, de um assalto por parte dos flamengos. A ser confirmado, documentalmente, a remessa da imagem da primeira padroeira para Roma, naquela data – 1630 – o convento de Jaboatão seria bem mais velho do que se sabia. Os registros esparsos indicaram, sempre, que em 1694 os jesuítas já estavam com sua fazenda e “Residência de Jaboatão no rio de São Francisco. ”Sabia-se, também, que o padre João Nogueira, Procurador das Fazendas de Sergipe, e o irmão carpinteiro Francisco Simões, que fizeram as obras da Fazenda Tejupeba, moravam em Jaboatão. Em 1757, quando os vigários das diversas Freguesias sergipanas fizeram o levantamento informacional da vida sergipana, o pároco de Vila Nova (hoje Neópolis) assim tratou de Jaboatão, como uma Fazenda Modelo “com sua igreja de Nossa Senhora do Desterro, bem ornada e aprazível, além do mesmo Hospício e morada dos religiosos ser muito claro e vistoso e saudável com as casas de seus escravos arruadas, e tudo com muita direção.” Em 1760, o Edital da Junta pondo em arrematação os bens, estavam declarados: “Seis moradas e casas, chãos e foros na cidade de São Cristóvão de Sergipe del Rei, a Fazenda de Jaboatão e de Tejupeba e suas anexas, com casas de moradores, currais, gados e escravaturas, no distrito da Comarca de Sergipe del Rei.” O impacto do noticiário de maio de 1931, especialmente pelo jornal A Tribuna, pondo em relevo o Tesouro de Jaboatão recupera um conjunto de informações antigas, algumas mescladas pelo mito das terras ricas do Novo Mundo, ou pela utopia de cidades e tesouros abandonados, riqueza em ouro e prata sem donos que pudessem requerer a posse. Vale notar, como exemplo, a disputa que o noticiário sobre o Tesouro de Jaboatão estabelece entre a Igreja, que seria a proprietária original das terras, o “inventor”, denominação a lei dava, então, ao descobridor do Tesouro, e o Estado, que representaria o interesse público e a melhor interpretação do direito. Pedro de Alcântara e seu amigo e confidente Raimundo Miguel dos Santos sem consciência do que faziam, puxavam o fio de uma longa meada em torno de fatos da história, envolvidos pela força do imaginário, com poder de atrair e motivar a população sergipana. Há muito, ainda, a aprender sobre o Tesouro de Jaboatão e sobre outros episódios da história sergipana. (continua) Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”